Violências contra mulheres são selvagerias persistentes, diz socióloga

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“Costumo definir as singelas caminhadas diárias pelas redondezas do campus como situações de terror psicológico. Somos desrespeitadas diariamente independente dos fatores comunente considerados pelo senso comum subjetivado nesta cultura machista”, disse Fernanda Flacon, estudante de psicologia em São Paulo. Sensações como a dela não são raras. A professora de Sociologia Lourdes Bandeira, entende que essa é uma discussão importante no âmbito acadêmico. A universidade é cenário de diversos casos de assédio, dentro e fora da sala de aula, e a socióloga explicou melhor quais são os tipos de violência contra a mulher e como identificá-los.

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64% acham que o tema deve ser incluído nas aulas, e 78% das mulheres concordam com essa iniciativa

De acordo com Lourdes Bandeira, são inúmeras as manifestações de desigualdades produtoras de violência que atingem os seres humanos. No entanto a vítimas preferenciais ao longo da história da humanidade têm sido as mulheres. Trata-se de uma selvageria persistente e presente nas relações interpessoais, no convívio cotidiano, onde se manifestam as diversas expressões de assédio. “Em trinta anos nós tivemos aproximadamente cem mil mulheres mortas. Nem uma guerra mata tanto”, destacou a socióloga.

Dados levantados em 2014 pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública retratam o atual quadro do país em segurança para o sexo feminino. Difícil dizer que existe uma mulher que não tenha sofrido qualquer tipo de assédio. A violência contra elas é uma realidade triste, mas que faz parte do cotidiano e está cada dia mais evidenciado nos noticiários. Abordar esse assunto no ambiente acadêmico e analisar o comportamento dos jovens foi tema de uma pesquisa do Instituto Avon, uma organização que visa o bem estar feminino, em parceria com o Instituto Data Popular.

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A instituição, por meio de suas ações, busca dar voz para aqueles que necessitam falar de violência contra a mulher e contribuir para que esse assunto seja absorvido de forma ampla pela sociedade. “A melhor forma de lidar com o assédio é procurar órgãos competentes para que o culpado seja punido, mas nem sempre é uma tarefa fácil expor sua privacidade com estranhos. O ideal é que haja conscientização para combater esse tipo de violência, principalmente nas universidade”, exclamou Tarcila Rezende, estudante do quinto semestre de jornalismo na Universidade Católica de Brasília. As pesquisas foram feitas com o intuito de criar uma base de dados para futuras atividades em defesa das mulheres e em prol do bem estar feminino, promovendo o debate e a reflexão geral.

É considerada violência contra a mulher qualquer tipo de prática agressiva, seja fisicamente, moralmente ou psicologicamente. Assédio sexual, coerção, violência física, desqualificação intelectual, agressão moral e violência sexual foram definidos, de acordo com a pesquisa, como vertentes da violência contra a mulher. O levantamento mostra que 42% das estudantes brasileiras já sentiram medo de sofrer violência no ambiente universitário e 36% já deixaram de fazer alguma atividade acadêmica por medo de sofrer violência.

Ambiente acadêmico

Um dos destaques na pesquisa dos Institutos Avon e Data Popular é se a violência contra a mulher deveria ser discutida nas universidades. Entre os homens, 64% acham que o tema deve ser incluído nas aulas, e 78% das mulheres concordam com essa iniciativa. Um outro levantamento também mostra que 95% das mulheres acredita que a faculdade deveria criar meios de punir os responsáveis por cometer violência contra elas na instituição e 88% dos homens compartilham desse pensamento.

De acordo com a estudante de mestrado em Ciência da Computação na UFSCAR, Larissa Albano, sua faculdade não possui nenhuma prática para conscientizar seus alunos, mas existe um grupo de meninas que debatem o tema, colam cartazes e publicam em redes sociais com o objetivo de atingir as mulheres e os homens da instituição. “Acredito que a faculdade poderia fazer mais ações, como oferecer palestras e incentivar os professores a falarem sobre o assunto com seus alunos para que, assim, possa conscientiza-los sobre a gravidade da situação”, contou Larissa.

Por Pedro Amaral

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