O parabadminton não vai participar das olimpíadas de 2016. Considerado olímpico no inicio de 2015, o esporte começará a sua trajetória no ciclo olímpico a partir de 2017 e estará presente nos jogos de 2020. Mais uma vitória, para o esporte que já vem trazendo muitos títulos para o Brasil. Dessa maneira, a modalidade se prepara para anos promissores.
Em 2013, o primeiro passo foi dado para que o esporte fosse visto de outra maneira. Foi com Rômulo Soares, principal atleta da modalidade no Brasil, sendo o sexto no ranking mundial em sua categoria. “Isso foi de uma importância tão grande, em saber que o país não tinha referência nenhuma, que não tinha chances de ganhar um jogo sequer, e isso aconteceu na primeira oportunidade, no primeiro mundial que nós participamos, então foi um divisor de águas”, afirmou. Após esse feito, o país veio crescendo até mudar a forma como os brasileiros eram vistos lá fora. “Eu acho legal que, quando a gente ia para torneios internacionais, eles já contavam com a vitória sobre nós e já começavam a se preparar para o próximo jogo, eles nem assistiam”, conta. “Já nas últimas oportunidades, você via todo mundo assistindo porque sabia que agora a gente estava chegando forte”, completou.
Os investimentos do esporte, a partir do feito alcançado por Rômulo, também mudaram, mas ainda não é o ideal. “O investimento aqui ainda é muito baixo, existe ainda muito potencial a ser descoberto e o investimento é pequeno. Aqui do lado, no Peru, que sediou um mundial, tem um centro olímpico totalmente equipado, com hotel dentro do complexo esportivo”, apontou. Mesmo que houvesse mais recursos, a cultura ainda não permite total valorização dos profissionais, o que não é exclusivo ao parabadminton. “É difícil porque o cara não pode se dedicar a ensinar um para atleta porque como é que a pessoa vai se sustentar?”, interroga.
O atleta ressaltou que as dificuldades do atleta paralímpico no país começam fora das quadras. “No Brasil a gente tem um problema sério que vem antes desse apoio ao esporte que é, no meu caso, uma pessoa com deficiência não poder nem sair de casa direito, então o problema ainda vem antes do investimento lá dentro da quadra”, disse. “Quando a pessoa vira e fala que é legal a nossa superação, ela não esta colocando a gente para cima, mas sim, me colocando diferente. Essa coisa da superação não é nada, é uma pessoa comum que anda de cadeira de rodas e tem que se virar”, constatou. “Mas se tiver acessibilidade, se o governo oferecer formas de o atleta sair de casa para trabalhar, praticar esporte, se divertir, ele vai fazer isso. A pessoa com deficiência é uma pessoa que produz e que consome, então não deve ser tratada com indiferença”, desabafou.
Desde 2005, o atleta participa do para desporto. Ele sofreu uma lesão na medula, de nível L5. “Eu mexia com corrida de carro e, lembro como se fosse ontem, eu me levantei, já de macacão, coloquei o capacete para testar um carro, bem possante. Eu senti uma dor na parte de trás aqui na coxa e achei estranho, eu mexia os pés, mas não sentia os dedos e, como eu não estava bem, resolvi não entrar no carro e fui direto para o medico”, pontuou.
Após algumas consultas, sem sucesso, veio a preocupação. “Eu cheguei nesse hospital andando e já fui logo para a internação, passei para a cama e já não sentia mais as pernas. Fiquei um bom tempo sem sentir nada da cintura para baixo”, inteirou. Mesmo com as dificuldades, ele não se entregou. “Graças a Deus, hoje eu dirijo sem adaptação e, apesar de eu ter uma dificuldade para andar, algumas vezes eu faço coisas do modo convencional. Se você não deixar essa deficiência ir para a sua cabeça a coisa fica mais fácil. Eu preferi não me entregar e ficou mais fácil ficar na batalha e continuar na luta.”
Foi com Soares que a história internacional do esporte começou a ser escrita. Em 2013, em Dortmund, Alemanha, aconteceu a primeira vitória internacional do Brasil. “O primeiro mundial foi uma experiência muito boa e a gente acabou conseguindo ganhar um jogo. Mesmo sendo apenas um jogo, isso foi o divisor de água, fez a gente perceber que a estávamos na trabalhando corretamente e que podíamos colher frutos disso”, comemorou.
Além disso, ele ainda tem uma carreira recheada de títulos, que continuam a colocar o país no topo do esporte, além de sua alta posição no ranking mundial. “Hoje eu sou campeão pan-americano de Havana, em Cuba, e a mais recente internacional foi um campeonato que aconteceu em Lima, no Peru, que eu fui campeão em simples e em duplas. E eu ganhei também a primeira etapa do campeonato brasileiro deste ano”, citou.
Com uma rotina de treino diária, Rômulo alterna treinos táticos e físicos. “Eu treino a semana toda, fazendo alguma coisa relacionada ao esporte. Segunda, quarta e sexta-feira, eu treino de manhã no centro de Orientação Sócio Educativa (COSE), situado em Taguatinga, aonde eu treino a técnica, baseada na repetição e são só cadeirantes”, avisou. Nesses mesmos dias, acontece a prática da teoria aprendida pela manhã. “À noite, eu treino no Centro Integrado de Educação Física (CIEF), que fica na 907 sul. Nesse segundo treino, eu sou o único cadeirante, sendo que os outros atletas são do badminton convencional”, arrematou.
Disputar os jogos olímpicos de 2020 é um sonho para todos os atletas da modalidade, é marcar a história como o primeiro campeão olímpico. Mas ele sabe que não será uma tarefa simples. “É um trajeto longo, extremamente cansativo, muito suor, mas é possível e o meu maior sonho é participar de uma olimpíada, não necessariamente ganhar”, indicou. “Não quer dizer que seja fácil chegar lá e ganhar, apesar de eu estar na sexta posição do ranking mundial, mas há possibilidade de a gente conseguir alguma coisa e eu vou estar me preparando para isso, é o meu maior sonho”, concluiu.
O parabadminton é separado por categorias. Para os cadeirantes, conforme a sua limitação, o atleta é encaixado em duas categorias, WH1 e WH2, sendo a primeira para atletas com mais dificuldades. Para os não cadeirantes, a divisão é maior, sendo quatro, SL3, SL4, que se remetem a atletas que possuem algum comprometimento na parte inferior, e SU5, que se referem aos membros superiores, e SS6, que são atletas com baixa estatura.
Por Gabriel Lima