Doutora em Antropologia e pesquisadora da Anis – Instituto de Bioética, Débora Diniz, defende que devemos buscar uma “sociedade democrática e humanista”. Em palestra, a doutora, que também é membro da Câmara Técnica de Ética e Pesquisa em Transplantes do Ministério da Saúde, ressaltou que vivemos em um “País de Brucutus”, os quais ela divide em duas categorias: os de caixa baixa (nomeados como “machos” assim que nascem, em que é feita uma imposição social) e os de caixa alta (aqueles que possuem alguma posição social, pode ser o pai, o marido, o homem engravatado, pode estar em sala de aula ou no Tribunal). O termo, que faz referência a um personagem de quadrinhos do século 21, “bruto e sem modos”, faz parte do cotidiano brasileiro.

A cultura patriarcal, segundo Débora, reforça a marca binária ao nascer. “O gênero é um regime político dos corpos assexuados ao nascer, é um dispositivo do poder do patriarcado, o que justifica a melancolia gerada pelo assunto”. A pesquisadora afirmou que é preciso falar da “desnaturalização dos corpos”, provocar a igreja e o brucutu com caixa alta para debater o assunto, pois a atual naturalização não permite a concretização da igualdade.
Além disso, Débora Diniz, vice-chair do board da International Women’s Health Coalition, explanou que a conquista da igualdade por meio do direito penal a preocupa. “É uma conquista ambígua, em que ao mesmo tempo em que conquista, tem que pedir permissão. A nomeação não garante igualdade; as leis podem coibir os ‘brucutus’, mas não traz igualdade”, justificou. A pesquisadora tratou do tema de “gênero como estratégia” ao falar sobre a Lei Maria da Penha, ela reforçou que a acusação indevida é uma desonra no campo penal para qualquer indivíduo, não apenas para o homem.
Sobre o zika vírus, a antropóloga, que também é membro do Advisory Committee do Global Doctors for Choice, ressaltou que no Brasil não temos métodos de planejamento familiar e, somada à falta de informação, a gestação torna-se uma fase de intenso sofrimento para a mulher. “A linhagem [de mosquitos] brasileira é a que gera modificação em adultos e no feto, com transmissão vertical”.
Por fim, Débora Diniz expôs que o maior desafio é mudar a pergunta. “Por que perguntar quem é contra ou a favor? Acaba por ser uma competição de ideologias. A pergunta deveria ser: quais são os argumentos?”.
Por Daniella Bazzi