Desemprego no DF afeta mais mulheres, jovens e negros

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Com um déficit de R$ 404 milhões, o Governo do Distrito Federal cortou investimentos, parou e atrasou obras e salários dos servidores. Em números, o desemprego teve um aumento de aproximadamente 30 mil pessoas, comparado com o mesmo período do ano anterior. Em junho de 2016, o índice era de 299 mil desempregados. Já em 2017, esse número é de 329 mil. Segundo último levantamento da Companhia de Planejamento do Distrito Federa (Codeplan), essa taxa é representada principalmente por negros (72,5 %), mulheres (52,7%) e jovens (39,5%). Além disso, o número de unidades comerciais que fecharam as portas superou o de aberturas em 2,5 mil. O primeiro semestre do ano apresentou o pior período da crise econômica, desde 2010, quando o Brasil teve o maior crescimento do seu PIB em 20 anos.

O desemprego afeta as Regiões Administrativas (RAs) do Distrito Federal de forma desigual. As RAs consideradas nobres, como Plano Piloto e Park Way, representam 9,1% da população desempregada. Regiões como Águas Claras e Sobradinho, que estão inseridas nas RAs de renda média-alta, caracterizam 16,5%. O desemprego é predominante nas RAs de menor renda, como Itapoã e Estrutural. Essas cidades compreendem 26,3% da população desempregada da capital federal.

O desemprego cresceu para toda a sociedade ao se comparar junho de 2016 e junho de 2017. Segundo Adalgiza Lara Amaral, coordenadora da Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED-DF) pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) o principal motivo é a recessão econômica. Por conta dela houve o aumento da informalidade e a criação de postos de trabalho que são considerados precários. As causas que elevaram os índices de desemprego são vários, entre eles: o fato do desemprego ter crescido para os chefes de família, afirma Adalgiza: “Isso influenciou as pessoas a saírem da inatividade, isto é, antes só estudavam ou estavam se preparando para entrar no mercado de trabalho, foi em busca de trabalho para complementar a renda.”

Desemprego cresceu em 2017. Foto: Isabela Guimarães/Agência de Notícias Ceub

As mulheres representam 52,7% da população desempregada no Distrito Federal, Thayse Lemos, 34, está inserida nesse percentual. Formada em Administração, ela perdeu o emprego de administradora de condomínio há cerca de um mês. Lemos afirma sofrer preconceito por ser mãe solteira “Vejo uma reação na aparência, tipo arregala o olho. Eu acredito que devem pensar que tudo que acontecer com o filho ela [mãe] que vai ter que resolver, como se não houvesse um suporte para mim”. Esse índice é comprovado em pesquisa realizada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE). Segundo Adalgiza, esse número sempre foi mais alto do que o de homens.  Ela explica os motivos que justificam essa diferença: “o preconceito; a aparência física; estado civil; idade fértil; possibilidade de gravidez; o fato de ser mãe e suas obrigações. A desigualdade salarial também é histórica”

Lucas Araújo, 19, estudante de fisioterapia, relata que preferiu não procurar por emprego agora, pois não se vê preparado para disputar uma vaga no mercado de trabalho. “Devido à crise que o país esta passando onde só os mais preparados conseguem emprego, decidi me dedicar somente aos estudos e as qualificações na minha área.” Para os jovens, a disputa pela vaga também é acirrada. Por não terem experiência, a competição pelas vagas e visto que ainda não terminaram os estudos ou ainda não estão qualificados o bastante, não são contratados, em detrimento dos mais velhos e com mais experiência. Por isso, muitos jovens optam por permanecer desempregado e a utilizar o tempo livre para se qualificar em suas respectivas áreas. O perfil de Lucas representa 39,5% da população desempregada do DF. O agravamento da taxa de desemprego dos jovens vem acompanhada do aumento da informalidade.

Aumento da informalidade

O trabalho autônomo cresceu 15,6% no mês de junho de 2017 se comparado com o mesmo período do ano passado, segundo a pesquisa. O número de trabalhadores sem carteira assinada também aumentou em 4,2%. Vera Maria, 30, é formada em Ciência Política e perdeu o cargo comissionado no extinto Ministério das Comunicações por causa da crise. Para complementar a renda, Maria decidiu vender doces. “ (Eu) vendo por onde passo, durante a semana. Faço curso na Ceilândia e no Plano Piloto. ” Vera relata ainda que muitos colegas perderam os empregos: “ Eles estão se virando como podem, continuam na saga de um novo trabalho com carteira assinada. ”

Fechamento de empresas

Joilson Rodrigues,30, formado em administração, foi mais um empresário vítima da crise. Proprietário da Nacional Madeiras (Vicente Pires) desde 2009, se viu sem alternativa e precisou encerrar o comércio de madeira e artefatos em 2016. A empresa que já teve oito funcionários diretos e quatro indiretos, não conseguiu driblar os problemas econômicos e teve que fechar a empresa. Para Rodrigues, o fim da empresa foi desencadeado pela crise: “A crise foi o maior vilão do fechamento (da Nacional Madeiras).(…) O maior desafio já era a sobrevivência, pois abri a empresa já num mercado em crise.” (sic) segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). A história de Joilson se confunde com a de 2,5 mil pessoas que fecharam unidades comerciais na capital federal. O número é 17% maior do que o de encerramento no mesmo período de 2015. No Brasil, o ritmo foi 6,7% superior na mesma comparação.

Isabela Guimarães e Matheus De Luca

Sob supervisão de Guilherme Di Angellis

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