Memórias de Maria Thereza Goulart: ex-primeira dama conta trajetória ao lado de Jango

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Maria Thereza e João Goulart em comício. Foto: Arquivo pessoal/Divulgação

Ao longo de 77 anos, Maria Thereza Fontella Goulart carrega consigo a história de sua vida e paralelamente um pedaço da história do Brasil. Aos 14 anos ou como ela mesma disse “como uma história de romance”, ela casualmente conheceu o homem que viria a ser seu marido e presidente do Brasil. Mulher de João Goulart, o Jango, Maria Thereza procurou fazer ações em prol das pessoas que precisavam. Como primeira dama, ela assumiu a presidência da Legião Brasileira de Assistência (LBA), um órgão assistencial público que tinha como objetivo ajudar famílias carentes. “Foi um trabalho muito bonito. Uma etapa da minha vida que eu gostaria de ter dado continuidade”, comenta. Ela lamenta por ter ficado pouco tempo no cargo, devido ao curto governo de seu marido e posterior exílio.

Por ter sido um governo pré ditadura, em dado momento do mandato da João Goulart a situação ficou difícil. “Foi muito complicado, o tratamento das pessoas já era diferente, os comentários eram fortes com relação à pessoa dele”. Sobre o golpe militar e a ordem de que a família Goulart teria de ser exilada, Maria Thereza se recorda como fatos “muito repentinos e angustiantes”. Apesar de entender que a situação política da época já era delicada, nenhum deles esperava o resultado.

No dia 1º de abril de 1964, as coisas começaram a mudar de fato. “Eu estava sozinha, em casa, em Brasília e o Jango estava no Rio de Janeiro. Eu recebi por telefone a notícia de que teria de sair de Brasília”, recorda. A principal preocupação dela não era era sobre o destino, mas onde estaria seu marido. Ela não teve notícias do ex-presidente até o dia 3 de abril, quando se encontraram no Rio Grande do Sul e de lá partiram para o exílio no Uruguai.

A volta ao Brasil
Maria Thereza conta que, durante o exílio, decidiu se dedicar aos dois filhos, ainda pequenos na época, e ao marido, por opção própria. Doze anos depois, ela voltou ao Brasil apenas com os dois filhos, João Vicente e Denise Goulart. “O retorno foi muito triste, voltei carregando o episódio da morte do meu marido e foi o momento mais difícil da minha vida.”

A história de João Goulart é contada de uma perspectiva pessoal no livro “Jango e eu”, escrito por João Vicente Goulart, filho de Jango e Maria Thereza. Lançado em julho de 2017, o livro conta os momentos entre pai e filho e demonstra detalhes da história do Brasil. “A narrativa é exclusivamente dele, ele tem uma memória de invejar. Depois eu fui analisar as coisas que ele contou no livro e pensava ‘é verdade, isso aconteceu mesmo, como ele lembra?’”, ressalta.

Maria Thereza e o filho João Vicente Goulart, no lançamento do livro “Jango e Eu”. Foto: Divulgação

Como se conheceram
Maria Thereza e a filha Denise Goulart. Foto: Arquivo pessoal/Divulgação[/caption]Em São Borja, no Rio Grande do Sul, sua cidade natal, Maria Thereza morava em frente à casa de João Goulart, conhecido popularmente como Jango. Ela foi entregar uma correspondência para ele e, assim, se conheceram. Por morarem na mesma cidade, os dois se viam várias vezes e ele acabou se tornando mais próximo.

Na festa de 15 anos de Maria Thereza, que aconteceu no Rio de Janeiro, Jango foi convidado e só assim, sutilmente, o romance começou. Com o passar do tempo, os dois foram ficando mais próximos. Mas ela se lembra que, no início, teve receio, porque João Goulart era 22 anos mais velha e já envolvido com a política. “Era muita responsabilidade para minha cabeça de jovem, por isso, só depois dos meus 17 anos começamos a levar o namoro à sério”, conta.

Quando Maria Thereza tinha 18 anos, em 1955, Jango foi vice-presidente do governo de Juscelino Kubitschek e, posteriormente, em 1960, do governo de Jânio Quadros. Com a renúncia de Jânio, João Goulart se tornou presidente do Brasil. “Entrei em pânico, achei que aquilo não era realidade, era muita coisa pra minha cabeça”, conta Maria Thereza.

Quando recebeu a notícia, ela estava na Espanha com os filhos e Jango voltava de uma viagem à China. O dono do hotel onde ela estava mostrou um jornal que já tinha noticiado a renúncia de Jânio Quadros. Para Maria Thereza, tudo mudou muito rápido. “Estava de férias, com as crianças, era desconhecida e do dia para noite começou a perseguição dos fotógrafos e jornalistas”, se lembra.

Com relação à exposição midiática, Maria Thereza afirma que não se incomodava, pois as pessoas demonstravam muito carinho e atenção. “Eu achava até uma coisa importante porque era evidente que as pessoas gostavam da gente”, comenta. Maria Thereza foi considerada a primeira dama mais bonita do Brasil e umas das 10 mais bonitas do mundo pela revista People. Ela se sentiu lisonjeada por estar na mesma lista que Grace Kelly, ex atriz hollywoodiana e esposa de Rainier III, príncipe de Mônaco.

Por Maria Carolina Morais

Sob supervisão de Isa Stacciarini

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