
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) mostram que o Brasil é o oitavo país onde mais se comete suicídio. Diariamente, 32 pessoas tiram a própria vida. “Isso ainda é um tabu”, afirma a psiquiatra Maria Cecília Ferreira. Diante das estatísticas e da mistificação acerca do tema, o Centro de Valorização da Vida (CVV) começou o projeto “Setembro Amarelo”, em 2014. Entidades vão promover, no dia 25 (domingo), uma caminhada para sensibilizar os brasilienses para a causa.
A iniciativa é acompanhada pelo slogan “Falar é a melhor opção”. Ela visa a conscientizar a população sobre o suicídio e incentivar a procura de ajuda. Além disso, o projeto é uma forma de pautar o assunto anualmente. A psiquiatra acredita que uma campanha como essa “melhora muito a abordagem, a consciência e a prevenção na nossa sociedade”.
Justamente por ser um tabu tão grande e pela falta de informação, a prevenção do suicídio é algo difícil no Brasil. O psiquiatra Custódio Martins relata que “existe um preconceito muito grande, dentro da família, em grupos de amigos e até mesmo dos profissionais médicos”.
De acordo com a psiquiatra Maria Cecília Ferreira, a melhor forma de prevenir o suicídio é tratar as doenças mentais. A cartilha de prevenção do suicídio da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) de 2014 mostra que mais de 90% das pessoas com tendências suicidas possuem algum tipo de transtorno mental. “Se a gente tratar a doença mental e estiver alerta, essas pessoas têm mais chance de conseguirem tratamento e prevenir a morte”, reforça.
Além disso, a psiquiatra explica que, estatisticamente, o que mais leva ao suicídio são os transtornos de humor, dentre eles a depressão e a bipolaridade. A segunda causa mais recorrente é o abuso de substâncias, como álcool e drogas. A terceira motivação é ocupada pela esquizofrenia e os transtornos psicóticos.
Voluntário: é preciso ajudar contra “panela de pressão interna”
“A pessoa que encontra o ambiente propício para desabafar fica livre daquela ‘panela de pressão interna’, que pode explodir a qualquer momento”, conta um voluntário do CVV, que preferiu permanecer anônimo. Ele é voluntário no centro há 22 anos e afirma que a motivação é ajudar as pessoas que precisam.
O trabalho do CVV depende da não identificação de ambas as partes, tanto de quem liga quanto de quem atende à ligação. O centro acredita que, com isso, a pessoa que procura ajuda se sente livre e disposta a falar sobre o que ela realmente sente.
Assim como os psiquiatras, o CVV também apoia a prevenção dos incômodos psicológicos. “Nem todas as ligações que nós atendemos são de iminência de suicídio. Normalmente, são questões do dia a dia. Mas nós sabemos que podem contribuir para que haja o suicídio”, relata o voluntário.
O entrevistado informa que qualquer um pode ligar para o centro (no número 141), em busca de ajuda. “A pessoa vai encontrar um voluntário disponível, querendo ajudar e fazer o melhor para que essa pessoa possa se libertar dessa situação desconfortável”.
O CVV trabalha com uma linha psicológica em que a pessoa que liga não recebe conselhos. Através do diálogo, a pessoa trabalha em suas emoções. “Ela mesma chega à conclusão do que é melhor para ela, sem a nossa interferência, em termos de conselho”, afirma o voluntário.
Por Isabella Cavalcante