Profissão professor: a vida após a greve

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Após 29 dias de greve, os 21 mil professores do Distrito Federal que aderiram ao movimento voltaram às salas de aula. A rede conta com aproximadamente 30 mil profissionais. A aulas começam a ser repostas no mês de novembro, mas em 2016 a greve pode voltar. A reportagem da Agência de Notícias UniCEUB conheceu professores para entender as motivações e as angústias deles. Confira histórias.

SAIBA MAIS SOBRE A GREVE: IMPASSES PERMANECEM

caetanoCaetano Ruas de 34 anos é professor de geografia na região administrativa do Paranoá. Para ele, uma das principais reivindicações são as melhorias nas condições de trabalho. Se isso não melhorar, segundo entende, pode haver evasão profissional. “Esses melhores professores vão fugir para as escolas particulares ou para qualquer outro emprego”. Caetano já trabalhou com politicas públicas, cinema e que continua em formação e é um jovem educador cheio de sonhos que acredita que a educação é uma missão valiosa.

“Todo dia quando eu acordo 5h30 da manhã pra estar 7h na sala de aula, em uma da maiores periferias do Brasil eu me emociono porque eu estou indo dialogar com aqueles jovens, os jovens do trabalhador, os filhos dos motoristas de ônibus, os filhos das empregadas domésticas que estão na minha sala de aula”. Para ele, toda a sociedade perde com paralisações porque nas escolas haverá professores sem perspectiva. “Tirar o futuro de uma população é um dos piores crimes”.

robertoO professor de matemática e física Roberto Rabelo de 42 anos dá aula em Brazlândia. A demora e a falta do pagamento o motivou a entrar em greve. Ele conta que deixou o Maranhão e o Piauí para ser professor no Distrito Federal, mas que já pensa em voltar para o Nordeste devido às más condições de trabalho na capital “Trouxe minha família, dois filhos pequenos e minha mulher e estamos sofrendo com esse salário aqui que não dá pra muita coisa”. Apesar de desestimulado, Roberto não pensa em abandonar a profissão que escolheu desde a sexta série. “Já dei aula do ganhando muito menos , mas pra mim professor é realmente vocação”.

rosembergRosemberg Holz de 31 anos , é professor de inglês em Ceilândia. Ele acredita que a profissão seja uma vocação, mas já pensa em estudar para outros concursos “Eu adoro dar aula, é uma coisa que vou sentir falta quando eu sair, mas o professor está em um contexto de desvalorização muito grande”. O pensamento de desistência já passou várias vezes pela cabeça de Rosemberg, que encara a greve como uma panela de pressão. “Depois de muito tempo a gente aguentou boa parte dessas pressões. Precisávamos dar visibilidade ao movimento”. Para ele também a perda é coletiva “A curto prazo o aluno perde, a longo prazo toda a sociedade. Porque uma sociedade em que a educação na funciona bem, todos perdem”.

andreaProfessora da educação infantil há 28 anos, Andrea Romero de 47 anos dá aula no Gama. Ela diz que não quer que aconteça no DF o que ocorreu no Paraná com o fechamento de mais de 70 escolas e também em São Paulo com outras 90. As falas da população e da mídia que os professores só pensam em dinheiro chateia que trabalha com educação diariamente. “Quem é professor é por amor, se a gente quisesse dinheiro trabalharíamos em outra profissão. Professor é um sonhador, é enfermeiro quando a criança machuca, psicólogo ao conversar com o aluno, traz a comunidade para dentro da escola.” Com as aulas sendo repostas aos sábados, professores não irão ter férias em janeiro. Segundo Andrea a saudade dos alunos é imensa, mas a luta é necessária. “Ninguém quis prejudicar o aluno. Cada dia de greve vai ser reposto, se eu não quisesse trabalhar eu não estaria na greve onde eu vou trabalhar de segunda a sábado”. Sobre o futuro da profissão ela diz “Desistir da escola, do aluno, da profissão jamais”.

FotorCreatedProfessor de história no Gama, Davi Pureza de 52 anos diz que a paralisação não é uma questão de ideal. “A gente gosta da profissão, a cada dia a gente vê juventude, adolescentes todo anos chegando e mesmo com essa maré contra a educação a gente vai lutar sempre pela melhoria”. Para ele, as paralisações prejudicam os alunos até porque a escola pública já possui as dificuldades do dia a dia. “Nós não estamos lutando por nada novo”.E para o professor de Geografia em Samambaia, Alexandre Oliveira de 40 anos só espera que as promessas que foram feitas sejam cumpridas corretamente “Não me sinto desestimulado, mas me revolta esse não cumprimento. Por mais que a gente reponha as aulas, os alunos são prejudicados”.

 

Por Júlia Campos

Fotos: Nabil Sami

Arte: Camila Campos

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