Saúde mental vira prioridade no esporte de alto rendimento

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A saúde mental se tornou assunto central na vida dos atletas de alto rendimento também no noticiário. A conscientização sobre a importância do tratamento psicológico tem ganhado espaço no dia a dia das instituições.

Os benefícios pessoais e profissionais de cuidar da saúde mental são cada vez mais evidentes. Casos de atletas que precisam interromper suas carreiras temporariamente para “cuidar da mente” também têm se tornado mais comuns, mostrando que o corpo e a mente devem ser tratados de forma integrada.

Um exemplo recente é o da tenista brasileira Bia Haddad Maia, que anunciou uma pausa na temporada para se concentrar no cuidado com a saúde mental. Em setembro deste ano, a atleta teve um episódio de crise de ansiedade durante uma partida válida pelo US Open, episódio que chamou a atenção para os desafios psicológicos enfrentados por competidores de elite.

A situação vivida pela tenista de 29 anos reacende um alerta importante: a saúde mental é um componente essencial na vida de qualquer atleta profissional. Mais do que nunca, é necessário reconhecer que o desempenho de alto nível não depende apenas de preparo físico e técnico, mas também de equilíbrio emocional e apoio psicológico.

 Equilibrio emocional e alto rendimento

Um atleta emocionalmente abalado, ansioso ou mentalmente exausto, naturalmente apresenta dificuldades em responder de maneira eficiente às exigências físicas do esporte. Nesses momentos, o processamento motor tende a ser prejudicado, tornando a reação mais lenta e a tomada de decisão menos precisa. Esse desequilíbrio psicológico tende a afetar diretamente o desempenho em treinos e competições, comprometendo tanto os resultados quanto a autoconfiança do atleta.

De acordo com o especialista em psicologia do esporte Fabiano Araujo Alves, o equilíbrio emocional é um dos pilares fundamentais para o alto rendimento. Ele ressalta que a mente de um atleta profissional precisa estar constantemente regulada, assim como o corpo.

“Alto rendimento exige uma saúde mental muito regulada, por isso que é algo que a gente bate muito na tecla da psicoeducação para o atleta aprender a se autorregular, seja em qualquer nível esportivo, para a galera do alto rendimento é algo mais intenso ainda, a necessidade de saber se autorregular”, explica.

Fabiano destaca ainda que o processo de autorregulação emocional não se resume apenas a lidar com situações de crise, mas envolve a construção de hábitos mentais saudáveis ao longo do tempo. Isso inclui reconhecer sinais de desgaste psicológico, saber quando buscar apoio e desenvolver técnicas que permitam manter o foco e a clareza mental durante os momentos de maior exigência competitiva.

Pressão constante

O medo do fracasso e o receio de decepcionar pessoas importantes, como treinadores e familiares estão entre os maiores desafios psicológicos enfrentados por atletas que vivem sob constante pressão. Segundo Fabiano, esse medo é uma das emoções mais recorrentes entre atletas de diferentes idades e níveis de desempenho.

Fabiano também explica que, ainda na infância, muitos jovens atletas começam a associar o valor pessoal aos resultados que obtêm nas competições. Essa pressão interna gera ansiedade, insegurança e um estado de alerta constante, dificultando a concentração e o prazer em competir.

 “O desafio psicológico que os atletas enfrentam depende muito da faixa etária, mas o medo de fracassar e de desapontar quem é importante para eles aparece em praticamente todos os níveis, seja em crianças, adolescentes ou adultos”, afirma.

Outro ponto que o especialista destaca é a dificuldade de os atletas encontrarem o tempo de descanso, quando estão emocionalmente fragilizados. Acostumados a uma rotina intensa de treinos e competições de alto nível, muitos sentem dificuldade de  desligar a cabeça,  por conta da pressão exigida.

“A dificuldade para descansar e se desconectar é muito comum, principalmente entre os atletas de alto rendimento. Muitos acreditam que, se pararem por um momento, perderão rendimento ou espaço, e isso os impede de realmente repousar”, explica Fabiano.

O psicólogo ressalta ainda que, no esporte de alto rendimento, não é apenas o treino físico que esgota a mente do atleta, mas sim a cobrança constante por resultados. “Muitas vezes, não é o treino físico que derruba o atleta, e sim a mente sobrecarregada. A necessidade de provar seu valor o tempo todo leva o atleta ao limite e, às vezes, ele acaba quebrando justamente por isso”, alerta o especialista.

Em um cenário esportivo cada vez mais competitivo, cuidar da saúde mental deixou de ser um diferencial e se tornou uma necessidade. O desempenho ideal só é possível quando corpo e mente trabalham em conjunto.

Por Rodrigo Fontão e Eduardo Naoum

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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