Anticoncepcionais aumentam risco de trombose

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Injeções, anticoagulantes, fisioterapia, medicamentos. Essas são apenas algumas das lembranças de Janaíres Pires, 40 anos, do tempo que estava internada devido a uma trombose após o uso de anticoncepcional, em dezembro de 2014.

A educadora física utilizou o dispositivo intra-uterino (DIU) durante oito anos, e no período de troca de anticoncepcional após o vencimento  do DIU, Janaíres começou a sentir fortes dores abaixo do pulmão. Foi levada ao hospital e, após ser diagnosticada com trombo no pulmão direito, ficou três dias na UTI e mais 11 dias internada. Depois de receber alta, ela teve que tomar anticoagulantes por quatro meses e fazer exame de sangue semanalmente. “Ainda estou em tratamento, e a cada seis meses tenho que ir ao hematologista”, contou.

Devido aos riscos e ao medo, Janaíres disse que não utiliza mais anticoncepcionais. “É algo tão sério que, quando for época de repor hormônios, terei que procurar remédio fitoterápico. Não tomo anticoncepcional de forma nenhuma”, afirmou convicta.

Medicina

Representante da Associação de Ginecologia e Obstetrícia do Distrito Federal (SGOB) e mestre pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Bruno Ramalho de Carvalho, ressaltou que, dos efeitos adversos dos anticoncepcionais contendo estrogênio, a trombose venosa “merece destaque”. O médico esclareceu que pela literatura científica atual, a trombose é uma complicação que deve ser atribuída exclusivamente às formulações combinadas, ou seja, contendo um derivado do estrogênio. “São efeitos adversos relativamente comuns dor de cabeça, náuseas, alterações da pele, como a acne, por exemplo. Mas, como qualquer medicamento, podem levar a outros efeitos individualmente”, explicou.

Em 2008, o estudo holandês MEGA (do Inglês, Multiple environmental and genetic assessment of risk factors for venous thrombosis-study) determinou que mulheres usuárias de anticoncepcionais combinados contendo o progestagênio levonorgestrel tinham risco de trombose venosa entre três e quatro vezes maior que o estimado para mulheres não usuárias. Para as combinações contendo gestodeno, desogestrel, ciproterona e drospirenona, o risco de trombose foi de cerca de seis a sete vezes em relação ao esperado para mulheres que não utilizavam anticoncepcionais.

Bruno de Carvalho informou que, em relação à trombose, pode-se dizer que os riscos existem quando combinam um derivado da progesterona a um estrogênio. E que serão maiores quando o progestagênio for outro que não o levonorgestrel. “O mais importante é dizer que a prescrição do anticoncepcional hormonal deve ser individualizada e a escolha da opção contraceptiva feita em consulta a profissional habilitado para tanto, de acordo com as características clínicas de cada mulher”, informou. O médico destacou que devem ser pesquisados antecedentes de trombose venosa pessoal ou em parente de primeiro grau, obesidade, tabagismo, alterações da glicemia ou do colesterol, e varizes. “A atenção, cabe dizer, vale para qualquer apresentação e não apenas para as pílulas”, reforçou.

O médico afirmou que hoje, praticamente todas as formulações disponíveis trazem baixas doses de estrogênio. E disseque o método mais seguro será aquele que melhor se adapte à realidade e aos anseios de cada mulher individualmente, escolhido depois da adequada orientação profissional. “A associação entre o contraceptivo e o preservativo garante a melhor e mais completa proteção”, ressaltou.

Além da contracepçãoeditada

Aryanne Rodrigues, 25 anos, utilizou anticoncepcional durante 2015 para tratamento de ovários micro policístico e todas as desordens decorrentes da falta de estrogênio. Em anos anteriores, quando utilizou o medicamento como método contraceptivo, relatou náuseas e sensibilidades nos seios.

A paulistana, que atualmente mora na Alemanha, contou que foi a dois médicos no local e que a diferença no atendimento, em relação ao que teve no Brasil, foi a orientação sobre as dosagens das pílulas, os tipos e finalidades existentes. “Toda ida ao consultório pode ser acompanhada de uma ecografia”, acrescentou. Além disso, Aryanne disse que explicam sobre os riscos, e deixam claro que ser fumante e/ou obeso são os dois fatores de maior risco, mas que a escolha pode ser feita pela mulher. “Geralmente recomendam que tome a menor dose possível de hormônios para tratar ovários policísticos, mas deixam claro que se a dose for muito fraca não adianta para este fim”. Aryanne contou que, naquele país, para fins de contracepção, os médicos costumam recomendar algo semelhante ao DIU, e não o anticoncepcional.

Aryanne disse que pensa em parar a utilização de anticoncepcional. “Só tomava para tratar ovários micro policísticos. Como os cistos passaram a ser quase imperceptíveis no último teste, não é mais necessário tomar. Para método de contracepção sou a favor do uso 100% de camisinha”, explicou.

Bulas informam na parte de "advertência" sobre os riscos
Bulas informam na parte de “advertência” sobre os riscos

Métodos contraceptivos e segurança

A Coordenadora do Programa de Atenção Integrada a Saúde da Mulher na Asa Sul e médica especialista em reprodução humana assistida, Carla Martins, 51 anos, explica que cada anticoncepcional possui um risco-benefício diferente, seja pílula, injetável, DIU, entre outros.

A médica explica que todos os anticoncepcionais combinados que possuem estrogênio e progesterona na fórmula, como grande parte das pílulas orais, podem causar trombose. “Todos têm esse risco, sempre teve, desde a década de 60, quando foram lançados no Brasil”.

A trombose é uma causa de morte de mulheres, entretanto a coordenadora afirma que a incidência é pequena. “Na população jovem, duas a cada 10 mil mulheres que não utilizam anticoncepcional desenvolvem trombose. Já entre as mulheres que usam, esse número sobe para 12 casos a cada 10 mil mulheres”, informou. A coordenadora acentua que o óbito só ocorre em casos que a mulher não reconhece os sinais da condição ou que não foi tratada adequadamente, e que a trombose não deixa sequelas graves, como deficiências motoras.

Os anticoncepcionais hormonais orais e injetáveis aumentam o risco de trombose, e quando a mulher está grávida o risco é maior. “Se a mulher tem pré-disposição genética de ter algum distúrbio de coagulação, com o uso do anticoncepcional ela antecipa a trombose. Há maior risco de morte por trombose do pós-parto”, explicou.

Para diminuir o risco de trombose, a médica sugere a utilização de métodos não hormonais para contracepção. “Camisinha, diafragma, DIU de cobre e anticoncepcionais que não tem estrogênio na fórmula”, exemplificou.

A médica reforçou que os anticoncepcionais trazem poucos riscos e efeitos adversos. “O grande problema são pacientes que não tem indicação e fazem uso por conta própria”. Ela ressalta que o acompanhamento médico é essencial.

Trombose

O que são anticoncepcionais?

As pílulas anticoncepcionais são métodos hormonais para evitar filhos, que podem ser combinadas, quando há o componente estrogênico (derivado do estrogênio) e o componente progestagênico (derivado da progesterona), ou compostas de progestagênios isolados. Mas há também outras apresentações de contraceptivos hormonais, como as injetáveis, o adesivo transdérmico, o anel vaginal, o implante subdérmico e o sistema intra-uterino. A liberação no Brasil é regulada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).

Além dos benefícios contraceptivos, os anticoncepcionais hormonais podem individualmente contribuir para melhorias da pele, cabelos e unhas, controle de ciclo e/ou do fluxo menstrual, tratamento das cólicas menstruais, tratamento clínico da endometriose, entre outros. Esses benefícios devem ser avaliados individualmente, o que quer dizer que nem toda mulher terá os mesmos benefícios com um mesmo método anticoncepcional, explicou o médico Bruno de Carvalho.

 

Fotos: Daniella Bazzi

Arte: Camila Campos

Por Daniella Bazzi

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