Conheça margaridas brasileiras, guerreiras

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Elas embarcaram em ônibus e passaram mais de 40 horas na viagem para “marchar”.  Deixaram família em casa porque entendem que era necessário chegar à capital. No caminho até Brasília e a pé pelo Eixo Monumental, descobriram que, além de protestar por melhores condições de vida no campo, precisavam trocar experiências e fazer o Brasil inteiro ouvir as histórias de mulheres guerreiras   A 5ª Marcha das Margaridas foi marcada por histórias de mulheres agricultoras que lutam diariamente nos campos por seus direitos. Elas combatem a violência contra a mulher, valorização da agricultura familiar, impostos mais baixos. Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste, Sul. De quatro em quatro anos, as Margaridas de todo o país se reúnem em Brasília para não serem esquecidas. A reportagem da Agência De Notícias UniCEUB conheceu essas bravas mulheres, algumas dentre mais de 50 mil.

FFilooram 30h de viagem e 72 anos na bagagem. Essa é Filomena Cavalheiro do município de Sidrolândia no Mato Grosso do Sul. Tem 5 filhos adotivos, quatro legítimos e 10 tataranetos. Tem orgulho de dizer que é trabalhadeira e criou os filhos do mesmo jeito “Com cinco anos eu arrancava pé de feijão e caía para trás, me criei na roça e as crianças também”. Filó, como é conhecida, diz que tem hectares de laranja, mexerica e que tira leite para fazer o próprio queijo. Apesar de ter participado de todas as marchas e dizer que enquanto puder vai estar sempre a gritar e a correr, ela mareja os olhos de lágrimas quando lembra como é a situação do dia a dia. Idosa, Filomena se entristece com o abandono “As pessoas do campo são vistos como jogados. No fim da vida nós estamos assim, sou uma velhinha de 72 anos e estou vindo marchar aqui”.

EvaEva Carvalho tem 54 anos e é de Palmirim (CE). Para chegar até Brasília, foram  mais de dois dias de viagem. Ao conversar com ela, é nítida a sua maior causa “As mulheres são muito massacradas pelos esposos. Lá não tem delegacia da mulher, isso dificulta”. Eva está separada há dez anos, e diz que desde então começou a viver de verdade. Hoje mora com um filho. Está na labuta desde o nove anos de idade. Trabalhou com os pais, enfrentou seca, mas não esconde a gratidão que a vida no campo proporcionou apesar das dificuldades “Amo agricultura, só não é bom quando não tem chuva pra gente plantar”.

raimundaRaimunda Lopes, município de Tefé (AM). Viajou de barco dois dias e uma noite até Manaus, depois aproximadamente quatro horas e meia de voo até Brasília. Ela diz que a sua comunidade veio representar a Floresta Nacional de Tefé, a defesa da agricultura familiar e ao direito a saúde “Se a gente não entrar na luta a gente não consegue nada”. A educação no município é precária. Segundo Raimunda, só existe um colégio com duas salas de aula para 85 alunos. Hoje,  o maior sonho da comunidade de 35 famílias é mais espaço para toda essa gente aprender com dignidade “Nosso maior sonho é mais um colégio”.

lúciaEm Salto Veloso (SC) mora Lúcia Rossi de 54 anos. Ela acredita que mesmo com as mudanças ao longo do tempo, a mulher ainda sofre com a desigualdade de gênero “A gente luta bastante, mudou, mas não é o ideal”. Todos os seus filhos saíram do campo para tentar ganhar a vida na cidade. Um deles voltou para a agricultura, pois acredita que um dia pode melhorar. Lúcia pede preços justos aos agricultores “Se os colonos não plantam os da cidade não comem, então precisaremos ter mais apoio”. Cleusa Biava, do mesmo município parte da mesma ideia “A gente é agricultora, a gente planta e quando vai vender não tem aquele valor que nós merecemos. Agora, quando vamos ao mercado comprar, pagamos horrores”.

haideeHaideê Portal tem 63 anos e é do município de Retiro Grande Cachoeira do Arari (PA). Ela sempre viveu no campo. Tem filho pescador e filhas que atualmente moram na capital Belém e cursam enfermagem. Hoje, mora com um neto de 13 anos.  Veio até Brasília para reivindicar a falta de policiamento e de saúde. Quando se fala em sonhos, Haideê se perde em meio a tantos “São tantas as coisas que me vem a cabeça, que nem sei”.


Por Júlia Campos, colaboração Lucas Valença.
Arte por Camila Fernanda

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