Ciranda da Bailarina

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Por traz de toda graciosidade do balé existe uma rotina de muita dor e esforço, apesar disso, na ponta dos pés ela busca o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal. O palco é o Distrito Federal, um lugar que na teoria é perfeito, sem desnível, um terreno plano. Na prática as dificuldades estão além das lesões e da falta de apoio familiar, a desvalorização da arte e a vida na periferia do entorno são fatores que também dificultam a vida da bailarina. Mesmo assim, ela consegue realizar toda sua apresentação com um lindo sorriso no rosto, porque ela enfrenta os obstáculos sem demonstrar fraqueza mesmo quando a vida está uma barra.

Foto: Danilo Bergamini

Primeiros passos

A bailarina Fabíula Santos de 27 anos explica como o apoio dos seus pais ajudou a superar as dificuldades na sua carreira na dança. “Ser bailarina em Brasília traz desafios únicos. A falta de recursos e espaços adequados para ensaios, além da escassez de palcos e oportunidades de apresentações, dificulta bastante a carreira. A competição é intensa, e muitos profissionais acabam migrando para outras áreas para garantir uma renda estável.”

Ela completa, “O apoio familiar foi fundamental na minha decisão de ser bailarina. No começo, minha família era cética, preocupada com a instabilidade da profissão. Porém, com o tempo, eles começaram a ver minha paixão e dedicação, e passaram a me apoiar, o que fez toda a diferença”.

Hoje sua Mãe, Fátima Teixeira Santos, afirma com orgulho que a filha está no caminho certo para seu sonho. “Tenho muito orgulho da minha menina, sempre foi obstinada para perseguir seus sonhos. Antes eu tinha medo por ela, não sabia das dificuldades. Mas hoje sou eu sou a maior fã dela”.

Foto: Reprodução

Tropeços

Além dessas adversidades, Fabíula conta que convive com dores constantes por causa do grande desgaste físico que o ballet exige, por isso lesões são bastante comuns entre os artistas de dança. “É uma luta diária manter o corpo saudável e forte, e muitas vezes, preciso lidar com a dor como parte da rotina”.

A dona Fátima nunca escondeu que odiava ver a filha com lesões por causa da dança. “A gente se preocupa né, quando olha o tamanho das bolas de inchaço que fica na perna, no tornozelo. As vezes ela chegava cansada e mancando eu sabia que teria que cuidar bem das feridas”.

“Isso quando era algo que eu podia tratar, porque ela já sofreu algumas lesões nos dedos e no joelho que só com cirurgia para arrumar, meu Deus, eu fiquei apavorada”.

Origem

A pequena bailarina da dona Fátima nasceu no Hospital do Gama DF no dia 13 de maio de 1997 e viveu na Cidade Ocidental até os seus 18 anos. Lá que seu amor pelo balé clássico cresceu e se desenvolveu, quando ela se mudou para Taguatinga seu foco se voltou completamente para a vida de dançarina profissional.

Ela acordava todos os dias 05:30 da manhã para chegar na escola no horário, pegava o ônibus com sua mãe que trabalhava como diarista e precisava que sua filha ficasse na escola até de tarde. Assim começaram as aulas de balé de Fabíula.

Professoras e Escolas

Fabíula teve uma professora de balé clássico na sua infância, no colégio Sol Poente. A professora Cinthia Ferreira que nos conta como foi a experiência de ser professora da jovem dançarina.

“Fabíula sempre foi uma criança dedicada e comprometida com a sua evolução. Desde o início, ela demonstrou grande disciplina e sensibilidade para a técnica, além de uma graça natural que se refletia em seus movimentos. Fabíula tinha uma postura muito respeitosa em relação ao aprendizado e sempre se entregava de corpo e alma às aulas”.

“Sua evolução foi visível ao longo do tempo, e a paixão pela dança nunca deixou de brilhar em sua postura e expressão. Ela sempre foi uma aluna focada, com uma grande capacidade de absorver novos desafios e evoluir constantemente”.

Oportunidades de trabalho

As oportunidades são limitadas, existem algumas companhias e projetos, mas nem sempre são suficientes para sustentar todos os bailarinos. Muitos precisam complementar a renda com aulas ou trabalhos em outras áreas. Mesmo assim Fabíula projeta um grande futuro para si,

“No futuro, quero me ver como uma bailarina reconhecida, talvez até criando minha própria companhia de dança ou projeto social que incentive novos talentos. Acredito que é possível transformar a realidade da dança no DF e abrir mais portas para as próximas gerações”.

Palcos

Fabíula se apresentou em diversos espetáculos aqui em Brasília no Centro de Convenções e no Complexo Cultural Funarte Brasília. Ela conta, “Se apresentar no palco é uma sensação única, quase mágica. No começo, há uma mistura de nervosismo e excitação, como se o coração batesse mais rápido, mas ao mesmo tempo você sente uma concentração profunda, como se o mundo ao seu redor desaparecesse”.

“Quando a música começa e o corpo se move no ritmo, é como se a dança tomasse conta de você, transformando toda aquela energia em algo maior, que ultrapassa o próprio movimento. A plateia, mesmo silenciosa, transmite uma energia que faz o palco brilhar”.

“A cada passo, você não está mais sozinha, está compartilhando algo muito íntimo, mas ao mesmo tempo coletivo, com todos ali. É uma entrega total, uma sensação de liberdade e conexão que não se compara a nada”.

Balé desde o berço

A professora de balé Marlene Mattos de 53 anos que dança desde os 5 anos de idade sabe melhor do que ninguém o significado da palavra perseverança. Nascida em Cuiabá MT, Marlene desenvolveu seu amor por dança assistindo apresentações no Cine Teatro Cuiabá com seu Pai.

O senhor Cláudio de Trindade levava a filha ao espetáculo sempre que podia. “Tudo começou com o incentivo do meu pai, ele amava balé, achava lindo”, naquela época o pai de Marlene ainda não sabia que a filha viria a se tornar uma bailarina profissional.

Quando a pequena chegou ao quinto aniversário, seu Cláudio tratou de coloca-la na aula da dança que tanto amava. “ A minha professora era muito rigorosa, dona Célia, mas foi muito importante aprender os fundamentos com ela. Tive 3 professoras na vida, Célia, Ana e Valéria. A última era um amor de pessoa, era a professora aqui de Brasília, eu a conheci quando tinha 17 anos”.

Foto: Reprodução

Saudade

Marlene veio para Brasília com 15 anos, depois do falecimento de seu pai. Sua mãe, Alzira foi fundamental para a jovem se manter seguindo seu sonho. “Depois que meu pai morreu eu queria desistir, para mim não fazia mais sentido. Eu queria dançar com meu pai me assistindo do palco, foi uma época muito difícil”.

“Graças a minha mãe eu voltei para dança com 17 anos, ela falou que meu talento e os esforços da família para me manter no balé não podiam ser deixados de lado. Sou muito grata aos meus pais por tudo, sem eles eu não teria a vida que tenho hoje”.

“Sinto muita saudade de Cuiabá e do meu pai, a última vez que voltei na cidade foi muito emocionante, acredito que ele sempre me observou em todos as apresentações da minha vida, tenho fé nisso.”

Foto: Reprodução

Motivação

Marlene explica que o amor pela dança foi o que a manteve focada no balé desde pequena. “Quando comecei, era como se o balé fosse uma linguagem através da qual eu poderia me expressar de uma forma que palavras não conseguiam. Desde cedo, percebi que a dança me trazia uma sensação de liberdade e de conexão com meu corpo que nada mais conseguia”.

“Além disso, o balé exige disciplina, e a rotina de ensaios e a busca constante pela perfeição acabaram se tornando uma parte natural da minha vida. Meu pai me ajudou e ensinou muito sobre disciplina também, ele que me levava para as aulas. A dedicação ao balé também me ensinou a lidar com os desafios e as frustrações, porque, ao contrário de muitas outras atividades, a dança exige não só técnica, mas também uma entrega emocional muito grande”.

Salário

Marlene explica como funciona a remuneração de uma bailarina atualmente no DF. “Atualmente, o salário de uma bailarina no DF pode variar dependendo do tipo de contrato e do trabalho específico que estou realizando. Em uma companhia de dança, por exemplo, o valor pode ser mais fixo, mas mesmo assim, não é dos mais altos. Se estamos falando de apresentações ou projetos freelance, o pagamento tende a ser por evento ou apresentação, e isso pode ser bem instável”.

Ela conclui, “no geral, posso dizer que o salário médio de uma bailarina no DF gira em torno de R$ 2.500 a R$ 4.000, dependendo da experiência, do prestígio da companhia ou da escola onde trabalho, e da quantidade de apresentações ou aulas que tenho durante o mês. Para quem trabalha como autônoma, o valor pode ser menor, pois as oportunidades nem sempre são constantes”.

Lei Rouanet e Funarte

A Lei Rouanet ou Lei de Incentivo à Cultura é uma importante ferramenta de fomento à cultura brasileira há mais de duas décadas.

Criada em 1991, ela consiste em benefício de isenção fiscal às empresas apoiadoras de projetos culturais. Cabe aos responsáveis pela proposta a captação de entidades interessadas a patrocinar, após análise e aprovação da Secretaria de Economia Criativa e Fomento Cultural, vinculada ao Ministério da Cultura.

Um dos equipamentos culturais mais simbólicos do Distrito Federal, o Complexo Cultural Funarte Brasília dirigido pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec)foi cedido até o fim de 2024 ao governo federal, o espaço foi incorporado ao circuito de teatros e galerias administrados pela Secec desde 2021.

Em setembro deste ano, o SescDF e a Funarte apresentaram a dança “A Escultura” no complexo cultural. O espetáculo contou com tradução em libras e audiodescrição em todas as sessões. A entradagratuita é livre para todos os públicos ajudaram a reunir pessoas de toda capital e entorno para apreciar a apresentação. Além disso, metade dos ingressos foram reservado para pessoas com mais de 60 anos e pessoas com deficiência para demonstrar como o ballet também representa a inclusão de todos.

Investimentos recentes no DF

No dia 14 de novembro deste ano, MinC e Funarte lançaram edital de Mobilidade Cultural, e retomam o Programa de Intercâmbio Cultural, com investimento de R$ 1,4 milhão. O edital visa promover a participação de agentes culturais e artísticos brasileiros, para apresentação de trabalho próprio, em eventos, feiras de negócios e outras atividades culturais e artísticas no Brasil e no mundo, que promovam o intercâmbio e a difusão, por meio do apoio financeiro para custeio de despesas de deslocamento e permanência.

O investimento foi dirigido para o processo seletivo, em duas categorias de apoio a Ações Artísticas, ligadas às Artes Visuais, Circo, Dança, Música, Teatro e Literatura; e outra de Ações Transversais, que busquem divulgar expressões culturais, saberes, práticas, modos de vida, bens, produtos e serviços culturais brasileiros, e que, por serem sazonais, peculiares, transversais ou inéditas, não se encaixam em uma única área ou expressão cultural.

Foto: Acácio Pinheiro/Agência Brasília

Margareth Menezes, Ministra da Cultura, ressaltou a importância do programa para a imagem do Brasil no cenário cultural global. “Este edital é uma oportunidade para que nossos artistas e agentes culturais levem suas produções e experiências ao mundo, ao mesmo tempo em que trazem de volta conhecimento e intercâmbio que contribuem para o fortalecimento da nossa cultura”

Acesse aqui a página do edital no Mapa da Cultura

Por Danilo Bergamini

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