Feira da Ceilândia: quem são os octogenários que não param de trabalhar

COMPARTILHE ESSA MATÉRIA

Os traços  culturais diversos que construíram o Distrito Federal estão presentes na vida dos pioneiros da Feira Central de Ceilândia. Entre as 500 bancas que misturam os cheiros de diferentes pratos típicos, frutas, carnes, roupas, bolsas, utensílios para o lar e de tudo um pouco, há uma imersão aos cinco sentidos de quem visita o lugar. 

No corredor F da feira, um dos pioneiros é o comerciante Genésio. Sentado em frente a sua banca de bolsas e malas de viagem, uma das maiores da feira, o vendedor de 88 anos relembra a sua trajetória no local. 

Natural de Anápolis, Goiás, ele veio para Brasília em 1955 para ajudar na construção da capital. Logo depois retornou para a cidade de origem. Dezoito anos depois, em 1973, teve a necessidade de voltar para Brasília e começou a trabalhar na Feira da Ceilândia. Primeiro como vendedor ambulante, depois conseguiu uma pequena banca dentro da feira.

Atualmente, a banca de Seu Genésio é uma das maiores, mas a sua primeira banca, que fica localizada em frente a atual, passou para uma de suas filhas, que vende pijamas e roupas femininas. 

Foto por Mariana Haun

“Comecei a trabalhar na rua, nas quadras. Vai lá, vem cá, carregando as coisas na mão, oferecendo. Depois é que eu resolvi trabalhar na feira. Nesse tempo a feira era nas barracas. Depois, nós viemos para cá e permanecemos até hoje”. 

Emocionado, Genésio fala sobre a esposa que faleceu em janeiro, mas que foi sua companheira de vida e de trabalho durante 62 anos. Juntos, o trabalho na feira ajudou o casal a criar as 3 filhas e os 6 netos. “A gente trabalhava juntos toda vida. Eu vivi com ela 62 anos, de mãos dadas. Ela nunca foi ruim para mim e nem eu ruim para ela”.

Esperança

Perto de uma das saídas da feira, o barulho das galinhas chamou a nossa atenção. Ao chegar perto, encontramos Seu José, o dono da banca 263. Nascido no município de Esperança, na Paraíba, ele se sente feliz em trabalhar com as aves há mais de 50 anos. “Gosto muito, 50 anos que eu trabalho. Adoro. Gente que gosta de bicho é gente boa porque tem horas que o bicho é melhor do que gente”. 

Foto por: Késia Alves

José chegou em Brasília em 1964 e logo começou com a venda de aves no Núcleo Bandeirante. Depois, migrou para a Ceilândia. Apesar das fases ruins, ele se sente orgulhoso em ter ajudado seus filhos na formação. “Na época da seca é mais favorável, a ave é mais bonita e sadia. Na época das águas tem menos. Essa época está ruim porque a pandemia fez o preço da ração aumentar, as vendas caíram 40%, 50% então tudo isso é ruim, mas estou satisfeito em trabalhar com aves, por ter seus filhos formados..”. 

Ao longo dos mais de 50 anos na feira, Seu José fez amizade com clientes que compram com ele há anos. Por mês, ele vende cerca de 500 aves, entre galinhas, patos e gansos. Ele brinca que o segredo de chegar aos 80 anos é vender galinhas. 

Por Anna Borges, Késia Alves e Mariana Haun
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

Este obra está licenciado com uma Licença Creative Commons Atribuição-SemDerivações 4.0 Internacional.

Você tem o direito de:
Compartilhar — copiar e redistribuir o material em qualquer suporte ou formato para qualquer fim, mesmo que comercial.

Atribuição — Você deve dar o crédito apropriado, prover um link para a licença e indicar se mudanças foram feitas. Você deve fazê-lo em qualquer circunstância razoável, mas de nenhuma maneira que sugira que o licenciante apoia você ou o seu uso.

SemDerivações — Se você remixar, transformar ou criar a partir do material, você não pode distribuir o material modificado.

A Agência de Notícias é um projeto de extensão do curso de Jornalismo com atuação diária de estudantes no desenvolvimento de textos, fotografias, áudio e vídeos com a supervisão de professores dos cursos de comunicação

plugins premium WordPress