“Medida Provisória”: filme de Lázaro Ramos ataca o racismo com futuro distópico

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A estreia de Lázaro Ramos como diretor traz um futuro distópico no Brasil. A vida que é representada na película parece muito com a que se vive agora, isso por si só, pode causar arrepios. Apesar de ser no futuro, o racismo ainda faz parte do dia a dia no país. O filme estreia em 14 de abril deste ano.

Comandado por um governo autoritário, a população brasileira ainda guarda seu “jeitinho” no calor do peito. Os barzinhos, dança e diversão marcam os primeiros minutos do filme e trazem aquela sensação muito próxima que só um enredo detalhado tem. A sensação de que aquele futuro está presente além da ficção.

Porém, é chegada a novidade, o governo pública a Medida Provisória 1888 – número em referência ao ano de assinatura da Lei Áurea- para reparar os séculos de escravidão. 

A decisão ordena que todos os negros chamados, no futuro de Lazaro, “melaninos acentuados” do pais vão para a África.  

No início, tudo parece uma brincadeira e os personagens principais, Antônio ( Alfred Enoch) e André (Seu Jorge), dão risada do noticiário, que ressoa o anúncio: o governo está fornecendo passagens aéreas de graça para os melaninos acentuados que queiram sair do país. A risada se transforma em grito de desespero quando, logo depois, o poder autoritário começa a dar seus passos e o “convite” se torna ordem de expulsão. 

Tudo vira uma guerra declarada. A perseguição aos “melaninos acentuados” começa de uma hora para outra. Sem avisos, eles são demitidos de seus empregos, sejam eles de alto escalão ou não. São caçados, em cenas de ação tensas, e comparados a animais.

Uma guerra desproporcional se inicia, negros e a policia frente a frente. Pela surpresa do momento, o lado mais “fraco” é cruelmente derrotado. O país agora é branco. 

Assista ao trailer oficial

 

Crítica social

O filme apresenta referências da cultura negra do início ao fim, desde a trilha sonora minuciosa ao enquadramento de câmera que foca em personalidades negras que marcaram a história, seja em pinturas ou em fotos.  Além da arte, existe a crítica social que vem tanto em cenas de humor, quanto em cenas fortes que carregam a emoção do filme. 

A fotografia leva o minimalismo dos detalhes. Imagens como um café sendo servido, um close nos lábios para ressaltar traços negros, portas sendo fechadas e uma pintura corporal  usam aspectos visuais para comunicar uma ideia implícita de guerra de raças.  

O movimento de câmera instável nos momentos de tensão leva o telespectador a sentir o drama sob o olhar dos personagens, que, às vezes, é cortado por um diálogo com humor ácido. 

O roteiro, que também é de Lázaro Ramos, é baseado na  peça “Namínia, não!”, do ator e escritor baiano Aldri Anunciação –  que atua no filme. Um microuniverso distópico simboliza um dos futuros possíveis para as contradições sociais contemporâneas.  Presente nos dois trabalhos, esse futuro tênue, que se faz tanto próximo quanto longínquo, faz com que o público saia do cinema diferente do que entrou.

 

Ficha Técnica:

Direção: Lázaro Ramos

Roteiro: Lázaro Ramos e Lusa Silvestre

Duração: 94 minutos

Elenco: Alfred Enoch, Taís Araújo, Seu Jorge, Adriana Esteves, Renata Sorrah, Mariana Xavier, Emicida, Dona Diva, Aldri Anunciação, Pablo Sanábio, Flávio Bauraqui, Hilton Cobra

Gênero: Drama

Origem: Brasil

Distribuição: H2O

Produção:  Lereby Produções, Lata Filmes

Por Ana Paula Marques*
* Assistiu à pré-estreia a convite da Espaço/Z
Fotos e trailer: Divulgação

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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