Não é toda gestação que dura nove meses. A gravidez de aproximadamente 35 mil brasileiras é um ciclo indefinido. São mulheres que carregam no coração o desejo de serem mães. Karina, Soraya, Cibele, Carla e outras mulheres assumem batalhas que não são cólicas ou enjoos matinais. O que angustia as mães que buscam adotar é lentidão do sistema de adoção, que chega a 24 meses para a maternidade. Contudo, a realização do “nascimento”, de poder encontra-se como mãe, supera todo o processo de espera. “Quando eu soube que seria mãe, foi um sentimento que é impossível descrever. Filho não sai da gente, filho entra na nossa vida para transformá-la. O sentimento de ser mãe é de maternidade, de cuidar”, declara Soraya Pereira.
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Presidente da Organização Aconchego, grupo de convivência familiar e comunitária em Brasília (DF), Soraya declara ter encontrado realização a partir da maternidade. “Meus filhos representam admiração e minha maior realização é estar com eles. São presentes que me completam. Eu queria ser mãe, levar e trazer da escola, cuidar, ir para o cinema, cozinhar para eles”. Mãe de Ugo e Thainá, filhos por adoção, Soraya compara a maternidade com o ato de cuidar. “Ser mãe é colocar dentro de você um sentimento por uma pessoa que você decidiu cuidar para sempre, pelo resto da vida”, ressalta. “O domingo do dia das mãe significa muito pra mim. Contudo, não significaria nada sem eles. Eles dão sentido a minha maternidade. Eu sou mãe por que eles me fizeram mãe. Os nossos filhos são uma pedra preciosa no nosso caminho.
Com 57 anos, há 23 Soraya trabalha a causa da adoção. “Sempre fui muito sensível a causa da adoção. Sempre achei que deveríamos fazer alguma coisa por essas crianças. No casamento desejávamos ter um filho biológico e outro por adoção. Casei e descobri que não poderia engravidar. Adotamos duas crianças e entrei neste trabalho”, declara.
Ser mãe
Karina Berardo, 38 anos, ingressou na lista para adoção ao mesmo tempo que iniciou, com seu marido, tratamento para estimular a gravidez. Contudo, ao perceber a importância de adotar, decidiu permanecer somente na lista de pretendentes da Vara da Infância e Juventude. “O que eu desejo do fundo do meu coração é que as pessoas consigam entender que ser mãe é muito mais do que transmitir os genes e carregar na barriga. Isso tudo é maravilhoso e faz parte, mas não é a única opção”.
A advogada e mãe de Camila e João, cinco e seis anos, venceu toda forma de preconceito e passou a compreender a maternidade como um “caso de amor”. “Quando vejo que algumas pessoas têm preconceito com a maternidade por adoção, eu lembro que passei por isso algumas vezes na minha vida. Parei e vi que estava arrumando uma desculpa para a minha incapacidade”, comenta. “Meus filhos são negros, quando olham pra gente já veem que é filiação por meio de adoção. Eles são duas joias. São unidos e somos apaixonados uns pelos outros. O João é um lorde de tranquilo e ponderado. É o pai. A Camila é como eu, a mãe. É expansiva e inteligente”, sorri.
O zelo de mãe, que protege e cuida, faz Karina desejar sempre estar presente na vida dos filhos. “Quando eu penso que Camila passou um ano no abrigo, me da um frio na espinha. Me vem em mente: meu Deus, durante um ano eu não estive lá. Como mãe, queria que ela nunca tivesse passado uma noite sem o meu beijo”.
Por Frederico Beck e Guilherme Cavalli
Imagem: Pixabay – Domínio Público
