Vinte anos após o massacre de Eldorado dos Carajás, trabalhadores do campo no Brasil ainda sofrem com o crescimento da violência. Segundo levantamento da Comissão Pastoral da Terra (CPT), o número de assassinatos (50) cresceu 39%, com relação a 2014 (total de 36 vítimas). O documento critica o “encurralamento” do governo federal pelos interesses capitalistas.
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O documento mostra que das 50 vítimas, 40 viviam na região Norte do país. Os estados de Rondônia e Pará lideram. “Esses números deixam claro que a Amazônia continua sendo uma das novas fronteiras para o capital”, afirma o documento. Para a CPT o número de vítimas no campo, tende a aumentar. “Está pronto o caldo para o aumento e o acirramento dos conflitos e, sobretudo, para o crescimento da concentração da propriedade latifundiária”.
O modelo econômico atual, que alimenta os destemperos do capitalismo, é criticado pela Pastoral da Terra. “O chamado ‘crescimento’ econômico, desde os tempos do Brasil Colônia, se fez e se faz à custa dos direitos territoriais dos povos indígenas e, hoje, das comunidades camponesas existentes”. Para a entidade, o crescimento dos conflitos se dá pela ausência da atuação do governo, sendo o vazio preenchido pelo poder privado. “A bancada ruralista, secundada por outras bancadas de perfil mais que conservador, avançam sobre o direito dos mais frágeis”.
Milícias
Segundo o Membro da Coordenação Executiva Nacional da CPT, Thiago Valentin, o documento não registra todos os conflitos do campo, mas representa um cenário de profundos conflitos e denuncia os causadores. “São os latifundiários, a milícia privada, grandes empresas, empreiteiras e a própria Polícia Militar esta presente em diversos conflitos”.
Além dos dados obtidos pela divulgação dos conflitos pelos meios de comunicação, e checados, a pesquisa também é elaborada de diversas maneiras. “Nós temos agentes pastorais que atuam nas bases, nas comunidades e são responsáveis em coletar boa parte dos conflitos”.
Conflitos
No ano de 2015 o número total de conflitos foi inferior ao registrado em 2014, com 1.217 contra 1.286. A pesquisa ressalta o Piauí como o Estado que mais cresceu percentualmente, passou de 13 para 31 conflitos em um ano, um aumento de 138%. Segundo a CPT, as regiões Norte e Centro-Oeste foram as que mais cresceram no número de conflitos.
Por Lucas Valença