Eles armaram o acampamento, levaram barracas, comida, colchonetes e muita paciência. Durante três dias, grupos de estudantes dormiram em frente das escolas CEMAB – Centro de Ensino Médio Asa Branca – e os CEF – Centro de Ensino Fundamental – 15 e 17, em Taguatinga Sul nesta semana. Eles queriam apenas garantir vagas para o período letivo de 2016. O pior é que, mesmo com todo o sacrifício, nada garante que valerá à pena.
No caso do CEMAB, são 25 vagas. Vinte para o primeiro ano e cinco para o terceiro. A adolescente Lorena Rodrigues, de 14 anos, quer fazer a transferência do Riacho Fundo II porque a escola é perto da casa da avó. Os amigos e possíveis colegas de sala que fez durante os dias em que acamparam juntos, Leonardo Augusto e Caio Brunno, ambos de 16 anos, chegaram no Centro de Ensino para se informarem sobre como seria o período de inscrição no local na sexta. Quando descobriram que era por ordem de chegada e que se iniciaria na segunda, já ficaram por lá.
Não apenas por conta da prioridade, mas porque haviam entre 50 e 60 pessoas que queriam as 25 vagas, relataram os jovens. Para resolver quem seriam as 25 pessoas que ficariam lá durante o fim de semana, improvisaram um sorteio. Lorena, Leonardo e Caio estavam entre os que ganharam. Os dois garotos relevam o valor de estudar naquela instituição em específico: “Dizem que o ensino aqui é um dos melhores do Distrito Federal”, ressaltou Leonardo, que busca transferência da Ceilândia.
Revezamento
Nos Centros de Ensino Fundamental, o grupo é maior, pois tentam garantir espaço entre mais de 30 vagas. O servidor público José Adriano Carvalho, de 48 anos, tomava a vez dele no revezamento organizado com a esposa para segurar o lugar da sobrinha, Carlene, de 13 anos, no nono ano do CEF 15. “É uma escola de excelência. A gente escuta da comunidade. Também tem a mobilidade. Fica aqui a duas quadras do metrô” José explicou as razões para passar tanto tempo na rua. A garota veio do Maranhão para Brasília e, por ser transferida, só podia se inscrever pelas vagas remanescentes.
Expostos
Os acampados afirmam que a permanência nas portas das escolas são cheias de dificuldades. Entre as intempéries que os expuseram a chuva e calor, o ponto fica perigoso durante a noite. O trio de adolescente relatou um tiroteio na madrugada de sábado para domingo algumas ruas acima. Leonardo, especificamente, apontou para a presença de ratos que impediam aqueles que não podiam se fechar em barracas de dormir ou carros. Mas José explicou que o grupo formado ali passou a se unir quase como uma comunidade para se manter.
Os jovens disseram que temem não conseguir as vagas e que teriam que procurar o Conselho Tutelar para conseguir algum lugar para estudarem no ano. A Secretaria de Educação do Distrito Federal frisou que todos os interessados em vagas da Educação Básica e Educação de Jovens e Adultos serão matriculados em escolas com disponibilidade. O Conselho Tutelar de Taguatinga Sul ressaltou que o direito à educação é garantido na Constituição e no Estatuto da Criança e do Adolescente e também que não tem registros de vagas negadas pela Regional de Ensino de Taguatinga no ensino regular.
As vagas que sobram
A Secretaria de Educação afirmou, em nota, que o período de efetivação de matrículas nas escolas públicas é de 15 a 19 de fevereiro para interessados que não fizeram inscrição pelo serviço de tele matrícula através do número de telefone 156 ou querem mudar de escola. As vagas são as que sobram depois que os alunos de anos anteriores fizeram a inscrição. No caso de perderem as disponibilidades das escolas onde pretendem estudar, a nota informa que os alunos devem procurar outras escolas que possam recebê-los.
Por Vinícius Brandão