Variação do dólar divide economistas

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O preço do dólar subiu mais do que a média prevista por especialistas no decorrer dos últimos meses. Em setembro a moeda estrangeira chegou a superar a marca de R$ 4,24. O alto valor repercutiu em território brasileiro e pesou no bolso de moradores do Distrito Federal. Durante o ano o crescimento foi de 42,92%. Mas, após uma ascensão, o preço do dólar voltou a baixar. Na segunda-feira (9/11) ele fechou a R$ 3,80. Entretanto, a estabilização do valor do dinheiro americano divide opiniões de especialistas em finanças públicas. De um lado, especialistas garantem que o dólar não deve ultrapassar mais a marca de R$ 4,40. Outra corrente prefere a cautela e afirma não ser possível fazer uma previsão devido a fatores que influenciam a alta e a queda da moeda.

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O professor de economia Roberto Piscitelli da Universidade de Brasília (UnB), Roberto Piscitelli, acredita que o dólar não deve mais atingir valores tão expressivos. Para ele, preço de atual é parte de um processo de acomodação da moeda. “O dólar esteve valorizado durante muito tempo. Ele estava artificialmente valorizado. O que ocorreu foi também um processo de ajuste” esclareceu.

Piscitelli detalhou sobre o cenário da moeda estrangeira durante uma palestra na manhã de segunda-feira (9/11). Segundo ele, o ajuste aconteceu de forma rápida e a mudança ocorreu aos poucos. Ele afirmou que nas últimas duas semanas houve um processo de reacomodação. O dólar diminuiu a um patamar confortável para a economia brasileira e para as negociações com o resto do mundo. “Ele não vai voltar ao estágio anterior, mas também não vai ficar no pico. Dificilmente chegará a R$ 4,40 e a R$ 4,50” concluiu.

Durante o evento, Piscitelli foi incisivo em relação a como as condições internacionais refletem na brasileira. O especialista lembrou da época em que a situação econômica do país era positiva no segundo governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no período de 2008 a 2011. “A gente surfou nessa onda. Naquela época de vacas gordas, podíamos ter direcionado melhor o Brasil. Faltou melhor ou mais educação financeira” ressaltou.
Esta educação, porém, não é de inteira responsabilidade governo, segundo especialista. O educador esclareceu a existência de um “egoísmo inerente” no povo brasileiro. Para ele, o comportamento reflete nos patamares financeiros e governamentais. O mercado e os governos aumentam os preços, pois creêm que a atitude é necessária antes de um problema. Mas a necessidade surge mais cedo em razão das inconsistências. “A solução da crise depende menos do governo do que do povo”, acrescentou.

Orçamento 2016

Por outro lado, o economista e membro do Conselho Regional de Economia do Distrito Federal, Newton Marques, explicou que não se pode considerar uma análise de curto prazo sobre a variação do valor do dólar. Ele acredita que até a conclusão dos trabalhos dos parlamentares no Congresso Nacional, em dezembro, haverá movimentos de descidas e subidas do câmbio, pois o orçamento de 2016 ainda não foi aprovado. “O principal motivo para a aprovação do orçamento é a criação ou recriação da Contribuição Provisória sobre Movimentações Financeiras (CPMF). E o governo não está conseguindo maioria para aprovar essa medida”, avaliou o ex-analista do Banco Central.

O Governo anunciou no mês de setembro de 2015 o possível retorno da Contribuição Provisória sobre Movimentações Financeiras (CPMF), extinta há oito anos. Este imposto deve gerar uma receita de aproximadamente R$32 milhões aos cofres da união, segundo a proposta anunciada pelo Governo Federal.

Este imposto cobria gastos do governo com projetos de saúde. Agora, o Executivo propõe cobrar 0,2% sobre todas as transações bancárias de pessoas físicas e empresas com o objetivo de auxiliar a previdência social.

“A volatilidade é o sobe e desce. E isso acontece quando existe uma incerteza. E nós estamos em uma incerteza”, justificou. O economista define não ser possível precisar com segurança se o dólar deve voltar a aumentar, pois os fatores que influenciam o preço são diversos e imprevisíveis. “Será que a presidente Dilma vai sofrer impeachment? Será que o Banco Central Americano vai subir as taxas de juro? Se isso ocorrer, vai subir mais que R$4. São muitas coisas a serem levadas em consideração”, questionou o Marques, professor na UnB.

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Dólar a mais de R$4

A alta do dólar pode ser justificada por três motivos principais: câmbio fora do lugar; problemas fiscais e desconfiança dos investidores; e, por fim, o risco de elevação da taxa básica de juros norte americana. Com a reeleição da presidente Dilma Rousseff, em janeiro deste ano, a chefe do Executivo tentou de tudo para segurar a inflação, como tarifas públicas, preço da energia e derivados de petróleo. Além disso, a questão da escolha do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, também influenciou devido à possibilidade de enfraquecimento do governo. O desequilíbrio fiscal – gasto maior que a receita – repeliu investidores. A desvalorização cambial foi o resultado desse e outros fatores.

A regra de bolsa é seguir o diferencial da inflação do país menos a inflação externa, geralmente dos Estados Unidos, pois leva-se em consideração o maior parceiro comercial. “O PT acredita que variação cambial não pode seguir essa regra, pois serve como âncora para inflação. A âncora cambial segura os preços. Os países emergentes que ousam a fugir dessa regra vão ter problemas de balanços pagamentos. E foi o que aconteceu com o Brasil”, explicou Marques.

Confira na íntegra explicação do economista, Newton Marques sobre o aumento do dólar:

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Em 07:53, síntese das razões.

 

Por Daniella Bazzi e Vinícius Brandão

Foto destaque: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

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