É uma verdadeira guerra noturna. Para umas pessoas, é som, diversão, festa. para outras, é incômodo, insônia, barulho. Entre tantos significados diferentes, a cada noite, uma polêmica ecoa nas ruas de Brasília e das outras cidades do distrito federal. elas não se entendem. A lei do silêncio divide a capital do país e opõe interesses e visões. O conflito tem aumentado ano a ano o número de denúncias de poluição sonora. Enquanto que no ano passado inteiro, o número de reclamações de moradores contra os barulhos chegou a 736, apenas no primeiro semestre de 2015 houve 684 reclamações formais, segundo o instituto Brasília ambiental, o IBRAM. As cidades campeãs desse embate são Brasília, Taguatinga e Águas Claras, as mais festeiras.
Ouça a reportagem de rádio na íntegra***:
No meio dessa confusão, a quadra número 312 na asa norte, bairro nobre da capital, é uma exceção. No lugar, responsáveis pelos eventos festivos e os moradores dos blocos fizeram as pazes e se entendem. é mais do que uma bandeira de trégua. Um dos articuladores desse entendimento é o açougueiro e produtor cultural Luiz Amorim. Sim, isso mesmo. O açougue é o centro nervoso da arte local há mais de 10 anos. Ele promove festas, saraus e shows. Todos os dias tem cultura de graça no espaço, por vezes, no meio da rua. Mas tudo combinado entre todas as partes “Sempre em cada evento tem ir ajustando, porque se não o evento acaba não tendo durabilidade porque morador é a voz ativa. Horário de começar, horário de terminar, e evitar o transtorno” diz Luiz.
O representante do conselho comunitário do bairro, Frederico Flósculo, comemora a paz. Para ele, as soluções devem passar muito mais por diálogos francos e permanentes do que apenas pelas leis “Além das leis existe a comunidade, a quem das leis existe o bom censo de escolhas serem feitas de maneira pacifica. Há caso em que a comunidade é muito melhor que o político profissional”.
O fato é que ninguém menospreza o direito do outro. Sabem bem que sons podem incomodar, mas embalam as noites e dão caráter de singularidade cultura num cantinho da cidade. Não desmerecer o barulho é ponto fundamental, até porque incomoda, segundo o físico Sérgio Garavelli, especialista em poluição sonora “Na área de acústica ambiental, qualquer ruído, qualquer barulho que cause incômodo, é considerado como poluição sonora”.
Em dias que as redes sociais também ecoaram intolerância, o caso da quadra 312 é, segundo os entrevistados, uma possibilidade de satisfazer diferentes interesses. Tem a hora do silêncio, tem a hora da arte, mas é sempre tempo de respeito.
Por Júlia Campos
*** A reportagem de rádio foi a terceira colocada no Prêmio CBN de Jornalismo Universitário
Foto: divulgação/facebook