O Rap, para muitos, significa apenas uma palavra aleatória lançada ao ar que pouco faz sentido, mas tem uma rima por trás de suas composições. Para outros, o ritmo é história de vida e fuga para uma nova realidade. Em meio as construções musicais, há uma verdade intrínseca sobre o duro modo de viver nas periferias e a respeito da presença do tráfico de drogas nas comunidade.
Vencedor da batalha de Rap, Mc Sadrak, 25 anos, é compositor de um modo chamado free-style (estilo livre), que representa composições feitas em um determinado momento, como nas disputas das melhores competições. Na visão dele, as letras significam muito mais que apenas uma criação autoral. “Uma letra de Rap pode te induzir a mudar a vida de uma pessoa, assim como também pode curar a depressão e te fazer entender que Rap é vida. É gerar empregos, tirar as pessoas do tráfico e do crime”, comentou.
O rapper relatou que as boas composições dependem de um momento específico. “A partir dele, surgem as palavras que se encaixam e vai dando um contexto daquilo que estou vivendo”, disse. Para Sadrak entre os temas que mais o inspiram está o de manter a mente das pessoas abertas para novos ideais. “Desde quando aprendi a fazer Rap foi no intuito de dizer para as pessoas que nós podemos ser tudo aquilo que quisermos ser”, comentou o Mc.
Na visão do Mc Heitor Valente, 28 anos, o uso de determinadas expressões condiz com a mensagem que o cantor quer passar adiante quando compõe a letra. “O RAP, acima de tudo, é uma responsabilidade. O valor da palavra é muito importante. Ela é capaz de transformar, assim como é capaz de derrubar”, ressaltou. Segundo ele, há pessoas que mudaram um estilo social pelo uso da palavra. “Então, quando a gente vai escrever e cantar um RAP, precisamos trazer essa realidade”, reforçou.
Heitor não é um rapper do estilo free-style como Sadrak, mas respeita quem adota esse perfil. Na hora de compor uma música, no entanto, ele busca inspiração na família, nos amigos e nas pessoas que deseja influenciar. Entre os temas de maior ênfase nas composições dele estão assuntos sobre justiça social, cidadania e conduta.“Eu tenho uma filha e, quando vou escrever, eu penso muito no que ela vai ouvir, no que ela vai saber do pai dela”, finalizou.
O rapper e estudante de letras Mayk Silveira relata que tanto o uso da palavra como o significado dela são fundamentais para construir e compor uma letra de Rap. “O Rap em si é a ferramenta de um MC. Se não escolher a palavra certa ou não conhecer o significado a rima não vale de nada”, ponderou. A principal inspiração do rapper vem do desejo de uma mudança para sociedade. “Eu tento colocar nas minhas letras algo de uma mudança pessoal que vai fazer diferença no coletivo”, acrescentou.
Para o professor da Academia de Música de Brasília Musiflex e compositor de Rap gospel, Alexandro Araujo, conhecido como Alex Jordan, o principal papel das pessoas envolvidas nesse estilo musical é de mostrar a realidade das ruas. Para ele, o sentido que essas letras podem trazer é de demonstrar para uma sociedade uma realidade paralela. “O sentido da musicalidade deles é tentar chamar atenção para o que está acontecendo na realidade”, explicou.
Mas, além das composições tradicionais, há quem faça um estilo musical gospel. É o caso de Alex, que também é músico adepto ao estilo. Ele ainda comentou que o Rap, quando atacado pelo público evangélico, exclui muitas das vezes o uso do tema. “O Rap gospel abomina essa questão”, reforçou.
Thiago Nunes
Sob supervisão de Isa Stacciarini
