As complicações decorrentes do uso exagerado de tecnologias não são restritas a adolescentes e jovens. O comportamento afeta todos que extrapolam o uso, inclusive os adultos. De acordo com os últimos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2015 as regiões Sudoeste, Sul e Centro-Oeste alcançaram os percentuais acima da média nacional em relação às pessoas com 10 anos ou mais de idade que têm telefone celular. A pesquisa constatou índices de 82,6%, 82,8% e 86,9% respectivamente, enquanto em âmbito nacional a média foi de 78,3%. No Centro-Oeste, porcentagens crescem de forma progressiva desde 2008. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), em 2015 o número de brasileiros conectados superou o de 100 milhões.
Estudante de engenharia, Henrique Felício, 19 anos, ocupava toda parte do dia nas redes sociais. “Eu acordava e já passava o dia inteiro nos aparelhos eletrônicos, inclusive durante as refeições”, contou. Para o jovem, a evolução tecnológica facilitou a agilização dos processos mas, ao mesmo tempo, impôs dificuldades.“Tudo isso afetou de uma forma muito negativa na minha vida, como minha convivência com meus amigos e até com meus pais, pois me tornei mais introspectivo na época”, explicou. Neste período, Henrique sentia fortes dores de cabeça de forma frequente, além de dores nas costas e piora da sinusite. “As pessoas ao seu redor querem interagir, porém nós ficamos presos dentro de um mundo falso que temos como verdadeiro”, lamentou.
Análise psicológica
Para a psicóloga e escritora do livro O Adolescente e a Internet, Cláudia Prioste, as pessoas têm deixado de lado as memórias para confiá-las aos dispositivos tecnológicos. “A indústria de entretenimento enriquece às custas de um empobrecimento do imaginário e das funções cognitivas’’, explicou. Na avaliação da especialista, um dos problemas do uso exagerado dos aparelhos eletrônicos é a idealização da vida alheia, o que gera sentimentos de inferioridade que podem se tornar mais intensos e prejudiciais. “Pode, inclusive, causar uma depressão”, alertou.
A psicóloga também chama a atenção para os distúrbios do sono nas pessoas que passam muitas horas conectadas à noite. “Isso ocorre devido à estimulação da luz, mas, também, devido às ansiedades decorrentes das interações virtuais.” Ainda segundo Cláudia, existem diversos tipos de problemas relacionados à saúde física e mental, que vão desde a anorexia, pois os jovens e adultos muitas vezes se recusam a se alimentar corretamente devido as horas perdidas nos aparelhos eletrônicos, até o contrário, já que podem passar a comer fast food em excesso e tornar-se, muitas vezes, obesos e sedentários. “O grande desafio de hoje é compreender o que está por trás dos recursos tecnológicos que usamos, identificar quem está ganhando com isso, como está ganhando”, concluiu.
Problemas nas articulações
A também estudante Carolina Assenço, 19 anos, passou bastante tempo com fortes dores nos dedos das mãos. “Eu não tinha consciência de que o uso excessivo dos meus polegares para digitar no celular, mexer no ipod e controles de jogos poderia causar tantos danos a minha saúde”, afirmou. Após algum tempo com os mesmos hábitos, a estudante precisou ir ao hospital, pois a dor piorou até para a realização de simples tarefas cotidianas. “Após realizar exames com um ortopedista, fui diagnosticada com tendinite leve, resultante dos esforços repetitivos com os aparelhos eletrônicos”.
Após tratar o pior da inflamação, com medicação e imobilização da área, a estudante buscou formas de evitar que acontecesse novamente. “Hoje em dia não sofro mais com isso, mas vejo que muitos colegas ou amigos meus sentem as mesmas dores que senti, mas tratam como banalidade, apenas por ter sido causado por algo simples como o celular”, completou.
A fisioterapeuta Jaqueline Madeiro constata que houve um aumento significativo nos casos de danos à coluna se comparado com alguns anos atrás. A especialista atribui o crescimento ao uso incorreto dos aparelhos eletrônicos. Segundo ela, os problemas mais frequentes são as cervicalgias, quando o paciente sente fortes dores na região da coluna cervical.
Devido o tempo prolongado com o pescoço para baixo as tensões musculares também são muito comuns, em especial na região dos ombros, e as próprias tendinites pelo uso excessivo das articulações. “A tecnologia segue avançando, o que desencadeia cada vez mais práticas erradas. Assim, o desenvolvimento de alguma patologia, que se não for tratada rápido, pode trazer dificuldades para o resto da vida dos pacientes”, explicou.
Por Nathalia Carvalho
Sob supervisão de Isa Stacciarini