O cantor e compositor Cazuza, que morreu em julho de 1990, faria 60 anos em 2018 (4 de abril). Nascido Agenor de Miranda Araújo Neto, o artista se mantém vivo por meio do Projeto Cazuza. Seus livros, discos, composições, a máquina de escrever, fotos, prêmios da MPB e tudo que resgata a memória do artista falam por ele nesse espaço cultural.
A mãe do cantor e compositor Cazuza, Lucinha Araújo, vive em função da Sociedade Viva Cazuza. Há 28 anos acompanhando crianças e adolescentes soropostivos, Lucinha conversou com a Agência de Notícias UniCEUB sobre o filho.
Entrevista
Cazuza faria 60 anos se estivesse vivo. A senhora acha que – embora se lembrando do seu filho – há consolo da dor da perda pelo fato da Sociedade Viva Cazuza existir? Quais os aspectos desse trabalho que trazem um alívio nessa lacuna que ficou?
O trabalho da Viva Cazuza é o que me mantém viva. Não sou uma Madre Teresa. Me benefício do contato com as crianças e de saber que se não pude ter meu filho a meu lado, pelo menos posso ajudar pessoas que, como ele, sofrem da mesma doença. Lacuna e buraco dentro do peito tenho sempre.
Qual é o principal objetivo da Sociedade Viva Cazuza?
A Viva Cazuza é uma instituição que tem como principal objetivo a assistência a pessoas portadoras do HIV/Aids. Mantemos uma Casa de Apoio, onde moram crianças e adolescentes carentes HIV positivos e um Projeto de Adesão ao Tratamento para 140 pacientes em tratamento ambulatorial na rede pública de saúde, mais precisamente na cidade do Rio de Janeiro.
Sociedade Viva Cazuza
Após sua morte, os pais fundam a Sociedade Viva Cazuza, em 1990.
A Viva Cazuza é uma instituição que tem como principal objetivo a assistência a pessoas portadoras do HIV/Aids. Há uma Casa de Apoio onde moram crianças e adolescentes carentes HIV positivos e um Projeto de Adesão ao Tratamento para pacientes em tratamento ambulatorial na rede pública de saúde na cidade do Rio de Janeiro.
Na casa de apoio a capacidade é de até 20 crianças e/ou adolescentes. Esse é o máximo permitido pelo juizado de menores. A sede da Viva Cazuza fica no bairro de Laranjeiras, Rio de Janeiro, e o imóvel é uma cessão de uso da Prefeitura Municipal. A Sociedade sobrevive de direitos autorais de Cazuza, doações, eventos beneficentes e, no momento, um convênio com a Prefeitura Municipal, que aguarda renovação.

Desde cedo Cazuza teve contato com a música. Sua mãe, Maria Lúcia Araújo (1936- ) cantava e gravou três discos. O pai, João Araújo, produtor fonográfico conhecido no meio musical – já falecido (1935-2013), tinha contato profissional e pessoal com grandes nomes da música brasileira. Cantar e compor era natural para o filho de Lucinha e João.
Conhecido como irreverente, boêmio, rebelde e polêmico – declarou em entrevistas dadas nos anos 80 ser bissexual – foi considerado pela crítica musical dos anos 80 um dos principais poetas da música brasileira.
Barão Vermelho
Cazuza começa sua carreira como vocalista e letrista da banda Barão Vermelho em parceria com Roberto Frejat, formando uma das duplas mais festejadas do rock brasileiro. O grupo, que antes só tocava covers, passa a criar um repertório próprio.
Em 1983, a banda lança o segundo disco e faz sucesso com a música “Pro Dia Nascer feliz”. A partir daí o Barão ganha vida pública própria.
No início de 1984, “Bete Balanço”, filme de Lael Rodrigues, recebe a participação do grupo cantando a canção-título de mesmo nome, além de contracenar no filme. A música se torna um marco na trajetória da banda.
A canção também impulsiona as vendas do terceiro disco do Barão, “Maior Abandonado”, lançado em outubro de 1984, que conquista disco de ouro, registrando outras composições como “Maior Abandonado” e “Por Que a Gente é Assim?”.
Carreira solo
Considerado ícone pop-rock, Cazuza deixa a banda em julho de 1985 a fim de ter maior liberdade de criação musical e poética. Ele investe na carreira solo. Suspeita-se que nesse mesmo ano o músico começou a ter febre diariamente – indícios da AIDS que se agravaria anos depois.
Em outubro de 1985, Cazuza é internado para ser tratado por uma pneumonia. Em novembro do mesmo ano é lançado o primeiro álbum solo – Exagerado. “Exagerado”, a faixa-título composta em parceria com Leoni, se torna um dos maiores sucessos e marca registrada do cantor. Grava o segundo álbum no segundo semestre de 1986.
HIV e shows
A AIDS se manifesta em 1987 e Cazuza é internado com pneumonia novamente. Um teste confirma a infecção pelo vírus HIV. Cazuza inicia as gravações para um novo disco. O álbum Ideologia, de 1988, inclui os hits “Ideologia”, “Brasil” e “Faz Parte Do Meu Show”. A canção “Brasil” ganhou prêmio Sharp por melhor música do ano e melhor composição pop-rock.
Os shows se tornam mais elaborados e o disco “O Tempo Não Pára”, gravado no Canecão durante turnê, foi lançado em 1989. O disco se torna o maior sucesso comercial superando a marca de 500 mil cópias vendidas. A faixa “O Tempo Não Pára” torna-se um de seus maiores sucessos. Também destacam-se “Todo Amor Que Houver Nessa Vida” com um arranjo mais introspectivo, “Codinome Beija-Flor” e “Faz Parte Do Meu Show”.
Soropositivo
Em fevereiro de 1989 Cazuza declara publicamente que é soropositivo, ajudando assim a criar consciência em relação à doença e aos efeitos dela.
No dia 7 de julho de 1990, Cazuza morre aos 32 anos por um choque séptico causado pela Aids.
Por Claudia Sigilião e Larissa Lustoza
Sob supervisão de Luiz Claudio Ferreira e Katrine Tokarski Boaventura