Os metroviários do Distrito Federal resolveram, em assembleia, manter, por tempo indeterminado, a greve iniciada na terça-feira (dia 3). Eles reivindicam perante o governo local e da empresa um reajuste salarial proposto em abril para entrar em vigor em outubro, uma revisão do número de cargos comissionados dentro da máquina administrativa e a contratação de concursados. A Justiça do Trabalho determina que seja mantido um efetivo de 30% em atividade, já que se trata de um serviço essencial para a população.
O diretor de Relação Sindical do SindMetrô-DF, Ronaldo Amorim, de 34 anos, disse que a data base do metrô é em abril. É quando eles fecham a conta coletiva de trabalho. Amorim relata que o governo disse que não poderia fazer uma reposição inflacionária no mês, então mandou uma proposta para a categoria dos metroviários. “Uma proposta tímida, inclusive, mas a categoria entendeu aquele momento. Ela acatou a proposta integralmente. Sequer ouve uma contraproposta” afirma o diretor. A proposta incluía o reajuste a partir de outubro, mas este nunca aconteceu. Amorim disse que a razão apresentada para isso é a Lei de Responsabilidade Fiscal.
O diretor indicou problemas que decorrem dessas faltas cobradas no pleito. De acordo com ele, existe um déficit de aproximadamente 800 empregados no metrô. Há falta nas áreas técnicas e administrativas, mas a maioria é na operacional. “É onde o usuário sente. Faltam agentes de segurança, agentes de estação”, relatou.
O tempo para o término da greve é indefinido. O metroviário em greve, Thiago Batista da Silva, de 31 anos, acha que vai demorar. Não porque os grevistas querem o pleito por muito tempo, mas porque não acredita que o governo e o metrô estejam preparados para atender às demandas. “Na verdade depende apenas do governo e do próprio metrô pra que acabe. Poderia acabar essa semana. Poderia acabar amanhã”, concluiu.
Tanto o grevista quanto o diretor de Relações falaram sobre o reconhecimento do TRT – Tribunal Regional do Trabalho – para a causa. Thiago afirma que não pode haver consequência legislativa negativa uma vez que a greve já foi avaliada como legal. Amorim acrescentou que houveram quatro pedidos de liminares para suspender a greve apenas no primeiro dia.
A recusa dessas liminares é uma indicação de que o TRT reconhece que a conduta do governo foi errada. Mas o metroviário afirma que ainda terá repercussão. Ele disse que após movimentos anteriores, cargas horárias foram alteradas com remoção de pontos. Algumas áreas tiveram aumento das horas e acordos relacionados às horas foram rompidos. “A gente luta agora na greve. Quando a gente voltar pro trabalho, continua a luta pelos nossos direitos”, explicou.
Transtorno
O orientador de estacionamento Robson de Oliveira, de 29 anos, pegava o metrô todos os dias para sair da Asa Norte, onde trabalha, para voltar para casa em Samambaia. Levava aproximadamente 45 minutos para fazer o percurso. Durante a greve, quando precisa substituir o metrô pelo ônibus, o trajeto toma o dobro do tempo. Uma hora e meia. “Eu prefiro pegar o metrô. É mais confortável, mais seguro e mais tranquilo. Não tem engarrafamento” explicou.
Robson é contra todas as greves que acontecem no momento. “Se o país quebrar, do que vai adiantar receber aumento?” reflete. Ele sugere um acordo posterior à crise, com garantia de que receberiam mais tarde. Thiago da Silva, por outro lado, falou como um acordo semelhante não foi respeitado pelo governo. “A gente aceitou a proposta do jeito que eles mandaram por entender que o governo passava por uma crise financeira. Só que eles não cumpriram o cronograma” finalizou sobre o reajuste apresentado pelo governo em abril.
Ronaldo Amorim fez questão de apontar que os metroviários disponibilizaram um efetivo para manter o porcentual mínimo de emergência para o funcionamento do metrô. O TRT definiu que pelo menos 30% da frota deveria ser mantida operacional. Mesmo com os empregados lá, o metrô fechou as portas no segundo dia da greve. “O metrô prefere punir a população, porque não consigo achar palavra melhor, fechando as portas”.
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Por Vinícius Brandão
Foto por Andréia Bohner, via Creative Commons