Águas Claras: histórias de trabalhadores na região de arranha-céus e que não para de crescer

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Era uma vez uma cidade com renda per capita de R$ 3.3 mil. Uma raridade para um país em que a renda média é R$ 1.373 mil. Nas ruas há mais carros que pessoas a passear. Na imensidão de prédios, não há como detalhar/contar os 722 edifícios. Pessoas se encontram e desencontram nos elevadores. Quase não há lugar de tantos carros que disputam espaço. As duas ruas principais que cortam a cidade tiveram seus nomes inspirados em plantas, Arniqueiras e Araucárias. Mas as árvores são raras nesse lugar. A cidade não para. Mas, antes do trabalho o bichinho de estimação é o primeiro a descer. Os comércios ficam abertos 24 horas. Era uma vez esse lugar. Águas Claras poderia ser o cenário privilegiado para 148.940 habitantes. Mas esqueça tudo isso. Esse mesmo lugar é fonte de renda para famílias que vêm de outras Regiões Administrativas a fim de garantir seu sustento. 

Ceilândia, Taguatinga, Areal, Arniqueiras, e Guará são regiões que cercam Águas Claras e ajudam na expansão do mercado de trabalho. Com 26 anos de existência, e 15 de emancipação, Águas Claras tornou-se um local de grande procura por possuir imóveis novos, e com preço menor se comparado ao Plano Piloto. Seu nome é uma referência ao órrego de Águas Claras que nasceu na região e abastece o Lago Paranoá. O sol não perdoa quem está nas ruas. A cidade continua com o vai e vem de carros e construções a todo vapor. É possível ouvir o barulho das marteladas e furadeiras a qualquer momento, até mesmo de madrugada. Valda Figueiro, 37 anos, vende marmitas a 10 reais de segunda a sexta. Os principais clientes são profissionais da construção civil, que se esforçam para levantar prédios, mas não conseguiriam morar neles com o salário que recebem.

Moradora de Arniqueiras, RA vizinha entrecortada pelos trilhos do metrô e que está em processo de regularização, Valda começou sua jornada como funcionária de uma profissional que fazia marmitas e só utilizada sua mão de obra como vendedora. O primeiro ano do trabalho foi um sucesso, após isso, ficou doente e precisou parar. Mas, a necessidade fez Valda retornar a sua rotina que dura de 11h às 14h nos dias de semana. Atualmente vem trabalhar de carro e demora 10 minutos para chegar. Porém, nem sempre foi assim. Com a mão estendida em cima do balcão que serve os clientes, ela conta que precisou vir de ônibus várias vezes. “Só existe uma linha que passa aqui, ai demora demais”, relata. 

Era aproximadamente meio dia. Valda estava atrás do isopor que contém as marmitas e o suco que acompanha a refeição. Durante a conversa, um homem de blusa branca e calça jeans se aproxima com o intuito de realizar a comprar do seu almoço. Antônio Emiliano, 50 anos, é bombeiro hidráulico e se lembra dos ingredientes que tinham na marmita que comeu pela primeira vez. “Carne de gado, arroz, feijão e macarrão”, completa. Ao entregar o dinheiro para Valda e pegar sua feijoada, ele diz que indica a marmita para outras pessoas, e por isso sempre volta desde que comeu a carne de gado. Antônio pegou o troco, atravessou a rua, e sentou no chão para almoçar ao lado do amigo que já estava a mastigar.

Valda Figueiro vende marmitas nas ruas de Águas Claras

“Demora uns 40 minutos de ônibus”

As rodovias que cortam Águas Claras, como o Pistão Sul e a Estrada Parque Taguatinga (EPTG) começam a lotar por volta de 7h da manhã. Por causa desse movimento foram criadas as faixas reversas para transportes públicos em horários de pico. As estações de metrô Arniqueiras, Águas Claras e Concessionárias permanecem lotadas até o meio da manhã, 10h30, que é considerado horário de pico. Momento que a maioria dos trabalhadores e estudantes já chegaram em seus destinos. Porém, a realidade de quem pega a BR-020 para atravessar o Goiás e chegar a Águas Claras, Distrito Federal, não é comum para os moradores que saem rumo ao Plano Piloto. Quem sai de Águas Claras não tem a mesma realidade de quem chega ao “bairro dos contrastes”.

Acesse o link para ler a grande reportagem completa.

Por Rafaela Martins

Supervisão de Luiz Claudio Ferreira

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