“A fome dói”, diz desempregada na Asa Sul

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“O que eu mais quero na vida é voltar a ser útil”. A emoção está nas palavras de Lídia Angela Cesário, de 47 anos, na porta de um supermercado, na Asa Sul, em busca de dinheiro para pagar aluguel e comprar remédios. Ela mora em Santa Maria (DF), a cerca de 40 km de onde ela pede socorro. O dinheiro que ela pede não será para presentes de Natal, mas para levar o mínimo para filhas e netos. Lídia cuida de duas filhas adolescentes além dos quatro netos, três crianças e um bebê. 

Foto: Bruno Marinho

A história dela não começa na frente de um supermercado Ela trabalhava como auxiliar de cozinha e cuidadora de crianças. Sustentava a casa e não tinha problemas financeiros. Hoje, ela recorre a doações para se alimentar e a todos que vivem sob seu teto. Vítima de artrite reumatoide, doença inflamatória crônica que pode afetar várias articulações, depende de remédios para seu tratamento ser eficaz e ela poder trabalhar novamente.  “A fome dói”, diz a frase que ela escreveu no papelão para sensibilizar quem passa pela quadra 506 Sul.

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“Eu fui ao médico e pedi esses remédios pelo SUS, mas eles custam muito caro, e sem eles eu não consigo trabalhar”, completa. Além disso, ela compartilha que esse tratamento é muito agressivo em outras áreas do seu corpo. “Esses remédios vão me tratar para a artrite, mas o médico me falou que eles afetam os rins, então é uma luta constante, cada hora tratando uma coisa diferente”, conclui.

Lídia recorda que já tentou pegar os remédios necessários para o tratamento pela farmácia popular, mas sem sucesso algum. Com a chegada da pandemia, a situação piorou, e ela viu o auxílio emergencial ser cancelado de uma hora para a outra. “Perdi os últimos dois pagamentos. Eu ia pagar o aluguel, de 400 reais, e comprar comida”, conta.
Ela acrescenta que as suas filhas não conseguem arrumar emprego e saíram da escola, por conta do ensino a distância. “Com essa pandemia, as coisas vão só piorando a cada dia que passa. Enquanto elas estavam indo para a escola já tinha alguma coisa, né? A gente não tem nem celular em casa, como vamos ter internet. O sonho da minha filha é um dia poder entrar na faculdade”, complementa. 

Após a morte do seu meio irmão, que lhe ajudava financeiramente, viu o restante da sua família se afastar até perder o contato. “O Natal é tempo de se reunir e passar juntos. Depois da morte da minha mãe, alguns anos atrás, a família parou de  passar a data junto, e todo mundo se separou. Minha mãe sempre cozinhava e reunia a família”. Para ela, o mais triste é não poder proporcionar os desejos de suas filhas e enteados. “O que mais me dói é minha filha me dizer que queria ir ao shopping ver as luzes de natal”, emociona-se.

Por André Atan e Bruno Marinho
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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