Jornalismo de inclusão: repúdio ao coitadismo

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A Secretaria de Atenção à Pessoa com Deficiência entregou na quinta-feira (10), no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo (SP), o prêmio Rui Bianchi para três reportagens realizadas por universitários. Entre os premiados e organizadores, uma ideia em comum: a comunicação deve ser aliada da inclusão dos cidadãos, mas não pode utilizar o “coitadismo” no jornalismo. Entre os premiados, a reportagem “Dança Inclusiva no DF”, da Agência de Notícias UniCEUB, de Brasília (DF), venceu na categoria “webjornalismo”. O veículo foi representado pelos alunos-repórteres Daniella Bazzi e Vinícius Brandão, autores do material. Na categoria radiojornalismo, a vencedora foi Heloiza Vieira de Oliveira, de Londrina (PR). Em jornalismo impresso, foi Jessica de Oliveira Menzel, de Porto Alegre (RS).

O jornalista Luiz Alexandre Souza Ventura, 44 anos, que foi parte do juri, entregou a placa aos estudantes. Ele mantém o blog “Vencer Limites”, na página do jornal Estadão. Ventura criticou o jornalismo que utiliza de “pieguismo”, o sentimentalismo exagerado, assim como o “coitadismo”. Ele afirmou que mostrar o deficiente como uma pessoa que sempre precisa do auxílio é uma realidade que precisa mudar. “É uma pessoa que tem direitos e deveres, que deve exercer cidadania nesse aspecto, e as reportagens tem que destacar isso”, declarou.

Ventura acredita que a faculdade de jornalismo tem papel fundamental na formação do futuro profissional, e que a inclusão deve ser traIMG-20151211-WA0017balhada para que se veja o deficiente, em primeiro lugar, como pessoa. “Essa é a importância da formação em jornalismo”, enfatizou.

Mas o jornalista critica que a inclusão é um tema pouco trabalhado nas faculdades, e que muitos novos profissionais chegam despreparados para lidar com o assunto. “Além da falta de interesse. Só é possível fazer uma matéria após estudar o assunto”, destacou.

 

Ele reforçou que, muitas vezes, a falta de interesse do jornalista provoca a desinformação, o que inclui a utilização de termos equivocados, como: “deficiente”, “pessoa com necessidade especial” ou “portador de deficiência”. “Tem uma frase muito interessante do professor Mário Sérgio Cortella que diz que ‘ninguém é feito por completo’”, relembrou.

 Redações

Ventura conta o que aconteceu com ele como parte de um processo que ele acha importante: colocar nas redações pessoas que saibam sobre o universo das deficiências antes de escreverem sobre o tema. O jornalista era editor no Estadão quando abriram espaço para a criação de blogs do jornal. Como o veículo não possuía um espaço para abordar o assunto da deficiência, ele apresentou a proposta de abrir o blog Vencer Limites. “A diretora do portar na época foi extremamente aberta sobre a situação. Entendeu a necessidade e abriu espaço para o blog, que está lá até hoje”, contou o jornalista.

Porém, o blogueiro aponta que a comunicação voltada para os deficientes ainda é pontual. Ao mesmo tempo em que citou uma reportagem voltada para deficiência que ele considera boa, conseguiu lembrar de outra na qual a jornalista disse que os cadeirantes são presos às cadeiras de roda. “Ninguém fica preso na cadeira de roda. Isso é uma falta de conhecimento. A pessoa que usa a cadeira de roda”, explicou.

O jornalista disse que o público brasileiro precisa aprender porque não está atualizado. Ele afirmou que a Europa e os Estados Unidos começaram a tratar do tema a partir dos anos 1950 por causa dos veteranos de guerras que já chegavam em casa amputados e com outros traumas físicos. Passou-se a tirar o manto por trás das pessoas com deficiências e das vidas delas. “O Brasil é muito atrasado nesse aspecto porque demorou muito pra fazer. A Secretaria Estadual (dos Direitos da Pessoa com Deficiência) de São Paulo foi criada em 2008” aponta para a diferença de século para que o assunto passasse a ser tratado no país.

Saiba mais sobre o prêmio

Foto: Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência
Foto: Secretaria dos Direitos da Pessoa com Deficiência

Uma das idealizadoras do prêmio, consultora do memorial da inclusão em São Paulo e jornalista, Lia Crespo, 61 anos, participou também do evento. Ela explicou que o obejtivo é fazer com que trabalhem a visão sobre o deficiente. “O estudante ver o deficiente como uma pessoa comum, ter o respeito e conhecer o protagonismo da pessoa com deficiência. Uma sociedade inclusiva é boa pra todo mundo”.

Lia Crespo acredita que as matérias jornalísticas são auxílio importante para a construção de uma sociedade inclusiva. “As matérias trazem um discurso que é da sociedade. O jornalista trazendo uma visão correta traz isso também para a sociedade”

Na ocasião o Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência, anunciou também os vencedores do II Prêmio Melhores Empresas para Trabalhadores com Deficiência.

 

 

Por Daniella Bazzi e Vinícius Brandão, de São Paulo (SP)

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