Taxa de doadores de órgãos caiu em 2015

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No primeiro semestre de 2015, constatou-se diminuição na taxa de potenciais doadores, de doadores efetivos e no número de transplantes de rim, de fígado e de pâncreas, em relação ao ano anterior. É o que informa o Registro Brasileiro de Transplantes da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos. Segundo o relatório, a elevada taxa de recusa familiar à doação (44%) persiste como o principal obstáculo para a efetivação da doação, na maioria dos estados.

 

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Fonte: Registro Brasileiro de Transplantes (RBT)

 

[box] A taxa dos transplantes de órgãos somados, no Brasil, foi de 39 pmp, enquanto que nos países com melhores resultados está próxima a 100 pmp (objetivo máximo). A meta para o Brasil é atingir 50 transplantes pmp a partir dos próximos três anos, e para os estados, com melhor desempenho, realizar 75 transplantes pmp. Neste ano, ultrapassaram os 60 transplantes pmp, e são os estados com melhor desempenho em transplante, o Rio Grande do Sul (67,0 pmp), São Paulo (64,9 pmp) e Distrito Federal (61,7 pmp). Se observarmos apenas os transplantes com doador falecido, destacam-se com mais do que 50 transplantes pmp, o Rio Grande do Sul (61,2 pmp), Distrito Federal (60,0 pmp), Ceará (54,2 pmp) e São Paulo (50,8 pmp), sendo a meta para os transplantes com doador falecido de 70 pmp.[/box]

 

“Me deu a vida duas vezes”

Gabriel Jesus, estudante de 19 anos, conta que em novembro de 2014 fez a cirurgia de transplante de fígado. Ele nasceu com um problema hepático, e mesmo após ter feito uma cirurgia quando criança, já sabiam que o quadro tendia a evoluir e piorar, e que precisaria do transplante.

Residente em, Brasília, o estudante teve que ir a um hospital de referência em São Paulo para realizar a cirurgia, até mesmo por indicação do médico colombiano que o acompanhava. “Os hospitais aqui não tem preparação pra isso não”. O pai de Gabriel foi quem doou o órgão. “Ele pesava 100 quilos, e teria que emagrecer até 75kg para poder doar. Mas ele chegou mesmo a 60kg. Me deu a vida duas vezes. Já estava nos 45 minutos do segundo tempo, se não fosse ele, eu já estaria morto”, relembra.

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O atual presidente da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), Roberto Manfro, explica que a doação ocorre após constatada morte encefálica – em que são realizados dois exames clínicos e um exame complementar – e consentimento da família. “É um momento de muita dor pra família. Existem cursos de notificação de más noticias, as equipes são treinadas para fazer isso de forma humana”.

A doação feita a partir de uma única pessoa pode chegar a 11 ou até 13 transplantes. Doenças e outras questões de saúde podem limitar um potencial doador. Pessoa com diabetes não pode ser doadora de pâncreas, por exemplo. Alguém com problemas cardíacos pode doar rins, fígados. “O número de doadores no Brasil vinha crescendo progressivamente. No ano passado a doação estabilizou, isso é um sinal de alerta, pois a necessidade dos transplantes continua e até aumenta”. O médico acredita que tem que manter um esforço contínuo visando alcançar níveis adequados de doação.

[box] “Morte encefálica: não chega sangue no cérebro da pessoa. Se um tecido ou órgão fica sem sangue, fica desvitalizado, em seguida ele morre. Por isso se chama morte encefálica. O cérebro fica muito inchado, o que comprime as veias e artérias, e o sangue não passa mais.Isso é detectado clinicamente por dois exames com 12 horas de diferença entre eles, por um profissional qualificado. Além disso, existe um exame complementar que no Brasil é obrigatório que seja feito. Por exemplo: se faz uma arteriografia do cérebro comprovando que não entra sangue. E assim como a arteriografia, existe a angiotomografia e outros exames que mostram a mesma coisa.

Cumpridas essas etapas e descartando pessoas que possam ter intoxicação por drogas, hipotermia, coisas que devem ser averiguadas antes da morte encefálica, o diagnóstico da mesma é 100% seguro.”[/box]

Manfro acredita que a falta de informação é o que prejudica o número de doadores. “As pessoas tem que ser educadas, no sentido de que o diagnóstico da morte encefálica é seguro, de que os transplantes são procedimentos que salvam a vida de outras pessoas”. O médico afirma que, se o esclarecimento for maior, o número de doações deve aumentar substancialmente.

 

Doação de órgãos (1)

SUS

O Ministério da Saúde ressalta que no Brasil o acesso ao processo de doação e transplantes é garantido por meio do Sistema Único de Saúde (SUS) a todos os brasileiros. Cerca de 88% dos transplantes de órgãos sólidos são realizados pelo SUS, 96% se forem considerados apenas transplantes de órgãos com doador falecido.

Em uma década, o Brasil praticamente dobrou o número de transplantes, saltando de 12.722 cirurgias, em 2003, para 23.227, em 2014. Em 2015, o Brasil registrou 2.836 doadores efetivos, o que equivale a 13,89 doadores efetivos por milhão da população (pmp).

 

Vírus Zika

Essa doença é causada por vírus que pode ser transmitido pela doação de órgãos, tecidos e células, se o doador apresentar a infecção, que pode ser completamente assintomática. Não há, até o momento, relatos de casos suspeitos ou confirmados de transmissão por órgãos, tecidos ou células humanas, mas a transmissão é considerada possível, por similaridade à transmissão pelo sangue.

 

O Ministério da Saúde disponibiliza uma página com maiores informações sobre assunto.

Clique aqui para acessar a pesquisa de Dimensionamento dos Transplantes no Brasil e em cada estado de 2008 a 2015.

 

Por Daniella Bazzi

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