Curtos, compridos, trançados ou livres ao vento. O número de mulheres negras adeptas dos cabelos cacheados e crespos aumentou nos últimos anos, segundo os proprietários de salões de estética de cabelo afro. Estudo da Codeplan apontou que 55% das mulheres do Distrito Federal se declaram negras. O índice sobe para 56,9% entre as meninas menores de 15 anos.
Assista a vídeo sobre salão afro
A demanda por mão de obra especializada abriu espaço para salões de beleza específicos para cabelos crespos. Impulsionada pela promessa de ganhar um salão convencional, Adriana Dalles Nascimento, 32 anos, concluiu o curso de cabeleireiro em 2007.
LEIA MAIS SOBRE O ASSUNTO: MÃES E PSICÓLOGOS REPUDIAM PRESSÃO SOBRE ESTILO DE CABELO DE CRIANÇAS
Com o tempo percebeu que não queria trabalhar com alisamentos e que tinha dificuldades em encontrar locais para cuidar do próprio cabelo crespo. Junto com as irmãs, Rose Costa, 33 anos e Ana Paula Nascimentos, 27 anos, resolveu investir em algo novo: tranças raiz, rastafáris e penteados afro.
Hoje, a equipe do salão Afro Rainha de Sabá, no Conic é composta por sete cabeleireiros e dois auxiliares para os fins de semana, quando a procura é maior. Adriana conta que nos últimos meses tem notado a maior procura de mulheres que querem aprender a lidar com os fios naturais, para abrir mão do uso de produtos químicos para alisar. “Recebemos muitas mulheres adultas que passaram a vida toda fazendo progressiva. Até mesmo para não precisar ir com tanta frequência ao salão”, conta.
As irmãs ressaltam que as tranças podem ser feitas em crianças a partir dos 3 anos de idade e que duram, no máximo, três meses. Elas explicam que os cuidados com os fios trançados são importantes para manutenção e beleza do trabalho e acreditam julgam necessário mais exposição na mídia, para incentivar jovens que sentem vergonha de usar o cabelo natural

A estudante Cecília Balbino, 16 anos, começou usar produtos químicos aos dez anos de idade. “Não gostava do meu cabelo, era muito volumoso e isso me deixava triste”, relembra. Durante anos, ela limitou as saídas com amigas para piscinas ou churrascos. Além dos produtos agressivos, Cecília não saia de casa sem usar chapinha. “A progressiva não deixava meu cabelo tão liso como eu queria”, conta.
Há quatro meses, a jovem tentou se livrar do uso de alisantes. No primeiro mês, a tentativa fracassou e logo voltou a recorrer à chapinha. Mas, agora encontrou nas tranças uma tentativa de se adaptar. “Procurei salões pela internet. É muito interessante porque elas sabem como tratar do meu cabelo natural. Minha mãe e amigas me incentivaram muito. Me sinto mais livre assim”, desabafa.
“Não queremos que seja só modinha, mas cultural. Hoje existem mais alternativas, mas ainda é complicado ajudar alguém a deixar de usar química no cabelo. Muitas pessoas perguntam “posso pegar no seu cabelo?” e geralmente tenho uma resposta negativa para isso, pois ele não é mostruário. Somos livres e podemos usar o cabelo como quisermos”, comenta Rose.
A variedade de serviços para cabelos cacheados vai além do universo das tranças, o Salão Afro & Cia Espaço Ponto Chic no Riacho Fundo trabalha com a terapia capilar. “Avaliamos cada cliente que chega, montamos um cronograma capilar com hidratações, umectações e nutrição e o mais importante, ensinamos como ela deve lavar, pentear e tratar em casa”, explica a proprietária do estabelecimento, Adriana Ribeiro, 37 anos.
Apesar de ser referência em cuidados para as clientes agora, Adriana alisou os cabelos, até que a filha de 9 anos começou a pedir para fazer o mesmo “Passei pelo processo de transição, que é quando deixamos de usar química, fiz o Big Chop que é o corte da parte com química e usei um aplique por 7 meses. Mas minhas clientes viram meu cabelo natural e começaram a questionar”, relembra. Então, Adriana resolveu mudar o foco do salão.
Ela conta que o período para a restauração de um cabelo com química dura, em média, 14 meses. E o que mais recomendado para se livrar da parte danificada é o corte. “Infelizmente, muitas clientes chegam aqui até queda de cabelo”, conta. Além disso, muitas desconfiam dos produtos e procedimentos no salão, por não usar produtos químicos.
“Acontece de ter clientes que querem fazer chapinha, escova ou pintar. Mas, não temos produtos para isso. É o que eu e minhas clientes sentimos ao chegar em qualquer salão convencional. Os funcionários olham com desdém. Mulher negra se sentir cuidada e respeitada”, destaca.
Por Marlla Sabino