Paranoá: comerciantes tentam driblar crise

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Comerciantes do Paranoá, cidade com desemprego na casa dos 11%, ainda não sentiram os efeitos da crise econômica, particularmente aqueles que trabalham com alimentação.

Os comerciantes Cristiano Ferreira e Dione Carvalho são reflexo da empregabilidade mantida pelo setor de Serviços relacionado ao Comércio, o qual absorve 38,23% da população do Paranoá.

Gerente de um mercado de pequeno porte da região, Cristiano Alves Ferreira, de 29 anos, afirma que as vendas estão melhores, desde junho deste ano. “A gente trabalha em prol disso. Todo mês fazemos alguma promoção, e deixamos produtos mais em conta para o cliente”.

Na opinião do técnico em contabilidade, os setores que trabalham com alimentos não sentiram a crise ainda. Ferreira explica que, por enquanto, o mercado tem conseguido manter bons fornecedores e, consequentemente, bons preços para os clientes. ” Até agora estamos conseguindo manter um bom preço. Nós facilitamos a compra. Por exemplo, eles podem misturar vários itens e pesar pelo mesmo valor”, diz com orgulho.

Já o empresário Dione  Carvalho, 27, que é dono de um comércio gerido por ele e pela mãe,  relata a queda de 30% nas vendas desde o início do ano até o presente mês (quando comparado ao mesmo período do ano passado). Uma das razões desse resultado, para ele, é o aumento dos impostos. “A gente que quer trabalhar dentro da lei acaba pagando mais. E, querendo ou não, o cliente sente isso no bolso”, lamenta.

O comerciante conta que uma das estratégias adotadas para manter o comércio funcionando e sem demitir nenhum funcionário foi deixar de comprar alguns produtos e utilizar aqueles que já faziam parte do estoque. Para manter o interesse do comprador nos produtos ofertados pela loja, Carvalho trabalha com preços menores que o dos concorrentes e oferece um atendimento diferenciado. “O atendimento conta muito. Quando você bem tratado num local prefere pagar nem que seja um real mais caro pelo tratamento que recebe do que pagar menos e ser mal atendido”, explica.

 Perspectiva da região

A Administração do Paranoá pretende criar novos empregos dentro da própria cidade. Para isso, objetiva diminuir a burocracia para que novas empresas possam gerar empregos na região. Outra ação prevista é aumentar o fluxo de obras de urbanismo e implantar pequenas indústrias, explica o administrador Eduardo Rodrigues. “Temos um projeto bastante ambicioso: trazer 400 novas empresas pra região e transformá-la numa ADE [área de desenvolvimento econômico] para trazer empregos e oportunidades de negócio pra cidade”, projeta.

Para o economista Wendel Leão, criar novas vagas de trabalho e proporcionar meios para a qualificação de profissionais para o mercado de trabalho é uma solução possível para manter ou diminuir a taxa de desemprego da região. Aliviar as taxas tributárias para pequenas empresas também é uma solução. “Dar um alívio para as empresas, dando subsídios e incentivos fiscais vinculados à geração de empregos é uma saída para queda de desemprego”, sugere.

“Significativo”

Com uma população de aproximadamente 48 mil pessoas, a região do Paranoá apresenta uma taxa de 11,07% de desemprego, segundo a Companhia de Planejamento do Distrito Federal (CODEPLAN). Segundo o economista e administrador da região de Paranoá e Itapuã, Eduardo Rodrigues, esse número é significativo e condizente com a realidade do Distrito Federal (13,6%).  “O número retrata o desaquecimento da economia que vem desde 2013, 2014”, explica.

A  Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) realizada em julho deste ano pela Secretaria de Estado de Trabalho, CODEPLAN, DIEESE*, em parceria com a Fundação SEADE, mostra que a taxa de desemprego no Distrito Federal é de 13,6%.  No Paranoá, os setores que apresentam menor taxa de empregabilidade são a administração pública e a Construção Civil com 9,63% e 9,92% respectivamente. O maior número de empregos vêm do setor Serviços, que absorve 89,08% da população, conforme dados apresentados pela CODEPLAN no mesmo período.

Dentro do setor de Serviços, os Serviços Gerais e Domésticos são os que oferecem menos oportunidades de trabalho totalizando 26,75%. Segundo Rodrigues, esses dois setores “sofrem mais” por serem empregos de menor qualificação. “Quando a economia desacelera, sofrem mais aquelas pessoas que têm emprego temporário, de menor qualificação. Empregos mais ligados ao setor de serviços ou a construção civil”, opina.

É o caso da catadora Maria do Socorro de Sousa de 43 anos. A moradora do Paranoá conta que trabalhava com toda a família em uma cooperativa de reciclagem onde era presidente. Há quatro meses está desempregada junto a 19 famílias que dependiam da empresa.  “Nós temos enfrentado necessidade” diz ao relatar que ela, o marido e seis filhos dependiam do mesmo emprego.

Socorro conta que muitos adolescentes das famílias que ficaram desempregadas na mesma época entraram no “mundo do crime” para conseguir sustento para os familiares. Se orgulha ao dizer que o filho adolescente, de 16 anos, não escolheu o mesmo caminho e continua procurando trabalho mesmo em meio a dificuldade.

A catadora lamenta o fato de nunca ter sido “registrada em carteira” fato que, segundo ela, dificulta encontrar um novo emprego. “Eu procurei serviço mas não achei porque não tinha carteira assinada. Sempre trabalhei com reciclagem, então não tenho carteira”, fala com tristeza.

Rodrigo Lima de Oliveira de 25 anos é formado em administração e, no momento, sustenta a esposa e um filho com o seguro desemprego. Isso porque, em junho deste ano foi demitido junto a outros funcionários em uma “demissão coletiva por corte de gastos”.

Ele conta que já enviou currículos e foi entrevistado em alguns lugares. Apesar de se dizer confiante para conseguir outro emprego, mostra preocupação ao dizer que a esposa tem dificuldade para encontrar emprego.  “Por enquanto estou conseguindo segurar. Só que, em contrapartida, minha esposa não conseguiu arranjar um emprego até agora. Isso está pesando”, desabafa.

Oliveira acredita que o alto índice de desemprego do primeiro semestre de 2015 está relacionado a falta de administração dos governantes do país. “Acho que foi consequencia de uma administração mal feita do governo. Com a carga alta de impostos, as empresas não têm como fugir e têm que demitir”, explica.

O economista Cidley Guioti explica que o elevado índice de desemprego está relacionado à dessa desaceleração da atividade econômica. Segundo ele, a queda no preço dos principais produtos exportados pelo Brasil, a elevação dos gastos do governo e o esgotamento da política econômica baseada na concessão generosa de crédito, adotada desde 2005, são os principais causadores do quadro que o país enfrenta.

Por Aline do Valle e Mariana Areias

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