A sensação é de renascimento. Não existe idade para descobrir o real sentido da vida. Essas são as palavras de quem chegou a pesar 180kg, aos 42 anos, e, em um ano, perdeu 95kg, sem se submeter a procedimentos cirúrgicos. Enquanto era obeso, o motorista Odilon Furtado, 43, assistia o filme da própria vida passar sem se tornar protagonista. Escondia-se dentro da própria história.


No dia 17 de março deste ano, completou um ano que Odilon vive uma nova rotina e alcançou o peso que sempre sonhou: 85kg. A data ficou marcada como o dia em que tudo mudou. Através da carta de um desconhecido, o motorista encontrou o método adequado de emagrecimento em uma clínica de estética do plano piloto. “Sempre fui contra fazer cirurgia, pois eu sabia que o problema estava mais na minha cabeça, do que no meu físico”, afirmou.
Gastava mais de R$ 2 mil (mais da metade do salário) por mês, mas diz que valeu à pena. “Foi um brinde da vida. A melhor coisa que já me aconteceu”, contou. Ele disse que a vida mudou e passou a fazer sentido. “Não sinto falta de como era minha vida antes. Hoje faço caminhadas, ando de bicicleta e não sofro mais de estresse. Tive ajuda de amigos e familiares neste processo e me sinto renovado”, comentou.
Profissionais
A obesidade é o excesso de gordura no corpo. A doença pode ser medida pelo Índice de Massa Corporal (IMC) dividindo-se o peso (Kg) pela altura ao quadrado (m²). As pessoas que apresentam valores acima de 30 são considerados obesas. As mudanças no padrão de alimentação do brasileiro, bem como o menor tempo dedicado a atividades físicas, levam cada vez mais pessoas ao excesso de peso e obesidade. Ano passado, a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) avaliou que 56,9% dos brasileiros com 18 anos ou mais estão acima do peso.
De acordo com o Ministério da saúde, o excesso de peso e a obesidade são fatores de risco para Doenças Crônicas Não Transmissíveis, que constituem um problema global de saúde. O tratamento orientado por especialista evita uma série de complicações, como as cardiovasculares e as ortopédicas.
A hipertensão é uma das principais causas de problemas cardiovasculares e é também fator de risco para complicação de acidente vascular cerebral (AVC). Em nota, o Ministério da Saúde reforçou que a doença causa 7,5 milhões de mortes no mundo, equivalente a 12,8% do total. Por meio do Farmácia Popular, a população tem acesso a seis medicamentos para hipertensão.
“Não tem cura”
Graças ao acompanhamento médico, Odilon percebeu que a limitação não se tratava apenas de preguiça ou maus hábitos e sim, de uma doença. A endocrinologista do hospital Santa Luzia de Brasília, Cristina Blankenburg, conta que a obesidade é uma doença crônica. “Não tem cura e o paciente precisa estar sempre em tratamento através de uma alimentação saudável, atividade física e novos hábitos”, explicou. Ela reforça que, geralmente, a doença está relacionada a questões genéticas e avalia que o tratamento depende de outros profissionais, como por exemplo, um nutricionista. Para Odilon, sem uma reeducação alimentar, é inviável que o objetivo seja atingido e mantido. “Hoje como decentemente e escolho não consumir gorduras e frituras. Eu achei que emagreceria e me tornaria chato, mas a realidade é que me redescobri. Parei até de beber e não sinto a menor falta”, disse.
Reeducação
A nutricionista Sara Camargo mostra que tudo depende de mudanças de hábito. “Hoje não se fala mais em dietas e sim em reeducação alimentar. Assim, fica mais difícil voltar aos velhos hábitos”, analisou. Apesar de todo esforço de um profissional da nutrição, ela reforça que se não houver dedicação do paciente, não há chances de bons resultados. “Nós implantamos alimentos saudáveis e sugerimos que seja feita uma redução da quantidade de alimento nas refeições. Mas, sem o casamento de uma atividade física com uma terapia, é ainda mais difícil que o emagrecimento seja eficiente”, completou. Segundo a especialista, boa parte das dificuldades das pessoas obesas está na ansiedade que pode ser tratada com acompanhamento psicológico.
O relacionamento de Odilon com familiares e amigos melhorou e isso veio através de uma mudança no jeito dele de ser. Além disso, ele desabafa que teve descobertas na vida sexual.
“Passei por fases em que eu só via vídeos. Eu tinha muitas limitações”, disse. Para encarar o renascimento, o motorista recorreu a ajuda de um terapeuta e conta que, a partir disso, passou a se conhecer melhor.
A terapia está relacionada com a mudança de hábitos. Segundo a psicóloga Tatiana Sant’anna, 38, o autoconhecimento é importante para qualquer processo de vida. “Com acompanhamento psicológico, é possível fazer o paciente entender qual o real motivo para o emagrecimento. Assim, trabalhamos na busca de encontrar novos prazeres”, explicou. Ela reforça que a compulsão por alimentos é uma patologia e está relacionado a ansiedade.
“Há casos em que o paciente inicia terapia no intuito de fazer a cirurgia bariátrica, mas depois de feita, ele interrompe o tratamento e engorda novamente. Isso porque a mudança de hábitos não foi feita. É preciso encontrar novos significados de vida”, completou. Para a especialista, o casamento das profissões pode ajudar muito no processo. “Atividade física é fundamental, pois melhora auto estima e desestressa”, comentou.
Prazer na educação física
Para comprovar esta importância, o educador físico Victor Riveira, 30, reforça o quanto se movimentar é fundamental para atingir um peso saudável. “O projeto começa na mente. Costumo me embasar na ciência para fazer os meus alunos entenderem que a atividade física é fundamental no processo de emagrecimento”, relatou. Para Victor, além de influenciar diretamente na saúde, a atividade física pode se tornar um prazer que ajuda na perda de peso. “O segredo é alimentação saudável e treinamento intenso”, ponderou.
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Foi o que aconteceu com a turismóloga Janiere Figueiredo, 48, que sempre foi contra cirurgias. “Emagreci sozinha e me orgulho disso”, contou. Ela perdeu 20kg em um ano e está na melhor fase da vida. “Hoje sou atleta, corro seis vezes na semana, mas, sem atividade física, eu não teria melhorado minha qualidade de vida”, avaliou. Para ela, a grande dificuldade que as pessoas têm no momento em que decidem emagrecer, é o imediatismo.
“É um processo lento que demanda força de vontade e paciência. Eu encontrei novos prazeres, adoro cuidar da minha alimentação, hoje adoro frutas, saladas e não troco minha atividade física por nada”, disse.
Incentivos
Em 2011, o Ministério da Saúde firmou o Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis no Brasil (2011-2022), com o objetivo de deter o avanço das doenças crônicas e os fatores de risco. De acordo com o órgão, a meta é reduzir em 2% ao ano o número de mortes por estas doenças.
O investimento nesta área cresceu 106% em quatro anos, chegando a R$ 20 bilhões em 2014. Segundo o governo, são quase 40 mil equipes de Saúde da Família, capazes de atender 60% da população. Ações de promoção à saúde são realizadas com mais de 18 milhões de alunos do ensino fundamental por meio do Programa Saúde na Escola. Em 2014, mais de 4.000 municípios que participam da iniciativa adotaram também medidas nas creches para avaliação antropométrica e promoção de alimentação saudável das crianças de até dois anos. A partir de acordo firmado entre Ministério da Saúde e as indústrias de alimentação foi possível retirar entre 2011 e 2014, 7.652 toneladas de sódio da mesa do brasileiro. O governo destaca também a importância de incentivos para a prática de atividades físicas. O Programa Academia da Saúde conta com 1.568 polos com equipamentos e profissionais qualificados e a publicação do guia alimentar a população brasileira.
Rede pública tem meta para 2018
O sobrepeso é um problema que pode afetar qualquer classe social, principalmente por não estar relacionada somente a descontrole alimentar. De acordo com a Fernanda Farias, coordenadora do Grupo Condutor Central da linha do Cuidado do Sobrepeso e da Obesidade na Secretaria de Saúde, uma nova medida será implantada até 2018 em todo o Distrito Federal e vai se chamar Linha de Cuidado da Obesidade. “Trabalharemos com três níveis de atendimento e cada um será direcionado para a necessidade do paciente”, explica.
O atendimento na rede pública para tratamento de obesidade já existe no DF, com endocrinologistas e nutricionistas. Mas, segundo a coordenadora, a linha de cuidado da obesidade vai contar mais profissionais e com parcerias do Ministério do Esporte e da Educação. “Será um acompanhamento mais específico e até o final deste ano, estaremos com o novo método em todo centro norte do DF”, explica.
O modelo foi aprovado pela portaria 184 em 17 de setembro de 2014 e foi publicado no Diário Oficial treze dias depois. Fernanda reforça que o primeiro passo será levar a novidade aos servidores. “No segundo semestre deste ano capacitaremos todos os servidores. Ainda estamos no processo de planejar a capacitação”, disse.
Por Mariana Areias
Imagens: arquivos pessoais
Imagem de capa: Pixabay – Domínio Público