Neutralidade garante acesso à ajuda humanitária, diz porta-voz da Cruz Vermelha em Gaza

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Em meio ao cessar-fogo entre Hamas e Israel e uma enxurrada de narrativas polarizadas, a porta-voz do Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) na região, Sarah Davies, explica que é a neutralidade que garante acesso à ajuda humanitária.

Foto: CICV/Divulgação

Ela defende a capacidade de diálogo com todas as partes tendo em vista o direito internacional humanitário para proteger civis e facilitar ações cruciais, como a recente troca de reféns e detentos palestinos.

Delicado equilíbrio

Ela explica que, em um cenário de conflito polarizado, o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) atua em um delicado equilíbrio: o de ser uma organização neutra e, ao mesmo tempo, uma voz para o sofrimento civil.

Para a porta-voz, que na região há dois anos e meio, a neutralidade não é silêncio, mas a ferramenta que garante a vida. Em meio a um intenso debate de narrativas, Sarah Davies ressalta que há desafio da percepção externa, incluindo a desinformação, as narrativas prejudiciais e a desumanização.

“Todas essas podem alimentar como o mundo percebe alguns grupos de pessoas. E a percepção neste conflito, em específico, com os artigos midiáticos podem ser vistos por apenas um ângulo, comprometendo a habilidade de quem está de fora desta área e região de entender o que está acontecendo”, afirmou.

Direito humanitário

Fundado em 1863 e guardião das Convenções de Genebra, a Cruz Vermelha tem uma orientação principal: proteger a vida e a dignidade das vítimas.

A neutralidade, a imparcialidade e a independência são princípios fundamental que permeia à organização cruzar linhas de frente e dialogar com todos os lados.

O papel do Cruz Vermelha, conforme detalhado por Sarah Davies, é estritamente humanitário e focado no Direito Internacional Humanitário (DIH).

 “Nosso papel é, em primeiro lugar, ajudar pessoas impactadas por conflitos, pessoas sofrendo hostilidades, e conversar com as partes do conflitos, como estados, grupos armados e grupos não armados, e pessoas com influência, para tentar mudar a maneira como a guerra está sendo lutada ou, preventivamente, integrar e implementar o Direito Internacional Humanitário para tentar aliviar o sofrimento antes mesmo que ele comece.”

Imprensa

Segundo a porta-voz, é na comunicação com a imprensa que a neutralidade é mais testada.

Ela enfatiza que a organização não tem o papel de polícia nem de tribunal internacional, e qualquer denúncia pública comprometeria seu acesso às vítimas e as pessoas a serem protegidas.

É essa restrição que Sarah Davies explica como sendo uma escolha estratégica, e não uma omissão.

Essa postura de “não dar a notícia urgente” (breaking news), embora frustrante para a área da comunicação, é o que garante a continuidade das operações em um ambiente perigoso.

“Quando ponho em perspectiva o que estamos tentando fazer e alcançar, o trabalho que estamos querendo fazer, as nossas operações em terra, em lugares (de conflito) é muito justificável.”

Responsabilidade da informação precisa

Apesar das restrições públicas, a responsabilidade do CICV em reportar o que vê é importante. O foco é na precisão e na terminologia legal, para que a mensagem atinja a comunidade internacional de forma compreensível e técnica.

Para Sarah Davies, esse trabalho é um “privilégio” que exige máximo rigor:

 “Nós temos uma oportunidade, como organização, o CICV, de ter a responsabilidade de compartilhar o que nós vimos, e o impacto nos civis. E, em particular, eu acho que é um privilégio que façamos isso. Isso é parte fundamental do meu papel: escrever a nossa mensagem, assegurando a informação correta”.

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Por Anna Carolina Oliveira

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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