O avanço da ciência tem transformado o cenário esportivo, oferecendo inovações que ampliam os limites do desempenho e reduzem os riscos de lesões.
O fisioterapeuta Leonardo Correia viu a tecnologia a sua disposição evoluir de maneira expressiva, ajudando bastante em seu trabalho. Hoje, aos 37 anos de idade, ele comanda a equipe de fisioterapeutas do Capital Clube de Futebol e compartilha que o uso de tecnologias como GPS e termografia tem aprimorado o monitoramento dos atletas, permitindo identificar sobrecargas e ajustar treinos.
Para o profissional, essa evolução tem feito com que o foco tenha se tornado cada vez mais a prevenção de lesões, sendo mais fácil identificá-las antes mesmo de ocorrerem.
Com o apoio de áreas como a biomecânica, a nutrição esportiva, a fisiologia do exercício e a genética, os atletas contam hoje com treinos personalizados, monitoramento em tempo real e estratégias de recuperação mais eficazes.
Essa evolução científica não só potencializa os resultados em competições, como também auxilia no acesso a práticas mais seguras e eficientes para todos os níveis de atividade física.

Esses avanços mostram como a fisioterapia tem se consolidado como peça fundamental na recuperação de lesões, promovendo não apenas o alívio da dor, mas também a reabilitação completa das funções motoras e a prevenção de novos traumas.
Essencial tanto para atletas quanto para a população em geral, o tratamento fisioterapêutico atua com técnicas específicas que aceleram o processo de cura, melhoram a mobilidade e devolvem a qualidade de vida aos pacientes, evidenciando sua importância no sistema de saúde e no desempenho esportivo.
Novas tecnologias
No último ano, o Capital CF transferiu seu Centro de Treinamento (CT) do Paranoá para a Asa Sul, por considerar o local mais perto do centro da cidade. A mudança veio com uma melhoria nas estruturas da equipe, que segue investindo para crescer no cenário esportivo nacional. Mesmo com o adicional de equipamentos, Leonardo segue sonhando com mais.
“Seria interessante ainda ter um aparelho para medir enzimas e monitorar diariamente o desgaste muscular do atleta. Gostaríamos também de ter aparelhos de ondas de choque (ortotripsia), que auxiliam na recuperação e na quebra de fibrose. Existem vários planos para continuar evoluindo”, projeta.
Tendo trabalhado em outros times candangos, casos do Brasiliense, Gama e Ceilândia, Leonardo reconhece que a estrutura que encontra no time do Paranoá é de alto nível para a região, afirmando que o clube entende a importância de investir nas áreas de fisioterapia, fisiologia e análise de desempenho.
Uma grande dificuldade enfrentada pelos clubes de menor expressão no futebol brasileiro é o custo envolvido na recuperação de atletas. Maquinário, salário de profissionais qualificados e um CT de qualidade são características niveladoras no esporte de alto rendimento.
Aos 22 anos, o fisioterapeuta Osmany Netto trabalha com Leonardo no Capital CF no tratamento dos atletas. Recém-formado na área, o jovem ficou admirado com a estrutura do Vila Nova, clube goiano que se encontra duas divisões acima do Capital CF no campeonato nacional.
“A principal dificuldade é a parte financeira. As máquinas são muito caras para serem adquiridas. Esse final de semana tivemos uma viagem para Goiânia e visitamos o CT do Vila Nova, que é um clube de Série B, com uma estrutura mais avançada. Não é que a gente não tenha apoio financeiro, mas os custos são altos e manter essas máquinas exige investimento contínuo”, comentou.
Técnicas variadas
A fisioterapia, quando se trata de alto rendimento, é praticamente obrigatória no dia a dia dos atletas. Técnicas como analgesia, para diminuição da dor dos atletas, laser, ultrassom, TENS (terapia por Estimulação Elétrica Nervosa Transcutânea) fazem parte do protocolo de saúde da equipe do Capital CF.
Dentre essas técnicas estão a crioterapia (para esfriar) e a termoterapia (para esquentar), muito utilizadas para a recuperação física dos atletas do Capital CF “A diferença entre crioterapia e termoterapia é que crioterapia é o uso do frio, enquanto termoterapia é o uso do calor. Elas são aplicadas em diferentes fases da lesão. No início, usamos bastante gelo. Também existem as terapias combinadas, como o contraste, que alterna frio e calor. Em outros casos, usamos apenas o calor para relaxar uma musculatura tensionada. Depende muito da lesão e do jogador”, disse Osmany.
Outro meio de tratamento efetivo, indicado para áreas com pouca vascularização, pois ajuda na recuperação, é pelo uso das câmaras hiperbáricas, onde o atleta respira oxigênio puro sob uma pressão superior à pressão atmosférica normal com o objetivo de aumentar a oxigenação do sangue, que Leonardo lamenta ainda não ter à disposição na equipe. Ele relata que o uso de uma já foi necessário, mas o atleta precisou ser encaminhado para uma clínica, e o clube arcou com o custo. A equipe também utiliza clínicas para uso de outras técnicas importantes, como o PRP (plasma rico em plaquetas).
“Também utilizamos o PRP, hoje também chamado de PRF (plasma rico em fibrina). O sangue do atleta é centrifugado para separar o plasma das hemácias, e o material é aplicado na área lesionada. Esse tratamento é mais eficaz em regiões com boa vascularização, como no meio do músculo, e teve bons resultados aqui”, acrescenta Leonardo.
Comunicação constante
A recuperação de atletas de alto rendimento não depende somente de tecnologia e técnicas avançadas, mas também da integração entre os setores que compõem um clube. No dia a dia da fisioterapia, a comunicação constante entre os profissionais da área médica é fundamental para uma reabilitação eficiente e segura.
Segundo Leonardo, o trabalho em conjunto entre os departamentos de fisiologia e médico é o que possibilita um acompanhamento mais preciso dos atletas. “Temos uma boa relação com esses setores. Trabalhamos em equipe e mantemos uma comunicação constante”, afirma o fisioterapeuta-chefe do Capital CF.
Um dos recursos que o clube dispõe é o GPS, uma espécie de colete que os jogadores utilizam durante os treinamentos com a finalidade de monitorar o desempenho físico dos atletas em recuperação. Por meio dos dados coletados, os profissionais conseguem identificar o estágio de recuperação e, com isso, conseguem prever quando o jogador voltará a campo.
“Se o atleta relata dor ou fadiga, ajustamos a recuperação com base nos dados e nos relatos. Se a equipe não estiver alinhada, o processo não funciona bem”, completa Leonardo. Além do acompanhamento diário no centro de treinamento, alguns jogadores realizam parte do tratamento em clínicas externas. Essa etapa fora das instalações do clube exige ainda mais sintonia entre os profissionais para garantir uma recuperação eficaz.
A organização da rotina depende da colaboração entre os setores. Osmany, fisioterapeuta do Capital CF, conta que os horários são planejados para atender tanto os atletas em recuperação quanto os que estão aptos a treinar, mas precisam de manutenção muscular.
“De manhã eu mando os horários disponíveis, geralmente de 20 em 20 minutos entre 14h e 15h, e aí dá para a gente tratar os atletas que necessitam”, relata.
Por: Eduardo Naoum, Henrique Sucena e Rodrigo Fontão
Supervisão de Luiz Cláudio Ferreira e Monica Prado


