Ela só tem 14 anos de idade, está grávida de sete meses e assustada. Pernambucana, moradora da periferia do Recife, a menina (identificada como Érika) vive o medo diário da zika e da microcefalia. Em consulta ao hospital Cisam, vinculado a UPE (Universidade de Pernambuco), também descobre outro drama que ela já precisa compreender como adulta: esperar horas por um atendimento. “Acabei de ser informada de que o meu médico não veio. Fui remarcada para daqui a duas semanas, o jeito é esperar e rezar para que ele não falte novamente”.
A jovem descreve o vírus Zika como “desesperador” e lamenta o sofrimento das mães que já tiveram seus filhos com a microcefalia. “É um desespero ver as crianças nascerem com um problema desses, é um sofrimento muito grande ver que crianças podem nascer dessa forma. Imagino as dores da mãe”.
Ela conta ter mudado a rotina após ser comunicada pelos médicos. “Após os médicos me alertarem, passei a usar repelente e roupa de manga comprida até em casa”. Érika explica ser necessário usar um repelente especial, mas reclama dos altos preços. “Eu compro um repelente especial, apropriado para gestantes e crianças, ninguém me dá, e custa muito caro”. O problema financeiro afeta muitas mulheres ao impedir a compra do repelente adequado que pode variar de R$ 17,00 até R$57,00
Falta dinheiro
Em meio ao medo de contrair o Zika vírus, Sueni Gomes, 25 anos, se derramou em lágrimas nos corredores do hospital da UPE. Moradora do Recife e com 7 meses de gestação, ela conta não ter condições financeiras suficientes para manter o filho protegido de forma adequada. “Na primeira vez que usei o repelente, usei o da farmácia, mas agora como falta dinheiro, tive que fazer aqueles caseiros, eu mesmo faço”. .
Para Sueni Gomes é preciso agir em conjunto com os vizinhos para se manter sempre prevenido e impedir o vírus de se proliferar. “Tenho prestado atenção nos locais com água parada, mas nós só podemos tomar conta de casa, a do vizinho a gente não sabe, por isso é preciso conversar com ele (vizinho) sem medo”.
Milena dos Santos, 21 anos, também usa o mesmo repelente, mas o medo ainda prevalece, mas garante tomar todos os cuidados necessários. “Uso repelente todos os dias. A obstetra me informou de tudo que eu devo usar, mas mesmo assim tenho medo, ninguém nunca sabe”.
Ela diz acompanhar os noticiários, mas ao ligar a televisão o medo só aumenta. “Eu sempre acompanho o noticiário para saber mais, e é terrível, as pessoas não tÊm ideia do que é estar grávida nessa situação”.
Por: Lucas Valença