FLORIANÓPOLIS (SC) – A União Nacional dos Estudantes (UNE) foi um dos incentivos para a reativação do Projeto Rondon há 10 anos. No início, a entidade resistiu à idéia. Dentro do debate, surgiram dois campos de argumento. O primeiro envolvia a concepção de que o programa era assistencialista e precisava fazer um trabalho aprofundado. O pensamento principal da instituição era dar autonomia para as comunidades visitadas. Em segundo lugar, a dúvida era qual órgão seria capacitado para organizar um projeto de repercussão. Depois de muito estudo, representantes da UNE chegaram a conclusão que a retomada do programa era importante para a integração nacional dos estudantes.
O historiador Pedro de Campos Pereira participou como integrante da direção da UNE e fez parte da nova estrutura do projeto que começou em 2003, concretizada em 2005. Segundo ele, quando apresentaram a proposta para o então presidente da república, Luiz Inácio Lula da Silva, a entidade tinha o discurso de que a parcela de estudantes universitários era pequena diante do possível alcance.
O programa acabou aceito com a ideia de que todos os ingressantes universitários do país tivessem a oportunidade de ter uma relação com outros alunos de graduação. A primeira expedição ocorreu em 13 municípios do Amazonas. Pedro acredita que o Rondon foi um dos momentos mais importantes da UNE “Realizar o projeto mudou a forma de pensar da liderança universitária. Foi possível perceber a necessidade de integrar o país e defender o patrimônio”, ressaltou.
Crise
O investimento do programa é de aproximadamente R$5 milhões, segundo Pedro Campos. Integrantes da UNE em 2015 alegam que ainda tem o que avançar no projeto. “É preciso de uma política permanente, para não ficar a mercê de cortes”. Para Campos, esse tema deve ser o debate da entidade nos dias atuais.
Rondon como extensão
Universitários, professores, militares e participantes do II Congresso Nacional do Projeto Rondon debateram a importância do programa como extensão universitária. O pró-reitor de Extensão da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Edison Rosa, e o professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFSC, João Carlos Souza, ressaltaram a necessidade do trabalho principalmente em comunidades carentes do Brasil. Para os educadores, o principal objetivo do projeto é criar uma consciência de brasilidade nos jovens universitários de todo país. “Somente conhecendo o Brasil é que estes líderes de amanhã terão condições de avaliar o potencial da nossa terra”, considerou Souza.
Na primeira etapa do Rondon, entre 1967 e 1989, cerca de 350 mil universitários se envolveram no programa em diversas regiões do país. Souza participou do programa como aluno em 1980. Em 2005 retornou como professor responsável pela equipe e nos dois anos seguintes atuou na função de responsável pela organização na UFSC. “A intenção é levar assistência médica, avanços tecnológicos e cuidados diversos às populações remotas, mas depois de 15 a 18 dias a gente vai embora. Por isso, o mais importante é despertar e estimular o interesse dos estudantes pelo reconhecimento das profundas desigualdades sociais”, alegou.
Para o educador, o projeto é importante porque estimula jovens a reconhecerem a necessidade da educação interligada aos trabalhos sociais. “O programa é necessário para a juventude entender que a primeira trincheira não é o combatente lá na frente, mas sim aqui na universidade. Somente conhecendo o Brasil é que estes líderes de amanhã terão condições de avaliar o potencial da nossa terra”, ressaltou. “Atividade de extensão é essa relação entre universidade e sociedade. Os alunos voltam com a consciência de que o Brasil tem problemas, mas, em contrapartida, temos também muitas riquezas. No projeto Rondon os professores recebem mais do que doam”, acrescentou
Por Júlia Campos (texto)
Laylla Nepomuceno (foto)
Isa Stacciarini (edição)
A equipe viajou para Florianópolis a convite do Projeto Rondon