Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) mostram que os números de votos nulos e brancos superaram os votos em candidatos nas eleições municipais que ocorreram nesse último final de semana (3/10). A soma das abstinências, votos nulos e brancos foi maior do que os votos em candidatos em 22 dos 26 estados. Segundo o historiador Frederico Tomé, a preferência por abstenção do voto é algo que “vem de uma crescente, ou seja, das eleições passadas”. O mestre em ciências políticas Ricardo Caldas explica a diferença entre esses dois tipos de votos. “Com o voto branco você deixa de votar. Com o nulo você vota em um candidato que não existe e, automaticamente, ele é anulado”.

Para o sociólogo Rogério Giugliano, um motivo para esse alto número de votos brancos e nulos é a menor mobilização que ocorre em eleições municipais. “As eleições nacionais são mais simples, têm menos candidatos”, explica. Outro fator é o momento político do país. “Há uma descrença por parte da população, não só com os candidatos, mas também com os partidos políticos”, afirma o historiador Frederico Tomé.
Segundo Giugliano, o impeachment da ex-presidente Dilma contribuiu para o agravamento dessa crise, pois “a democracia saiu arranhada desse processo e muitas pessoas se sentiram desanimadas a participarem das eleições”. O sociólogo aponta que os escândalos de corrupção também afastam e deixam as pessoas desacreditadas da política. Ele ressalta que esse distanciamento não é exclusivo de grupos de esquerda ou que apoiam o PT. “Diante da crise política muita gente fala ‘pra que? Isso aí é uma sujeira só, não vale nada’”.
2018
“Eu tenho muitas dúvidas se as eleições de 2018 vão acontecer”, diz o sociólogo. Segundo ele, há mobilizações para o cancelamento das próximas eleições presidenciais. Outro caminho que pode ser tomado é a implantação do parlamentarismo. “O Brasil está passando por uma onda de conservadorismo e, certamente, isso vai ter implicações para 2018”. Giugliano alerta também que as tendências políticas atuais podem levar a uma desilusão ainda maior com a política nacional.
Tomé explica que as últimas eleições municipais mostraram uma queda de popularidade do PT, que já era esperada. Segundo ele, o PSOL provavelmente conseguirá mais votos, “herdando” alguns do PT. “A tendência é que o PSOL traga pra si uma camada média do brasileiro descontente com o PT, mas que também não se identifica com outros partidos ditos de centro-direita”. Outra possibilidade para o historiador é a formação de uma frente de esquerda. “Talvez essa seja uma possibilidade de futuro para essas siglas que não alcançaram tanto sucesso nas últimas eleições”, finaliza.
Por Isabella Cavalcante e Bruna Maury