Elas são maioria nas redações, mas não na editoria de esportes. “É um processo longo”

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 No total, elas representam 64% e já dominam as redações do país, de acordo com uma pesquisa divulgada pela  Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) em abril deste ano. Apesar disso, quando o assunto é jornalismo esportivo a situação não é a mesma.  Durante o Seminário Internacional de Jornalismo Esportivo, Indústria e Sociedade, nos dias 7e 8 de maio, em Brasília (DF), Joana de Assis (SporTV) e Marluci Martins (jornal Extra) concordaram que  cabe à mulher conquistar espaços nessa editoria e superar, por vezes, entreolhares e piadinhas de colegas.

Entrevista com Joanna de Assis

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“O incrível é que não é o jogador ou o técnico que acham que você não se encaixa, o preconceito pode vir de um colega de trabalho”, disse Joanna. Mas ela aponta que falta, principalmente, estímulo das próprias mulheres a conquistarem espaços em uma divisão que sempre foi considerada masculina.

Joanna diz existir certa hipocrisia social relacionado a mulheres receberem cantadas no meio do jornalismo esportivo. Para ela, mulheres receberem cantadas não é uma coisa específica do jornalismo esportivo, é natural e acontece em qualquer lugar. “Se você for à padaria pode acontecer de um cara te cantar, é normal e não caracteriza preconceito”, indica.

Postura – Na opinião da repórter, tudo é uma questão de postura. A jornalista Marluci Martins, do jornal Extra, concorda com a afirmação da colega. “Já recebi várias cantadas, mas sempre deixei claro que estava a serviço”. As profissionais que cobrem, segundo entendem, precisam mostrar que estão ali para trabalhar. “Você tem que conseguir deixar claro, nem que seja falando mesmo, que você é legal, não está dando mole”, explica Joanna de Assis. Mas, para ela, esse é um espaço que você conquista. “À medida em que eles entendem que você está ali para trabalhar igual todo mundo, isso acaba e eles passam a confiar em você, a te dar crédito”, afirma.

Entrevista com Marluci Martins

[tube]http://www.youtube.com/watch?v=Er9gAX3zbuY&feature=youtu.be[/tube], (repórter: Lucas Salomão)

Para as jornalistas, as mulheres têm alguns anos de desvantagem oriundos da formação que recebem dentro de casa, enquanto desde pequenos os garotos são estimulados a gostar de esportes e praticá-los, as garotas são empurradas para outro lado em direção a bonecas e bailarinas. “Nós nunca vemos um pai de menina no corredor do hospital vibrando porque nasceu sua camisa 10”, brinca Joanna.  Segundo ela, isso acaba gerando garotas que não entendem nada de esporte e nem se interessam pelo assunto, mas essa é uma coisa que pode ser compensada. “Se tiver interesse, é questão de correr atrás”, diz.

A única desvantagem real considerada pela repórter é a física. Ela ressalta que mulheres são menores e mais delicadas e em certas situações isso pode ser uma dificuldade. “Ali na zona mista é o caos, é cotovelada para todo lado (risos)”, diz a respeito do momento em que os jogadores saem de campo e passam por um pequeno corredor onde toda a imprensa disputa por um espaço para ouvi-lo.  E como compensar essa desvantagem? Joanna revela os caminhos, “eu bato também, me jogo no chão… O que for preciso (risos)”.

Vestiário

No passado recente, os jornalistas tinham acesso aos vestiários após os jogos para falar com os jogadores. Joanna e Marluci contaram que durante suas carreiras, essa foi uma parte complicada. A situação era embaraçosa e acabava deixando a jornalista do lado de fora, esperando os jogadores colocarem alguma roupa, enquanto os outros repórteres já estavam lá dentro obtendo informações. “Não é eu que era proibida de entrar, mas tentava evitar uma situação constrangedora tanto para mim quanto para o jogador que eu poderia ver”, explica Joanna. “Entrava olhando para cima. Não podia perder as informações. Aos poucos os técnicos nos ajudavam organizando o vestiário melhor”, disse Marluci

Hoje, a burocratização não permite que ninguém mais entre em vestiário o que, para a jornalista, é bom porque igualou as condições para homens e mulheres. Ela diz que agora, não existe mais esse constrangimento para ninguém e a mulher não precisa ficar atrás em obter uma informação para evitá-lo. Mas, por outro lado, não entrar nos vestiários é ruim, pois, significa uma perda de contato para os jornalistas. Conforme explicam, não se tem mais esse acesso livre e direto aos jogadores, o repórter não pode mais escolher o jogador com quem quer falar.

O trabalho da assessoria de imprensa ganhou força e, com isso, todos os jornalistas falam apenas com os jogadores que a assessoria seleciona para ir à mesa após o jogo e, para Joanna, geralmente esses jogadores não são os que realmente interessam.

Assessores

A relação de amor e ódio entre assessores de imprensa e repórteres não é nenhuma novidade e, para Joanna e Marluci, no jornalismo esportivo a atuação da assessoria de imprensa tem dado trabalho aos repórteres. “Assessor é um bicho que a gente briga sempre, né? Eu mesma já briguei feio com alguns porque eles são terríveis”, brinca Joanna.  Segundo ela, alguns assessores querem ficar do lado do jogador durante a entrevista controlando as perguntas do repórter, chegando a interromper no meio de uma pergunta para dizer que aquilo não pode ser indagado. “Já aconteceu comigo, mas aí eu briguei. O assessor não tem o direito de controlar o que eu pergunto ou não, não é ele quem me pauta”, diz.

Outra dificuldade oriunda da atuação dos assessores, de acordo com Joanna, é o engessamento das fontes. A assessoria tem marcado pesado, mas a maior parte dos profissionais não ensina o jogador a pensar antes de falar ou a sair de situações, eles o travam. Segundo elas, às vezes é possível perceber que o jogador está repetindo uma mensagem ensaiada.

Por Sthael Samara – estudante de pós-graduação em jornalismo esportivo, repórter da Agência de Notícias UniCEUB 

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