
Em meio à polarização eleitoral, têm surgido nas redes sociais movimentos com ideais da direita radical. São associações ao nazismo, ao fascismo e a atos anarquistas que acabam repercutindo entre os internautas. Nos últimos dois anos, movimentos liderados por totalitaristas também reverberaram, como de grupos que foram às ruas inspirados em atos de supremacia branca. Especialistas como psicopedagogos, cientistas políticos e coordenadores pedagógicos explicam como essas influências afetam o comportamento social dos jovens.
A psicopedagoga Eliane Rodrigues Chaves explica que entre os 12 até aos 17 anos, os adolescentes estão mais suscetíveis a ouvir conselhos. “Nesta idade, eles estão instáveis emocionalmente e querem fazer parte do ambiente ao seu redor, querem ser aceitos em determinados grupos, sendo mais vulneráveis às influências sociais”, completa.
Para ela, as redes sociais e a mídia exercem um poder significativo na vida e na saúde mental dos usuários. “Quando argumentos extremos se repetem, eles começam a se normalizar ou a ser menos criticados, e o jovem logo percebe que essas linhas são aceitas em alguns meios”, esclarece Eliane.
A psicopedagoga aponta ainda que, quando se sente pressionado, o adolescente muda suas crenças para se sentir valorizado entre amigos. “Esses grupos trabalham o psicológico. Isso faz deles um local onde esse indivíduo é bem visto”, descreve. Eliane aconselha os pais a ensinarem os filhos a lidar com esse assédio velado, a dizer “não”, expandir a rede de amizade e, principalmente, elevar a autoestima da criança ou adolescente, para que ele possa resistir à pressão social da mídia.
A psicopedagoga frisa a importância da leitura e do aprendizado sobre o assunto. Segundo ela, a sociologia e a filosofia fazem com que os jovens tenham um maior posicionamento perante os debates. “Os jovens precisam ser mais dialéticos, não significa abrir mão do seu ponto de vista, mas saber também que há outras posições que precisam ser levadas em conta. Eles (jovens) precisam ser mais flexíveis, ter empatia e perceber que há outra verdade além da sua”.
Extremismos e atos de violência
Com a crescente polarização política, aumentam os casos de violência gerados por ideais extremistas. “A partir do momento em que o jovem se encontra em um momento tão polarizado, com opções tão fechadas entre simpatizantes de um candidato ou de outro, ele pode tomar isso como ‘normal’ do processo democrático. Sendo que essa é uma característica peculiar dessa eleição”, diz o cientista político Paulo Ferracioli.
Ele também expõe que esse pode ser um período difícil para jovens que estão começando a participar da vida política. “Não significa que isso vá se reproduzir em todas as outras eleições. Isso é algo importante a ser dito, para que todos saibam que as características das eleições vão mudando”, reforça.
O cientista político explica que o sucesso de alguns candidatos conservadores de direita no Brasil nas Eleições Gerais de 2022 mostra que esse é um tipo de discurso que foi acolhido pela população e está em sintonia com outros países. Ele ainda usa como exemplo o ex-presidente Donald Trump, dos EUA, e a Marine Le Pen, da França, que, mesmo não sendo eleitos em seus países, representam uma força de extrema direita.
“Essa radicalização no período eleitoral é quando se torna mais visível, porque os candidatos querem votos. Para isso, eles e seus simpatizantes vão produzir de maneira insistente a comunicação para alcançar esse objetivo”, diz Paulo sobre como e por que a polarização está mais perceptível.
O cientista informa que, durante os dias que antecedem a eleição, há um objetivo muito claro a ser alcançado: conquistar votos para um candidato específico. “Mas isso não significa que o fim das eleições vai decretar o fim desses posicionamentos antagônicos”. Porém, Paulo ressalta que talvez isso seja substituído no discurso público por outros temas que estejam mais em debate naquele momento.
Influência dentro das redes
Em fevereiro deste ano, repercutiu a polêmica envolvendo o youtuber e apresentador Monark. A discussão se originou devido ao apoio explícito do apresentador ao Deputado Federal Kim Kataguiri. “Se o cara quiser ser um anti-judeu, ele tinha que ter direito de ser”, afirmou ele durante uma participação no programa Flow. O posicionamento que chocou os telespectadores também criou dúvidas sobre os limites de expressão dentro da mídia e sobre o impacto que essa fala poderia causar.
Para Miguel Antônio, estudante de 14 anos, os influenciadores digitais possuem um grande alcance na mídia e consequentemente exercem uma grande influência política sobre a juventude. “A maior parte desses seguidores são jovens, que seguem sua rotina, acompanhando sua vida, o que vestem, o que comem e principalmente o que pensam”, conclui.
Como atualmente a maioria dos estudantes possui um celular com acesso a internet, o professor e coordenador do colégio CED 06 na Ceilândia, Valter Silva, conta que infelizmente a escola não tem recursos em relação ao monitoramento dos alunos nas redes sociais. Ele ainda diz que, em um período conturbado com discursos extremistas e preconceituosos sendo propagados, é necessário um cuidado maior com os jovens.
“Dentro do ambiente escolar, penso que o maior foco deve ser na formação cultural dos jovens, onde são cultivadas posturas e comportamentos que proporcionem laços de respeito, solidariedade e fraternidade”, diz Valter Silva.
O professor frisa a necessidade de ações preventivas dentro das escolas, como o uso de murais educativos e de conversações nas salas de aula para alertar os estudantes sobre expressões e gestos que não devem ser utilizados. “Por esse motivo também considero a aula de sociologia algo fundamental, já que ela contribui diretamente para um senso de coletividade”, completa.
Mirian Machado, de 62 anos, aposentada e mãe, conta que orienta o filho conforme os princípios da família. Ela também sempre tenta incentivar o filho a ler, estudar e pesquisar para formar a própria opinião política e ter noção do que é certo ou errado. Porém confessa que, devido ao cenário atual, é melhor não expor as opiniões, tanto fora quanto dentro das redes sociais. “Está tudo muito agressivo e intolerante, penso que o melhor seja não expor muito o que pensamos. Pois com isso, estamos expondo nossas vidas”.
E nas escolas?
O recente caso de apologia nazista, feito por uma professora de uma escola particular no Paraná, abriu a discussão sobre o tema da política nas escolas. A instituição afirmou cobrar uma “posição neutra” de seus funcionários e que repudia quaisquer ações que venham a ferir valores da vida, da moral e da ética. Em nota, também deixa claro que já foram tomadas medidas em relação ao comportamento da funcionária.
A psicopedagoga Elaine Rodrigues Chaves atribui às escolas a função de ofertar palestras motivacionais, momentos de escuta e ajuda psicológica. Quanto aos pais, ela recomenda que fiquem atentos para o que os filhos veem na internet (sem proibição), melhorem a conscientização e mantenham um vínculo de amizade. “Muitas crianças apresentam comportamentos diferenciados, são negligenciadas e, quando não aguentam, explodem. Aí é tarde.”
Por Ana Clara Neves, Catharina Braga, Maria Eduarda Fava e Larissa Tavares
Supervisão de Isa Stacciarini