– Qual o seu nome? “Maria de Jesus”. Ela responde rápido. Tem que aproveitar cada vez que o sinal fecha para tentar vender panos de prato, saco de lixo e doces… e se ninguém comprar, pede ajuda. Hoje, aos 56 anos, nascida no interior do Ceará, ela não se cansa. Mãe solteira, criou quatro filhos sozinha. Ela está desde 1976 em Brasília, trazida pelo irmão mais velho que a criou. Maria perdeu a mãe quando tinha 10 anos de idade.
Nas lembranças das ruas, traz arranhões na memória. Em 2005, foi atropelada por um veículo e sofreu várias fraturas em todo o seu corpo, ela só se lembra de acordar “viva” na maca do hospital. Isso atrapalhou o emprego que tinha como doméstica e qualquer outra possibilidade de emprego por contrato. “Eu fui atrás, mas ninguém queria me contratar porque eu sou toda quebrada, eu não subo meus braços pra cima, eu não abaixo, eu não levanto sozinha”, emociona-se.
De quatro anos para cá, encontrou uma oportunidade de trabalho no sinal, para suprir suas necessidades de moradia e alimentação. Como mora sozinha, conta penas com ela mesma e com o transporte público de Brasília para ir ao serviço. A única ajuda que recebe do governo é o auxílio doença por conta de seu acidente.
Ela diz que consegue comprar por um preço menor em atacados, assim obtém seu lucro. Manda fazer saquinhos de bala com mensagens para entregar no sinal. “E aí, as pessoas compram não é porque querem as balas, eu sei disso, é mais pra ajudar”, explica Maria.
Maria trabalha de 7h da manha às 17h (sem parar). A única queixa é o sol, calor constante. Por isso, usa roupas largas e um chapéu para proteção. “Às vezes recebo cestas básicas de pessoas que passam por aqui”. Na esperança do próximo sinal fechado, evita frases longas. O sinal está vermelho para ela.
Por Frederico Beck, Lucas Oliveira e Elisa Costa.
Fotos: Henrique Kotnick.


