
A tenente Núbia Pelicano de Oliveira Araújo, 34 anos, entrou na Polícia Militar em 2012. Ela trabalha no Batalhão de Policiamento de Choque do Distrito Federal. Como policial, atua na área de segurança pública, isto é, na prevenção de crimes e flagrantes. “É uma profissão de risco ainda mais com uma legislação tão rigorosa como do Brasil e com o aumento da violência”, disse. Ela lamenta que parte da sociedade enxerga a atividade dela como de “vilã” da história. Segundo a tenente Núbia, as maiores dificuldades enfrentadas atualmente na profissão são a falta de recursos materiais, de efetivo e tecnologia, devido à “atual crise no país”.
A tenente também afirma que não viveu “os tempos difíceis”, já que está apenas há cinco anos na corporação, mas a evolução tem acontecido, porém de forma lenta. “A gente não pode fechar os olhos para essa situação, apesar de ter melhorado, ainda pode melhorar, precisa de recursos, administração e efetivo, muitas das vezes não depende só dela”. A representatividade das mulheres na Polícia Militar é hoje apenas de 10% em relação ao número de homens dentro da profissão.
Esforço
A diferença entre homens e mulheres na instituição vai além dos números. A queixa de que elas se esforçam mais do que eles para serem reconhecidas na profissão, que é concursada também é constante entre as policiais. A tenente afirma que a pressão para ser melhor que os policiais do sexo masculino faz parte da profissão. “Então digamos que você é tão bom quanto um colega seu, para os demais colegas você ainda não chegou ao patamar. Para você ser boa quanto eles, você tem que ser um pouco mais, para você ser excelente tem que ser bem mais”.
Além da pressão para ser a melhor dentro da instituição, elas sofrem preconceito do lado de fora por serem mulheres policiais. A maior parte dos homens associa a imagem da mulher como um ser frágil e criam estereótipos que um policial tem que ser um homem forte, grande e que vai gerar proteção para sociedade. Mas na realidade ambos são treinados e formados para exercer a mesma função e posto. As únicas diferenças existentes são física, de força, alojamentos e banheiros. Segundo a capitã Tainá Medeiros, de 31 anos de idade, nunca presenciou ou sentiu preconceito dentro da tropa ou por superiores. “Amo o que eu faço, nasci para ser policial e não trocaria por nada, pois a diversidade de atuações, funções, não nos permite ter rotina, temos sempre um dia diferente do outro”.

“Tentar ajudar”
O lado positivo da profissão segundo a tenente Núbia é a satisfação de ajudar o próximo e de tentar fazer a diferença, ou seja, quando se está lidando com uma doença muito séria, que é o caso da violência atualmente. A tenente vê a oportunidade de poder mudar a vida ou tentar ajudar o próximo de alguma forma, seja conversando ou aconselhando a pessoa que está sendo abordada e, muitas vezes ela não está em situação de delito ou infração.
Ela entende que, quando há situações de manifestações e o Batalhão de Choque está em confronto, as pessoas estão lutando pelos seus direitos. “Mas na maioria dos casos há pessoas que agem de forma inadequada ou extrapola, então começam a agredir as pessoas, então é aí que os policiais entram para cessar o conflito. A tenente Núbia afirma que é gratificante a sensação de controlar aquela situação sem tomar uma proporção maior. “É um remédio que precisaria ser administrado para poder cessar. Quando você vê que conseguiu resolver os problemas, pacificar, isso é muito bom. É a sensação de dever cumprido.”
A tenente também questiona que ser policial não é salvar vidas diretamente, como é o caso dos bombeiros. A profissão tem o papel de restringir a liberdade de uma pessoa que está sobre mandato de prisão e a mesma não estará satisfeita e, então a policia é julgada.
“Sabedoria”
O lado negativo da profissão quando entra na corporação é a dedicação exclusiva e a dificuldade em conciliar a vida profissional com a vida particular, já que a Polícia Militar tem uma legislação rigorosa, segundo a tenente exige que tenha sabedoria em administrar. ”Muitas das vezes você vai abrir mão de ficar com a sua família, não por uma escolha, mas você tem que está aqui no seu emprego”.
Segundo ela, são escolhas da profissão em si, ou seja, é sacrificante por si. O homem em geral tem a sua participação na sociedade e participação em casa, mas a mulher está sempre à frente de casa e da família. “Administrar os dois lados é complicado”, afirma a Tenente.
Lei
Recentemente foi divulgado o edital do concurso da PM/2018 o que gerou indignação das mulheres do DF devido ao número reduzido de vagas direcionado a elas. Segundo a Lei nº 9.713/1998 que limita a quantidade efetivo de policiais militares femininos é de até 10% do efetivo de cada Quadro. Segundo a Polícia Militar, o quadro ainda é intenso porque o efetivo para a PM/DF é de 18.673 policiais militares. No entanto, a corporação conta com apenas 10.038 cargos ocupados. Do total, somente 911 são mulheres.
“Como a lei prevê isso, não têm como a instituição mudar, eles teriam que alterar a lei. O administrador resolveu seguir então o que estava previsto na lei, agora se a legislação ela é preconceituosa ou se não é. Quando alguém pensou na época pensou nesse sentido, eu entendo que a atividade policial ela exige uma capacidade física e às vezes os homens vão atender melhor do que as mulheres, infelizmente” relatou a tenente Núbia.
Com a pressão para aumentar o número de vagas no concurso da PM/DF 2018, o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios aconselhou à Polícia Militar a retificação do edital do concurso para preenchimento de 2.024 vagas. Para o MPDFT, a limitação de apenas 50 vagas para mulheres, do total de 500 para o cargo de soldado, e a ausência de vagas reservadas para negros e pardos são consideradas ilegais.
Por Larissa Passos
Supervisão de Luiz Claudio Ferreira