Uma mulher transgênera em processo de mudanças conhece um homem em uma parada de ônibus. Após criar intimidade, o que ela acreditava ser o início de um relacionamento, se torna um pesadelo. Os fatos que desenrolam os conflitos do curta-metragem “Transa”, que será lançado no Cine Brasília no próximo domingo (29), propiciam reflexões atuais e quebras de paradigmas.
Confira especial sobre Trans e Educação
O filme retrata a história de uma trans e as dificuldades enfrentadas no cotidiano, assim como os preconceitos vividos por pessoas nessa condição e o que fazem para tentar superar. Produzido na capital federal, o curta tem como um de seus objetivos principais desconstruir visões relacionados à questão de gênero. Apesar da violência sofrida, a personagem segue em uma luta para superar o ocorrido, buscando apoio no carinho e respeito das pessoas mais próximas.
De acordo com o diretor e roteirista da obra, Hugo Lins, o filme busca mostrar ao expectador a realidade de um transgênero e promover reflexões acerca do tema: “O filme tinha e tem como princípio básico a reflexão sobre um caso de paixão casual que termina em um ato de violência contra uma mulher trans. Acredito que dando mais visibilidade e protagonismo às pessoas trans, o público pode refletir e pesquisar mais sobre a identidade de gênero e, perceber através da personagem, que a pessoa trans é alguém absolutamente normal e comum, como todas as outras – um ser humano.
Segundo Lins, o Brasil é o país onde mais se pesquisa conteúdo pornográfico de teor transgênero, e também, o que mais mata pessoas trans. Ele afirma que o tema precisa ser mais retratado e debatido, a fim de que as pessoas passem a compreender e respeitar o universo retratado na obra. Ainda segundo o produtor, diversas dificuldades foram enfrentadas durante a produção do curta que não contou com recursos financeiros externos: “Sofremos demais com a transfobia durante a produção. Muitas vezes, pessoas na rua gritavam frases de violência ou chacota ao ver a personagem exposta. E o pior, pessoas que antes tinham interesse em apoiar o filme, por vários motivos, desistiam ao saber da condição do gênero da nossa protagonista. Por exemplo: precisávamos de uma loja para que nossa personagem fizesse uma cena trabalhando. Inicialmente, dois estabelecimentos aceitaram colaborar, mas ao saber que a mulher do filme era uma trans, negaram a ajuda.”
O filme contou com uma equipe voluntária de diversas cidades do Distrito Federal e entorno, como Gama, Valparaíso, Céu Azul, Ceilândia, Samambaia e Guará. Segundo Lins, essa foi uma das maiores dificuldades enfrentadas para o desenvolvimento do trabalho e a razão para a demora de um ano na captação de todas as imagens, pois constantemente havia indisponibilidade por parte do grupo. A pós-produção também foi trabalhosa, uma vez que, por não contarem com recursos financeiros externos, os altos valores cobrados nessa etapa não poderiam ser pagos. A finalização do projeto só foi possível graças a colaboração de profissionais que, sensibilizados com o tema, cobraram mais barato.
O mercado de filmes independentes em Brasília cresceu exponencialmente nos últimos anos. Entretanto, ainda há um longo caminho a percorrer. Apesar de bons filmes desenvolvidos nos últimos tempos por jovens de cidades como Ceilândia, Gama e Planaltina, falta incentivo por parte do governo e o desenvolvimento de estratégias públicas de inclusão relacionadas ao tema.
Por Laylla Nepomuceno
Imagem: Divulgação