A sinalização à direita do governo brasileiro pode levar a consequências danosas ao país, o que inclui a dependência do mercado exterior e a desvalorização das reservas naturais. Essa é a avaliação do sociólogo Raphael Lana Seabra, que lançou neste mês o livro “Dependência e marxismo”. Para ele, a reserva do pré-sal tem sido leiloada de uma maneira irresponsável. “Aquela promessa de que parte dos royalties dos petróleos seriam utilizados para a educação e saúde já foi por água abaixo. A venda, o leilão do Campo de Carcará foi vendido por US$ 2 bilhões para uma concessionaria norueguesa faz com que cada barril tenha um custo de mais ou menos de US$ 2. Isso está abaixo do custo real de produção”, afirma.
A crise econômica no Brasil se agravou pela desindustrialização das últimas décadas e pelo fim do ciclo das commodities que se tornou essencial para o desenvolvimento do país no começo do século. O relato do sociólogo explica que diversos conflitos foram gerados com a propagação das forças sindicais no começo do século passado. “Essas contribuições por conta da ditadura militar acabaram sendo silenciadas mas são autores que são reconhecidos fora do Brasil”, esclarece.
“Com o aumento do preço houve uma exploração cada vez intensiva de forma que se encaminhou, por exemplo, para a fronteira agrícola do Brasil que é Amazônia, e as consequências que a gente tem nisso não são só alimentares, mas também são do ponto de vista ambiental, a gente está percebendo que há uma mudança climática no país com regime de chuvas completamente aleatórios em que a gente não tem controle como tinha antes de saber de quando vem a chuva ou não. Regiões que choviam muito, mas passam por seca e vice-versa. E por outro lado quanto mais se amplia esse regime extrativista de aumentar plantação de soja, de milho, de gado…então isso explica um pouco porque o feijão está tão caro, porque o leite está tão caro, por conta dessa inserção cada vez mais primaria exportadora do mercado mundial. É um debate que infelizmente a gente está com uma dificuldade muito grande de levar ele a público e não acontece com muita liberdade. E eu acho que essa entrevista ajuda a colocar o que significa a dependência”.
Seabra explica que, no começo dos anos 2000, os preços das commodities, em geral, cresceram de forma acelerada. Contudo, nos anos de 2010 e 2011 os preços atingem seu “limite” e levam o país a uma crise econômica. “Isso afeta o aumento da cesta básica, no aumento dos preços de bem de consumo, bens de salários e que vai incidir diretamente sobre as forças de trabalho”, conta.
Para o sociólogo, as ideias “mais à esquerda” começaram a entrar na América Latina e respectivamente no Brasil, nas décadas de 1910 e 1920, pelo movimento anarquista. Mas foi na década de 1930 que o sistema eleitoral passou a registrar (de forma legal) um maior número de partidos com viés marxista. Com isso, diversas interpretações das ideologias comunistas, passaram a ser exploradas.
Tendência conservadora
Segundo Seabra, no contexto de crise qualquer mudança assusta, seja para melhor ou pior. Quando se trata de uma mudança negativa, no sentido de perda de direitos, aumento de violência por conta do empobrecimento geral, há uma carência dos públicos. “A população não tem uma capacidade crítica, muitas vezes, ela foi despolitizada, desde a ditadura militar”, explica.
De acordo com o sociólogo Seabra, o pensamento conservador tende a colocar as pessoas que recebem o bolsa família como “responsáveis” pela miséria e pela tragédia brasileira. Por conta dessa reação, da incapacidade das análises politicas mais profundas.
“Esses indivíduos que sofrem tem uma reação bastante negativa. Basicamente está levando o país ao comunismo, que é uma grande inverdade, está muito longe disso”.
América Latina
Um dos pensamentos seria a do peruano José Mariátegui, que começou a compreender que não podia fazer apenas uma revolução nos moldes convencionais. “Segundo Mariátegui, não dá para fazer uma revolução anti-imperialista no sentido de uma revolução nacional democrática em que a burguesia, os industriais e o grande empresariado teriam interesse em uma perspectiva e em uma política soberana de maior democracia”. E conclui. “ Para ele, esses grupos não tinham interesse em uma autonomia real dos países da América Latina”.
Seabra esclarece que a tendência do contexto político nos demais países da América Latina como, Argentina, Chile e Colômbia é basicamente a mesma do Brasil. São países que procuram aprofundar exploração de principais recursos naturais e sofreram uma entrada cada vez mais subordinada. “Tem esse processo de fragilização das economias nacionais, e a consequência politica social é muito dura”, afirma.
No Brasil, um exemplo dado por Seabra é o cenário do pré-sal. Significa que o país entregou uma riqueza natural que poderia ser usada para políticas internas, para o interesse da nação. “A gente acaba perdendo isso porque a gente simplesmente toma uma posição subordinada com recurso que é completamente estratégico” explica.
Na última quarta-feira (24), o pesquisador lançou o livro “Dependência e Marxismo” e conta que o propósito do livro era difundir a teoria da dependência na vertente marxista no Brasil, pois é difícil encontrar materiais sobre o assunto nas línguas portuguesas e espanholas.

Por Nabil Sami. Com colaboração de Lucas Valença