
O Brasil tem10 milhões de pessoas surdas, segundo o último Censo de 2020, mas não há intérpretes disponíveis em todas as áreas sociais de convívio das pessoas. Uma prova e exemplo disso é a adversidade que deficientes auditivos têm para ser inseridos na cultura. A estudante de cinema, Bia Cruz, 19 anos, tem surdez, mas é oralizada. Ela conta que já deixou de ir a festivais de cinema por causa da falta de acessibilidade. “Os festivais de Brasília não têm acessibilidade nenhuma. Não consigo assistir aos filmes da minha região, de pessoas que vão futuramente trabalhar comigo”, afirma.
Segundo pesquisas realizadas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de surdos corresponde a aproximadamente 5% da população brasileira. Bia Cruz se preocupa em frequentar shows e festivais que tenham intérpretes. Contudo, apesar de ter somente 230 intérpretes atuando no Brasil, Bia nem sempre consegue acesso aos eventos, mas, quando ocorre, ela se sente representada. “Dá uma emoção muito grande o fato de as pessoas lembrarem que existem pessoas com deficiência. Lembraram de mim, como pessoas com deficiência auditiva, e colocaram pensando na gente, que poderíamos ter acesso à cultura tanto quanto qualquer outra pessoa”, comenta.
O Estatuto da Pessoa com Deficiência é responsável por assegurar e promover condições de igualdade, exercício dos direitos e liberdades fundamentais. A Lei 13.146, promulgada em 2015 pela vice-presidente Dilma Rousseff, garante o benefício da gratuidade destinada a acompanhantes de pessoas com deficiência.
Bia Cruz diz que em algumas ocasiões, precisa ser acompanhada pela mãe. “Às vezes preciso que ela me acompanhe em alguns eventos, como filmes, palestras e todos os eventos que envolvam microfone e auditório. Preciso ficar perguntando para quem está me acompanhando o que foi falado, caso perca alguma coisa”, conta.
Desafios da tradução
O intérprete Cleber Mariano, 35 anos, conta que existem diferenças entre uma conversação em libras e a tradução de músicas destinadas a pessoas surdas. “Um dos desafios da comunidade surda é que pessoas se autointitulam como intérpretes, tradutores, mas somente realizam o português sinalizado, que seria traduzir algo literalmente, sem estudar o repertório do artista ou sua discografia”, explica. ‘’A construção de uma música requer um mapa tradutório, onde é feito todo o entendimento daquela poesia, para então interpretar para uma pessoa surda”, completa.
O especialista também alerta que outro desafio é a falta de fiscalização no meio da comunicação. “Não há quem cobre o direito à participação efetiva na sociedade. Fatores básicos poderiam mudar essa realidade, como, por exemplo, a inserção de legendas descritivas em conteúdos audiovisuais, como telejornais e outros programas de televisão”, reforça.
Por Pedro José, Monique Del Rosso, Danyelle Danyelle Silva e Amanda Canellas
Supervisão de Isa Stacciarini