Diante da rua tomada apenas pelos carros estacionados o prédio não parece ocultar muitos segredos. A entrada lateral, porém, já revela algo diferente. Quando o visitante adentra a recepção, nota as mulheres que trabalham no local com espartilhos de cores variadas, meias-calças e sorrisos estampados nos rostos. A sensação vai ainda além. O ambiente é tomado por músicas de jazz como “At Last” na voz da Etta James e até uma versão de blues de “Morena Marina”, do Dorival Caymmi. O teto é adornado com tecidos de veludo brancos e dourados com um lustre pendurado no centro. Lá dentro, os tons escuros dominam. As paredes são pintadas de preto. Lanternas chinesas estão penduradas do teto, mas estão todas apagadas. Esta é casa da dança burlesca em Brasília, uma arte que tem atraído adeptos e um público tanto pelos aspectos cômicos quanto pela sensualidade.
Confira a matéria na rádio:
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A jornalista e dançarina paulista, Cintia Isabel Alves, alter ego da personagem Aurora D’ Vine, faz performances artísticas há 7 anos e já realizava trabalhos como modelo inspirada nas mulheres da cultura pop dos anos 40 e 50 com um leve tom de erotismo. “Hoje, estudo o teatro de revista brasileiro para nossas vedetes e as influências que sofremos da década de 40 e 50 das companhias francesas”.

Cintia usava um figurino semelhante ao das carnavalescas, porém seguia as cores da bandeira da França. A música também começava em francesa e depois alternava para um samba. A sexualidade masculina também é contemplada no “Boylesque”. O dançarino e modelo de 29 anos, Vinícius Guervich, está no burlesco apenas há 8 meses e disse que o atrativo da arte é o fato de brincar com a sensualidade misturada com a ironia. A técnica também foi elogiada pelo dançarino. “Não tem tantas pessoas no burlesco masculino, tentamos ver um pouco do feminino e fazer um paralelo com o estilo masculino”, explicou.

No segundo dia, as mesas saíram e, o que antes era a plateia, agora é pista de dança com a iluminação de luz estroboscópica focada na pista. Garçonetes não se viam mais. Encontrávamos agora uma balada com intervalos a cada 30 minutos para as apresentações dos dançarinos, mais provocativas que no dia anterior. O foco era a participação do público com uma maior interação com os profissionais. Desta vez, o Jazz e o Blues ganharam vozes de cantores como Christina Aguilera e adaptação de letras da Katy Perry. Pole dance e convites ao público para uma interação com direito a beijos e lambidas faziam partes das apresentações.
A estudante de arquitetura de 20 anos, Gabriela Santana, apontou o burlesco um strip-tease misturado com um enredo de filme. “A pessoa acaba contando uma história, trazendo uma ideia de filme, de algo cômico”. A consciência corporal também foi algo apontado pela estudante, que fez um workshop no segundo dia.
A estudante de Game Design de 26 anos, Gabriela Araújo, ficou sabendo do evento por um amigo que já era fã. “Gosto do jeito de como elas são confiantes com o corpo feminino. Eu era uma pessoa muito tímida, tinha vergonha de mostrar meu corpo. O Burlesque encoraja a perda da vergonha”, exemplificou. Gabriela também disse que ganhou mais segurança com o próprio corpo e que pretende descobrir mais sobre a arte.
Por João Victor Bachilli e Vinícius Brandão