Em entrevista exclusiva à Agência de Notícias UniCEUB, o diretor titular do Departamento de Meio Ambiente e integrante do Comitê do Clima da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP), Nelson Pereira dos Reis, comenta sobre os objetivos dos representantes da indústria brasileira na Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas, ressalta o protagonismo do Brasil e diz que a questão climática é um assunto para todos os setores da sociedade.
Nelson dos Reis, por telefone na segunda-feira, dia 11, enfatizou que o maior ganho da participação da Fiesp nas COPs é o conhecimento da realidade mundial e da tendência dos países. De acordo com ele, a delegação brasileira apresenta proposta de metodologia única para a apuração das emissões. Para ele, é importante observar como os países evoluem em suas ações para reduzir emissões.
Nelson também apontou os vazios das Conferências como a questão do financiamento que não acontece apesar de os países terem se comprometido com o assunto e a necessidade de transferência de tecnologia entre os países para que os menos desenvolvidos possam ajudar no esforço de redução das emissões.
A Conferência das Partes (COP 19) acontece em entre 11 e 22 de novembro em Varsóvia (Polônia). Cinco membros da Fiesp, um diretor e quatro técnicos, em sistema de rodízio, marcam presença em discussões as quais especialistas consideram essenciais para a elaboração de um novo Protocolo de Kyoto, provavelmente a entrar em vigor em 2015, na COP 21, que será sediada em Paris. Delegação da Fiesp também esteve presente em COPs passadas.
Agência – Primeiramente, qual a importância da presença da maior entidade industrial brasileira em um evento dessa magnitude?
Nelson dos Reis – Nós entendemos que a questão de mudança do clima é relevante não só para a indústria, mas também para outros setores como o público ou até mesmo para a sociedade. Temos que trabalhar bem porque no final participamos de uma delegação brasileira, e o que vale são as palavras oficiais. Discutimos com o governo como vamos encaminhar as nossas posições para vislumbrarmos ações necessárias para uma economia com sustentabilidade mais efetiva. Temos uma indústria que está fazendo esforços para migrar para uma economia de baixo carbono e cada vez menos gerar gases de efeito estufa. No fim, não podemos funcionar sem que haja energia – que são politicas públicas. Por isso temos que acompanhar de perto o que acontece para que tenhamos uma distribuição de energia adequada e, de outro lado, o desafio, para que ela seja encaminhada para as fontes distribuidoras.
Agência – Quais são as propostas levadas pela Fiesp para a COP 19?
Nelson dos Reis – Essa COP vai tratar basicamente do que será feito a partir de 2020, quando termina o Protocolo de Kyoto. Já está agendada para 2015 a assinatura de um novo acordo que será em Paris. É preciso, primeiro, fazer com que o novo acordo seja mais ambicioso do que foi o próprio Protocolo, e que tenha uma força vinculante para os países que vão assiná-lo. O governo está levando a proposta para que o IPCC desenvolva uma metodologia para apuração das emissões de cada país, para que seja possível mais clareza nos números na hora de fazer os balanços das emissões.
Outro ponto é que em Copenhague (Dinamarca – COP 15) foram definidas as NAMAS (ações de mitigação nacionalmente adequadas). Como começam a valer, que sejam reconhecidas como definição dos números a partir de 2020. É um incentivo tanto para que as ações antecipadas sejam emitidas como para que os países não posterguem o que devem fazer para 2020.
Agência – O setor industrial brasileiro participou com força total na Rio +20 mostrando que meio ambiente é um assunto estratégico para a indústria. Como as mudanças climáticas estão relacionadas ao gerenciamento de risco para o setor?
Nelson dos Reis – Isso vai ficando cada vez mais claro, e o segmento de Pesquisa & Desenvolvimento já começa a olhar isso e não só no sentido da mitigação. O objetivo do novo acordo é fazer uma lista de ações mundiais para que se evite o aumento da temperatura além dos 2 graus a partir de 2050. Porque hoje já se tem clareza de que não iremos escapar do aumento de temperatura. A não ser que tenhamos tecnologia que possibilite uma fuga disso. O esforço, então, é de evitar que isso ocorra.
Naturalmente a indústria está preocupa e não adianta ela olhar somente para ela mesma, pois só isso não adianta. Temos que ter todos os setores trabalhando nessa mesma causa. Por isso a gente se envolve nesse tema. Por exemplo, na questão da agricultura, achamos importante que haja um incentivo para a manutenção das florestas. Nesse sentido, o Brasil já melhorou. Mas ainda temos de tornar isso o mais comum possível.
Agência – Qual o ponto essencial da COP 19?
Nelson dos Reis – Temos que discutir que não dá mais para que os países só observem e digam: ‘vou ver o que acontece’. Temos um foco muito forte na busca por objetivos vinculantes a partir de realidades nacionais. Não adianta os governos levarem a proposta, sem terem o envolvimento da sociedade nesses planos. A indústria tem muito interesse na participação da população, pois mudança do clima é algo que atingirá a todos.
Agência – O que a Fiesp quer trazer de volta para o cenário industrial brasileiro?
Nelson dos Reis – A gente tem interiorizado que de todas as COPs trazemos conhecimento da realidade mundial e da tendência dos países. Vemos países pequenos, mas muito fortes no sentido de preservação de florestas, por exemplo. Vimos lá atrás uma Europa muito desenvolvida e que hoje já avançou bastante, assim como o Japão. Os EUA, que nunca ratificaram o Protocolo de Kyoto, também mudaram. O Brasil também. Talvez o Brasil tenha sido um dos países que mais avançou, e pretendemos avançar mais, pois hoje o Brasil é um protagonista e não simplesmente participante.
Também há a questão do financiamento. Os países se comprometeram com essa questão, mas isso não está acontecendo. Temos que fazer com que ocorra a transferência de tecnologias para países em estágio de desenvolvimento inferior ao brasileiro. É importante para que eles possam ajudar no esforço da redução de emissões. E, por último, o papel da indústria também é fortalecer o MDL (Mecanismo de Desenvolvimento Limpo), por exemplo, pois eles ajudam o setor empresarial a ser mais ambicioso e a desenvolver os seus projetos.
Por Álvaro Viana – Agência de Notícias UniCEUB