As mídias tradicionais no Brasil ainda são símbolos de como a sociedade tolera o racismo, conforme afirmaram os pesquisadores do assunto Djamila Ribeiro e Edson Cardoso nesta terça-feira (5) em Brasília. Para eles, os veículos divulgam informações que passaram a ser naturalizadas e são hegemônicas em uma lógica de preconceito.
“O racismo estrutura todos os espaços. A mídia é um espaço de grande reprodução da lógica racista, onde não contempla a diversidade do povo brasileiro, onde tem um padrão de beleza majoritariamente branco”, acentuou a filósofa Djamila Ribeiro. Para ela, a TV, por exemplo, é um indicador de como o país é racista. “Precisamos discutir e desnaturalizar o olhar representado pelos brancos”.
De acordo com o professor Edson Cardoso, a mídia tradicional tem dado sustentação para essa lógica racista. “Você tem um país de grande diversidade como o Brasil, a diversidade do planeta aqui, mas há uma homogeneização de um único tipo”. Um reflexo grave dessa interdição, segundo o professor, é que o preconceito chega inclusive nas relações de trabalho. Relações que geram confinadores sociais. “Quando se nega o espaço a alguém por causa de cor de pele ou cabelo, significa que se está privando essas pessoas da sobrevivência. É como se alguém tivesse falando: ‘morra’”, considerou.
Assista à entrevista com o professor Edson Cardoso sobre a tensão entre as mídias tradicionais e as alternativas
Alternativas
Para os professores Djamila Ribeiro e Edson Cardoso, a internet ampliou espaço para produções alternativas e ativistas que acabam pressionando a mídia hegemônica. “Tendo mais diversidade, as pessoas vão pensar sobre outras perspectivas que muitas vezes aqueles sujeitos que lá estão não vão pensar, justamente por não saber o que é vivenciar aquilo na pele”, disse Djamila Ribeiro. Ela acrescenta que blogs de ativistas, como o “Negras Empoderadas” tem feito a diferença para que esses temas sejam tratados de outra forma.
O professor Edson Cardoso entende que uma profunda transformação ocorre a partir das mídias sociais. “Essas mídias têm pressionado a mídia hegemônica, e a gente vai, com certeza, nos próximos anos, ver grandes mudanças aí”. Para ele, o momento é bastante rico porque há tensões próprias da abertura de novos olhares. “Vivemos uma certa tensão entre esse padrão hegemônico, de valorizar pele clara e cabelo liso para dar visibilidade na mídia, como a chegada de outras aparências que começam a se impor e buscar espaço”.
O procurador Libânio Rodrigues, do MPDFT (Ministério Público do Distrito Federal e Territórios), que também esteve no evento em Brasília que discutiu relações entre racismo e mídia, acredita que cabe à mídia conferir a visibilidade à miscigenação do país. “A marginalização do nosso país tem cor”, afirmou o procurador. Rodrigues explicou que aumentou o número de denúncias sobre racismo e injúrias raciais, mas os tribunais têm julgado “pouco ou mal”. No ano passado, foram 90 denúncias na região. Para ele, a convivência com a diferença tem que ser aprendida em casa e na escola. “Só as cotas não bastam. Precisamos mexer na cabeça do professor e na dos pais das crianças”, argumentou.
Por Lucas Valença e Beatriz Castilho