Agricultores percebem mudanças climáticas e se sentem vulneráveis

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Uma pesquisa realizada pela Rede Clima aponta que os agricultores familiares de três biomas brasileiros (Amazônia, Cerrado e Semiárido) percebem as mudanças climáticas pelo distanciamento das estações da seca e da chuva. Apesar de se sentirem vulneráveis, eles demonstram dificuldade de adaptação ao cenário.

Semiárido BrasileiroPara a pesquisadora associada da Rede Clima, Melissa Curi, os agricultores das três regiões têm a mesma percepção, ainda que a realidade da Amazônia, que é um outro bioma, seja diferente.

“É uma outra distribuição de chuvas, outro tipo de solo e são outras realidades. Mas todos têm essa convergência de estar existindo uma mudança. Ou de secas mais longas, ou de chuvas em distribuições diferentes”, afirma a pesquisadora. Melissa integra a Rede Clima, que desenvolve pesquisa continuada sobre percepção de agricultores familiares sobre o clima. A pesquisa já aplicou mais de 1.600 questionários nesses três biomas brasileiros

Apesar da percepção da mudança climática, pouco é feito pelos agricultores na hora de se adaptarem, por isso se encontram em situação de vulnerabilidade. “Quando diz respeito àquela produção agrícola que eles estão acostumados a fazer de geração em geração, bem tradicional, não é muito fácil essa mudança”, explica a pesquisadora. Melissa conta que as análises e os resultados permitem aos pesquisadores constatarem que apesar de a academia produzir estudos sobre esse tema, nem sempre conseguem ajudar nas estratégias de adaptação dos agricultores.

Religiosidade e renda de programas governamentais dificultam adaptação

Um fator que agrava a dificuldade que o agricultor familiar tem em se prevenir contra as alterações do clima, é o fato de associarem as mudanças à religião. O Nordeste, por exemplo, a religiosidade é muito enraizada. Geralmente, eles colocam a responsabilidade da escassez ou do excesso de chuva em Deus. “Deus vai prover, se Deus quiser vai chover, ou então é porque Deus não quer”, exemplifica a pesquisadora, dizendo que essas são as expressões usadas e captadas pela pesquisa.

Adaptar-se ao clima não é prioridade para os agricultores familiares, pois a renda está associada a programas governamentais. Segundo os pesquisadores, os agricultores não se preocupam tanto com a questão financeira, porque a fonte de renda deles deixou de ser a produção agrícola. “Hoje em dia os agricultores não se preocupam tanto com a adaptação, porque, atualmente, eles têm outros subsídios de sobrevivência, como por exemplo, a bolsa família e aposentadoria”, explica Melissa.

As questões financeiras, no entanto, são importantes para a continuidade da pesquisa desenvolvida pela subrede Desenvolvimento Regional e Mudanças climáticas coordenada pelos doutores Marcel Bursztyn e Saulo Rodrigues Filhos, do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília (CDS/UnB) . Segundo o coordenador Saulo Rodrigues a falta de recursos financeiros é uma das principais dificuldades que a subredes enfrentam. “A dificuldade é a busca de recursos financeiros para financiar as atividades de pesquisa. Nós precisamos levar a equipe a campo”, comenta Saulo.

A Rede Clima – Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais foi instituída pelo Ministério da Ciência e Tecnologia e tem como missão gerar e disseminar conhecimentos para que o Brasil possa responder aos desafios representados pelas causas e efeitos das mudanças climáticas globais.

Saulo Rodrigues - Rede ClimaA Rede Clima é composta por 13 subredes, entre elas, está a subrede Desenvolvimento Regional e Mudanças Climáticas coordenada pelos doutores Marcel Bursztyn e Saulo Rodrigues (foto), do Centro de Desenvolvimento Sustentável da UnB (CDS/UnB) . Os trabalhos da subrede tiveram início em abril de 2009, com a motivação científica de acompanhar e contribuir com o debate sobre adaptação, vulnerabilidade e resiliência da agricultura familiar.

O coordenador Marcel Bursztyn explica no vídeo a subrede Desenvolvimento Regional e Mudanças Climáticas e as atividades de pesquisa desenvolvidas pela equipe de pesquisadores do CDS/UnB.

Por Ana Paula Almeida, Ana Paula Véras e Fellype Sales – Agência de Notícias UniCEUB

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