Conflito de interesses da empresa que compra e cobre um evento, desrespeito à privacidade de celebridades esportivas, interação com o público pelas redes sociais, a invasão da publicidade no espaço informativo e a utilização do jornalismo esportivo como fonte de entretenimento. O jornalismo esportivo brasileiro tem, diante de si, e nos próximos meses com visibilidade sem precedentes na história, dilemas éticos a resolver. Durante o Seminário Internacional de Jornalismo Esportivo, Sociedade e Indústria, promovido pelo Projor, os jornalistas Paulo Calçade, da ESPN, André Fontenelle, da Sportv, Maurício Stycer, do UOL, e James Dart, do jornal britânico “The Guardian” compuseram uma roda de debates e preocupações.
Confira entrevista com Paulo Calçade
[tube]http://www.youtube.com/watch?v=YBAsiCCIra4[/tube]
O anseio de parte da sociedade por notícias relacionadas à vida pessoal de personalidades do esporte estende à atividade jornalística, sob o ponto de vista da ética, um limite arriscado. Para Paulo Calçade, a abordagem de aspectos da vida íntima de atletas tem de obedecer, nesse quesito, às mesmas regras que regem a vida de pessoas comuns. “Não pode ser algo descompromissado. Não é porque é uma figura pública que você pode invadir a privacidade. Não vejo dessa maneira. Eu me coloco no lugar deles”, disse o jornalista.
Ele pondera, no entanto, que a atuação do jornalista esportivo está restrita àquilo que impacta dentro de campo, ainda que praticado fora dele. “Se o jogador não pode jogar porque tomou um porre e está caído no vestiário, aquilo está interferindo na atividade dele”, completou Calçade, defendendo a prestação da informação nesses casos. Traçando um panorama sobre como atuam os tabloides ingleses, James Dart também criticou a postura invasiva, na Inglaterra, de jornais menores, mas populares. Para ele, essa prática fere os princípios do Jornalismo.
Uma preocupação de conflitos de interesses foi trazida pelos jornalistas. Maurício Stycer considerou preocupante, por exemplo, o fato do ex-jogador Ronaldo ser comentarista durante a Copa, mesmo sendo dono de uma empresa que cuida da carreira de jogadores que podem fazer parte do time. No mesmo campo do conflito, está o de empresas que precisam se resolver as atividades de jornalismo ainda que seja patrocinadora do evento. “Que tipo de isenção terá e como vai proceder com esse duplo interesse”, contestou.
Confira entrevista com Maurício Stycer
[tube]http://www.youtube.com/watch?v=FVarmRmnXx0[/tube]
Outro crescente dilema que tem causado preocupação aos estudiosos e técnicos é o uso do jornalismo esportivo para fins de entretenimento. Aquilo que foi chamado por Juca Kfouri, no Seminário, de “liefertização da cobertura esportiva” encontrou resistência também no segundo dia de debates. Na opinião de Paulo Calçade, a notícia preocupada em levar doses de humor tem afetado o jornalismo enquanto ciência. “Quando a informação vem desprovida de conteúdo, (a atuação jornalística) vira uma coisa muito rala. Isso, qualquer um pode fazer”, completou. Para André Fontenelle, é necessário que o formato seja realmente mais leve.
O advento das redes sociais e a uso desses suportes como plataformas jornalísticas também ganharam destaques no debate. Ferramentas como Twitter e Facebook, na visão de Maurício Stycer, têm evidenciado a prática do mau jornalismo. “A instantaneidade da internet cria problemas técnicos graves. Sai muita besteira”, disse. Paulo Calçade, por sua vez, combateu aquilo que ele chamou de “ética de mão única”. “O jornalista tem uma série de obrigações, mas do outro lado os valentões virtuais, aqueles sem condições de interagir, não têm”, reclamou.
Por Anderson Olivieri e Lucas Salomão– estudantes de jornalismo, repórteres da Agência de Notícias UniCEUB