“Cuidados paliativos não se restringem a casos terminais”, diz enfermeiro

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O cuidado paliativo é a especialidade da medicina que visa o controle de sintomas e a qualidade de vida dos pacientes. Segundo a professora e preceptora de prática, Simone Vita, o cuidado paliativo não se restringe apenas a casos terminais. 

Médicos fazem treinamento no hospital de campanha para tratamento de covid-19 do Complexo Esportivo do Ibirapuera.

“O cuidado paliativo não é apenas para uma pessoa que não tem cura. Alguém que tem uma doença crônica, que compete com a morte, já pode ser assistida por uma equipe paliativa.”

De acordo com a profissional, o tratamento realizado vai além de simplesmente cuidar do paciente. Como descreve, paliar proporciona para pessoas em sofrimento crônico um tratamento humanizado e digno, seja na esfera física, emocional ou social.   

“Há muitas pessoas que têm um adoecimento psicológico diante de uma demanda do corpo físico, ou social, ou familiar, ou monetário. Tudo isso permeia o cuidado paliativo.”

Desgastante

O início do tratamento paliativo normalmente é dado através de uma recomendação médica, contudo apenas quando diversas alternativas de tratamento são descartadas. 

Essa prática, na perspectiva de Felipe Favilla, enfermeiro paliativo do Hospital de Apoio (HAB), deve ser repensada vez que que o paciente passa por um processo fisicamente e emocionalmente desgastante até finalmente ser direcionado para os cuidados paliativos.  

“A indicação do cuidado paliativo é concomitante ao diagnóstico. Agora, muitas vezes esse paciente só vai ser considerado eletivo para isso quando ele já tiver exaurido todas as possibilidades e tiver sido castigado com tratamentos que são custosos para o corpo, a alma e o espírito”, explica.   

Assim, a prática paliativa ainda é vista com hesitação tanto fora quanto dentro da área médica-hospitalar, o que, em resposta, traz mais dor para os pacientes que lidam cronicamente com suas enfermidades.  

“Muitas vezes o cuidado paliativo é dado como um prêmio de consolação, e essa é uma cultura que precisa ser mudada”, afirma Felipe.  

Conscientização

Para ambos profissionais, a comunicação clara e direta seja com o paciente, familiares, e outros setores da população é essencial para a conscientização e desestigmatização dessa prática. 

“Muita gente nem sabe que está apto para receber esse cuidado”, destaca o enfermeiro. 

De acordo com projeções do IBGE de 2024, até 2070 cerca de 37,8% da população brasileira será idosa, algo que para Felipe e Simone também corresponde ao crescimento de doenças graves, crônicas ou terminais e, consequentemente, o aumento na demanda de cuidados paliativos. 

É importante ressaltar que a conscientização também se enquadra para profissionais da área de saúde que trabalham na linha de frente e observam esses casos em pacientes. 

Felipe conta que atuou por cinco anos como intensivista na área da UTI antes de ser nomeado ao Hospital de Apoio e, na época, se surpreendeu ao descobrir que não havia o carrinho de parada – equipamento de emergência utilizado para a ressuscitação de pacientes que sofrem de paradas cardiorrespiratórias. 

“Eu caí de paraquedas na unidade de cuidados paliativos exclusivos e me disseram: ‘Aqui nós não reanimamos os pacientes, aqueles que vêm para cá tem outra proposta’. Foi preciso desaprender aquilo que eu já sabia.” 

Ainda nesse mérito, Simone complementa ao explicar que compreender a área paliativa é uma “reversão da lógica” que muitos têm de que a medicina sempre deve curar alguma patologia: 

“Ter contato com o cuidado paliativo é mudar o paradigma daquilo que aprendemos na faculdade.”

“Novidade”

A Política Nacional de Cuidados Paliativos, instaurada em 2024 pelo Ministério da Saúde, tornou disponível o cuidado paliativo através do SUS.  

Apesar de recente, os profissionais veem essa política como um ganho para a sociedade como um todo e acreditam que medidas como essa são o caminho para a disseminação e aceitação dessa especialidade. 

“Acho que com o tempo, e com novas políticas sendo criadas, a população vai ter mais acesso ao cuidado paliativo e os próprios profissionais vão mudar a forma de enxergá-las e comunicá-las aos pacientes e seus familiares”, diz Simone.  

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Por Maria Paula Valtudes

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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