Quarta-feira, dez da manhã. Torre Palace Hotel, Setor Hoteleiro Norte, zona central de Brasília. Entre os palácios oficiais e construções verticais, um prédio abandonado chama a atenção. Ao chegar mais perto, no entanto, é possível ver pessoas na parte térrea do edifício. Elas se misturam aos grafites que cobrem as paredes, mas os movimentos as denunciam. Em meio aos ruídos do centro urbano, um som é mais alto: o choro de um bebê. É Yasmin, de quatro meses, a terceira criança a nascer no hotel. A mãe, Jéssica Rodrigues, de 25 anos, ampara a filha caçula e conta os obstáculos que tem que enfrentar todos os dias. Mãe de outra menina, de três anos, a jovem é obrigada a pedir comida em restaurantes. “A dificuldade maior aqui é água. É também difícil conseguir emprego e, para conseguir alimento, a gente tem que pedir. Dependemos de doação, é ruim demais”.
Misturadas aos adultos e moradores de rua, duas crianças brincam por ali. Uma menina tem o cabelo penteado e trançado por uma mulher. As duas, no entanto, não possuem parentesco entre si. “Tenho sete filhos, que moram em Brazlândia”, diz Odimária Neres Ferreira, de 38 anos, também conhecida como Dilma. As rugas que marcam o rosto são reflexos físicos das preocupações vividas e as mazelas, recorrentes. “Tive depressão pós-parto, sofri muito. Tomo remédio controlado até hoje. Vivo orando e clamando para o mesmo não acontecer com meus filhos.” Ela carrega consigo um documento com as palavras “termo de compromisso de interdição”, no qual a mãe, Geny Neres, de 57 anos, fica responsável por todas as ações de Dilma. “Eu estou lutando é por ela. Ela precisa mais do que eu”, diz, ao olhar carinhosamente para a filha.
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Por Carolina Gama e Bruna Maury