A intermediação do presidente dos EUA, Donald Trump, para o cessar-fogo do conflito no Oriente Médio com o possível fim do massacre em Gaza, tem relação direta com interesses próprios. Essa é a avaliação da pesquisadora no tema Fernanda Medeiros, que é professora de relações internacionais do Centro Universitário de Brasília (Ceub).
“Os Estados Unidos iriam se encontrar com o Irã, em um acordo nuclear e suspensão de sanções, e Israel atacou o Irã, arrastando os EUA para a confusão”, explica Medeiros.
Por isso, os Estados Unidos precisaram agir. Além disso, a escalada colocou os EUA em uma posição delicada no Oriente Médio. Israel, agindo de forma descoordenada, ameaçava negociações com o Irã sobre um possível acordo nuclear.
Sebgundo a professora explica, Trump pressionou, de certa forma, Netanyahu a aceitar um plano de paz que incluía cessar-fogo, libertação de reféns e reconstrução humanitária.
“A situação começou a virar um risco para os Estados Unidos politicamente no Oriente Médio. Então, Israel é visto como se fosse um implante americano na região. E Israel começou a ficar descuidado com o que estava fazendo”.
Nobel
Em paralelo, a situação interna nos Estados Unidos começou a mudar bastante. A professora explica que começou a haver um movimento dentro da direita americana preocupada com a carnificina em Gaza. Começou, assim, um movimento de pessoas deixando de apoiar Israel.
Ela destaca ainda um aspecto mais estratégico e lúdico: “O sonho dele é ganhar o Nobel da Paz… Se ele tivesse conseguido cessar-fogo, retorno dos reféns e retirada das tropas de Gaza, uns dois meses antes, ele poderia, talvez, ter ganhado o Nobel”. O prêmio ficou para a venezuelana María Corina Machado, opositora de Nicolás Maduro.
Opinião pública
Na manhã de 7 de outubro de 2023, o Hamas realizou o maior ataque terrorista da história de Israel, sequestrando cerca de 250 pessoas e matando aproximadamente 1.500.
“O ataque do Hamas, todo mundo tem que falar sobre isso. É injustificável. Matou muitas pessoas inocentes, causando ainda mais trauma nas sociedades israelenses”, afirma a professora.
A pesquisadora ressalta que, apesar da brutalidade do ataque, a inteligência israelense poderia ter eliminado líderes do Hamas de forma mais seletiva, evitando mortes massivas de civis em Gaza.
O acordo
O acordo prevê cessar-fogo imediato, libertação de reféns e reconstrução de Gaza sob supervisão internacional, com desmilitarização gradual do Hamas. “O Hamas perde o controle que ele tinha, pede soberania sobre a região, vai perder o apoio da população se tiver entrado no acordo, mas era a situação de vida ou morte”.
O mandato internacional deve coordenar a reconstrução de hospitais, escolas e infraestrutura, com financiamento de diversos países e organizações. Para a pesquisadora, a população de Gaza terá oportunidades de participação, mas a autonomia plena ainda dependerá da implementação do acordo.
O plano também estabelece bases para a futura criação do Estado palestino, com a desmilitarização da faixa de Gaza e reforma da autoridade palestina. Os países vizinhos apoiam a iniciativa, embora de forma cautelosa, evitando envolvimento militar direto.
Perspectiva geopolítica
A implementação do cessar-fogo traz alívio para a comunidade internacional, que observa a região marcada por graves violações humanitárias. “Agora, o povo de Gaza não vai mais sofrer com essas dificuldades, de certa forma como antes sofria essa opressão”, afirma Fernanda Medeiros.
O acordo fortalece o papel mediador dos Estados Unidos e demonstra sua capacidade de atuar em crises internacionais, em um contexto de ascensão de outras potências globais.
A pesquisadora destaca que o sucesso do plano depende da supervisão internacional e da cooperação entre Estados Unidos, países árabes e organizações humanitárias. Para a população civil, representa uma chance de reconstrução, retorno à normalidade e, possivelmente, de coexistência pacífica a longo prazo.
Por Riânia Melo
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira