Mulheres vaidosas, fortes e que exalam inspiração. Esse é o perfil de algumas garis que, recentemente, participaram do concurso de Miss Gari 2017 no Distrito Federal. Com cerca de 20 a 35 anos, elas abraçaram a disputa como forma de melhorar a autoestima e quebrar tabus. Querem ser valorizadas, ter voz, serem vistas.
Atualmente existem cinco mil garis em todo o DF, entre homens e mulheres, segundo a organização do evento. Este ano, o concurso obteve 120 inscritos. Em 2015, quando ocorreu a primeira edição, foram apenas 12. A previsão é que haja, também, o Mister Gari a partir do próximo ano. E há planos para fazer parceria com outros estados para a realização do Miss Gari Nacional.
Para a vencedora, Ingrid Souza, 20 anos, a maior inspiração para se inscrever na disputa foi mostrar ao público que ainda existe preconceito com a profissão. “Porque tem pessoas que tem nojo da gente. Elas não vêm que por trás desse uniforme há mulheres lindas, mulheres que são mães, que têm filhos, mulheres como qualquer outra”, resumiu. Para ela, ser gari não é algo ruim. Há 10 meses no ofício, ela gosta da função, mas almeja voos maiores. “Claro que eu não quero ficar aqui para sempre. Não vou me acomodar, vou sempre procurar o melhor”, disse Ingrid. Para planos posteriores, a jovem guarda consigo o sonho de um dia se tornar médica.
Maria Eduarda de Barros, 19 anos, foi outra finalista do concurso. Ela está na profissão há um ano e viu no concurso uma forma de levantar a bandeira da mulher brasileira. No entanto, assim como Ingrid,, uma das maiores motivações para ter se inscrito no concurso foi a rotina preconceituosa que ela e as amigas de trabalho passam. “Me candidatei para mostrar à sociedade que uma mulher bonita pode, sim, trabalhar como gari. Estamos em uma profissão que sofre muito preconceito. Somos mulheres com sonhos, somos mães que correm atrás do sustento dos nossos filhos”, finalizou Eduarda.
Motivação
“Para ganhar essa competição, precisa de muita simpatia e carisma”, declarou Dinamara Ribeiro, 29 anos, gari há 3 anos e 8 meses. Ela e mais 29 mulheres ficaram entre as finalistas da competição. Dinamarca se orgulha com a profissão, apesar de passar por situações constrangedoras. “Não é porque trabalhamos na rua que somos piores que os outros. Somos seres humanos igual a qualquer um, como um advogado, um policial, um médico. Só muda nossa vestimenta e o que fazemos ao outro. Nós limpamos a cidade, assim como uma empregada doméstica limpa a casa das pessoas”, destacou.
Francisca Alves, de 33 anos, está no emprego há um ano e viu no concurso uma forma de motivação na vida. “Mostra a valorização do nosso trabalho e da imagem da mulher. Por trás de um uniforme, existe uma bela mulher”, comentou. Mas o sonho de Francisca é, um dia, tornar-se decoradora. “Vou me formar em design de interiores com certeza e, se Deus quiser, daqui a cinco anos você estará me entrevistando formada”, finalizou.
Para Saber Mais
O projeto, encabeçado pela fiscal de varrição, Fátima Dias, 48 anos, e organizado pelo Serviço de Limpeza Urbana do Distrito Federal (SLU), visa, principalmente, acabar com o estereótipo e o preconceito em torno da limpeza urbanística. O concurso deste ano aconteceu em 20 de abril, em Taguatinga.
Texto e fotos: Thiago Nunes
Sob supervisão da professora Isa Stacciarini